Há cenas da vida real que são inspiração para filmes. E depois há cenas de filmes que parecem ser inspiração para a vida real. E o que se passou esta terça-feira em Itália, no jogo dos oitavos de final da Taça, parece ter sido diretamente retirado de uma qualquer comédia de Hollywood. O problema é que, para Paulo Fonseca, o filme pode acabar por ser de terror.

Ora, para contar a história é preciso recuar ao início do prolongamento da eliminatória entre a Roma e o Spezia, disputada no Olímpico. No final dos 90 minutos, o jogo terminou empatado 2-2 e seguiu para a meia-hora extra — onde, logo nos instantes iniciais, a Roma ficou reduzida a nove elementos devido às expulsões de Gianluca Mancini e do guarda-redes Pau López. De forma aparentemente natural, Paulo Fonseca recorreu ao banco de suplentes para colocar o segundo guarda-redes em campo, Daniel Fuzato, e ainda lançou Ibañez para tentar equilibrar a equipa. O problema? Fuzato era já a quinta substituição, a última permitida pelos regulamentos.

Em resumo: Paulo Fonseca fez entrar Veretout, Karsdorp e Carles Pérez no tempo regulamentar, Dzeko no início do prolongamento e Fuzato e Ibañez depois das expulsões. Feitas as contas, fez seis substituições, mais uma do que o permitido pelos regulamentos da Taça de Itália. O único que pareceu dar pelo erro foi Lorenzo Pellegrini, o italiano de 24 anos, que se aproximou da linha lateral para explicar ao treinador português que estava a realizar a sexta alteração. O mal, porém, já estava feito. Ibañez entrou para o lugar de Pedro e a partir desse momento, independentemente do resultado final, a Roma iria perder o jogo na secretaria. Até ao fim, o Spezia aproveitou a superioridade numérica, marcou dois golos, ganhou por 2-4 e eliminou a equipa da capital italiana dentro das quatro linhas.

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Depois do apito final, na conferência de imprensa, Paulo Fonseca reconheceu o erro. “Se há um problema, temos de discuti-lo internamente. E há um problema. Estamos a atravessar um momento difícil. Queríamos ir mais longe na Taça de Itália mas não me posso queixar da atitude destes rapazes. Temos de preparar o próximo jogo. As ocasiões que criámos durante os 90 minutos deviam ser suficientes para vencer”, explicou o treinador português, que não teve problemas em responder à possibilidade de estar com o lugar em risco no clube italiano. “Estou sob escrutínio desde o meu primeiro dia aqui. Na liga estamos onde queremos, tenho fé na equipa. Sempre que não ganhamos o meu lugar está em jogo, mas tenho de me focar no meu trabalho”, disse o técnico, recordando que a Roma está atualmente no quarto lugar da Serie A, acima da Juventus e em posição de apuramento direto para a Liga dos Campeões.

AS Roma v AC Spezia - Coppa Italia

Ibañez, o sexto jogador que entrou em campo contra o Spezia e que está no centro da discórdia

Ainda assim, a verdade é que esta não é a primeira vez que a equipa da capital italiana comete um erro deste género. Logo na primeira jornada da Seria A, a Roma perdeu a partida com o Hellas Verona de forma administrativa por ter utilizado o médio Amadou Diawara de forma irregular. O jogador da Guiné-Conacri foi titular mas não poderia ter jogado, já que estava inscrito na competição como Sub-22 e já tinha completado 23 anos. A sexta substituição contra o Spezia poderá agora ser o golpe final para Paulo Fonseca depois dos fracos resultados e exibições sofríveis nos últimos jogos: de acordo com a imprensa italiana, a Roma adiou o treino que estava marcado para a manhã desta quarta-feira e está a decorrer uma reunião de direção com a presença dos proprietários do clube, os irmãos Friedkin, naquele que poderá ser o primeiro grande desafio de Tiago Pinto como diretor desportivo dos giallorossi.

A Gazetta dello Sport, porém, lembra que a Roma tem nesta altura uma dívida de 400 milhões de euros ainda por saldar e que a frágil condição financeira do clube, que seria agravada com a necessidade de pagar uma indemnização a Paulo Fonseca, poderá ser um dos motivos para manter o treinador português durante mais algum tempo. O jornal italiano garante que a direção da Roma vai esperar pelo resultado do próximo jogo — no sábado, para a Serie A, curiosamente mais uma vez contra o Spezia — para tomar uma decisão definitiva mas deixa desde já três nomes que poderiam substituir o ex-técnico do FC Porto: Massimiliano Allegri, Maurizio Sarri e Luciano Spalletti.