Há 14 anos arredada da vitória na Taça de Itália, a Roma de Mourinho tinha responsabilidades na competição a um nível geral, ou não fosse a segunda equipa transalpina com mais vitórias na competição (nove), mas também devido à particularidade da eliminação da equipa da Taça na temporada passada, quando era outro português, Paulo Fonseca, o treinador. Foi a 19 de janeiro de 2021, ou seja, há um ano, que a Roma foi eliminada pelo Spezia. E pode até dizer-se que foi eliminada de duas formas: dentro de campo, por 2-4, e mesmo que tivesse vencido o jogo, os romanos seriam derrotados de forma administrativa, com o habitual 0-3.

Nesse jogo, no final dos 90 minutos havia um empate a dois golos, pelo que foi preciso recorrer ao prolongamento para decidir o vencedor e a passagem à eliminatória seguinte da Taça de Itália. Logo no arranque dos 30′ adicionais, Mancini e o guarda-redes Pau López foram expulsos, obrigando Paulo Fonseca a mexer na equipa. O português lançou então o guardião Fuzato, para repor o defensor das redes, mas também Ibañez. O problema é que Fuzato era já a quinta substituição da equipa da Roma, pelo que Ibañez já foi para campo fora das regras. O Spezia acabou por aproveitar a vantagem numérica para fazer mais dois golos, mas além da eliminação estava instalada a confusão no clube.

O erro inacreditável da Roma: Paulo Fonseca fez seis substituições (mais uma do que o permitido) e ficou com o lugar em risco

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No final, Paulo Fonseca, que viria a sair no fim da temporada passada (entrando no início desta José Mourinho), admitiu o erro e que este tinha de “ser discutido internamente”. Curiosamente, ou estranhamente, não era na altura o primeiro erro da Roma neste tipo de situações. Logo na 1.ª jornda da Serie A 2020/2021, a equipa perdeu com o Hellas Verona por ter ter utilizado o médio Diawara de forma irregular. O jogador da Guiné-Conacri foi titular mas não poderia ter jogado, já que estava inscrito na competição como Sub-22 e já tinha completado 23 anos.

Mourinho aponta o dedo à equipa após derrota: “Quando estás na m**** tentas levantar-te mas neste balneário há pessoas um pouco fracas”

Este era o fantasma que pairava sobre o Olímpico de Roma para a receção desta quinta-feira ao Lecce, da Serie B, no arranque de Mourinho na Taça de Itália, onde não jogava desde 2010, quando venceu a competição com o Inter no ano em que ganhou tudo. Venceu a final precisamente frente ao seu atual clube, então orientado por Ranieri e que ficou até no segundo lugar da Serie A nessa temporada. Com a Roma arredada desses locais da classificação até agora, a sete pontos dos spots de acesso à Liga dos Campeões, a Taça de Itália pode ser importantíssima para Mourinho (assim como a Conference League). Não uma tábua de salvação, mas um barco onde navegar durante mais algumas marés, com um comandante que tenta implementar as suas ideias. Até, digamos, escolher bem a sua tripulação.

Chegar, ver, marcar e vencer logo com um lugar na história: Sérgio Oliveira faz a estreia como titular e dá vitória a Roma de Mourinho

E um desses exemplos é bem recente, com a chegada de Sérgio Oliveira à equipa. Chegou, vestiu a camisola, foi à marca dos 11 metros e fez de penálti o único golo da Roma frente ao Cagliari, no regresso às vitórias da equipas de Mourinho. E na noite desta quinta-feira, sem Lorenzo Pellegrini, era ainda mais premente que o médio português continuasse o registo que foi elogiado pelo treinador português logo após a estreia: “Precisávamos de mais Sérgios Oliveiras, jogadores com esta experiência, que sabem o que têm de fazer em determinados momentos do jogo. Não é um maestro como Pirlo ou Pjanic, mas precisávamos de um jogador assim”.

Frente a um Lecce que está em 5.º na Serie B mas seriamente na luta pela subida ao principal escalão, havia ainda o somatório bastante positivo de Mourinho na Taça de Itália, com oito vitórias e uma derrota. A expetativa para a prova a eliminar era grande, tanto assim que há já uma semana que o Friedkin Group, que detém o clube, usou as redes sociais para a anunciar a “caça” à décima Taça de Itália.

À procura de enfrentar o Inter nos quartos de final, Lecce e Roma protagonizaram um início de jogo aberto, com os visitantes a não demonstrarem qualquer medo da equipa de Mourinho. Sobretudo através da ala esquerda pelo jovem Afana-Gyan, mas também pelo avançado Abraham, os romanos tentavam ferir o adversário da Serie B, mas sem grande sucesso.

O Lecce cheirou o sangue e viria a marcar em cima dos 15′, de bola parada. Canto marcado da esquerda e golo de Calabresi num cabeceamento. O lance ainda foi ao VAR para avaliar um suposto fora de jogo, mas estava mesmo feito o 0-1 e a surpresa instalada no Olímpico. Poucos minutos depois, aos 20′, o Lecce trocou de guarda-redes, saindo Bleve, lesionado, e entrando Gabriel. E foi este último a negar um chapéu de Afana-Gyan aos 27′. A Roma viria mesmo a empatar, aos 40′, devolvendo o golo sofrido num pontapé de canto. Foi marcado da direita, Abraham desviou e Kumbulla à boca da baliza confirmou o golo.

No segundo tempo é verdade que a Roma conseguiu uma melhor exibição. Mais rápida, mais intensa e muito cedo com uma bola no poste, por Zaniolo, que entrou ao intervalo. A melhor entrada foi concretizada aos 54′ por Abraham, num excelente remate cruzado de fora da área após passe de Zaniolo. Estava feito o 2-1 e consumada a reviravolta da equipa de Mourinho. 

Com Gargiula, do Lecce, a ser expulso com dois amarelos em dois minutos, o jogo ficou ainda mais tranquilo para a Roma, que ameaçou por várias vezes o terceiro golo, que surgiu naturalmente à entrada dos 82′. Num ataque rápido, Mkhitaryan serviu Shomurodov, que trabalhou bem sobre dois defesas e fez o 3-1.

A Roma ainda se assustou um pouco, mas acabou por cumprir bem a sua obrigação, num jogo desbloqueado por uma bola parada e um habitual Abraham. Segue-se o Inter na próxima eliminatória, o próximo obstáculo num caminho que pode acabar na 10.ª Taça de Itália.