Greta Ferušić Weinfeld, uma mulher que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz e ao cerco à cidade de Sarajevo durante a guerra da Bósnia, morreu esta terça-feira aos 97 anos.

A informação foi confirmada à Agência France-Press por membros da comunidade judaica de Sarajevo.

Ferušić nasceu em Novi Sad, na Sérvia, em 1924, numa família de origens judaicas. Em 1944, foi deportada com grande parte da família para o campo de Auschwitz, onde mais de um milhão de judeus foram mortos. Sobre a experiência naquele campo de concentração, Ferušić recordou em 2015 como “sobreviver fisicamente era o mais fácil”: “O que era importante era não se ficar louco”, contou à Associated Press.

Quando Auschwitz foi libertado, Ferušić pesava apenas 33 quilos. Três semanas mais tarde regressou a casa e tentou encontrar os seus familiares, mas todos tinham morrido no Holocausto.

Após a II Guerra Mundial, Greta Ferušić mudou-se para Belgrado e estudou arquitetura. Poucos anos depois, casou-se e mudou-se para Sarajevo. Ali trabalhou durante anos como professora na Universidade de Sarajevo, da qual acabou por se tornar reitora.

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Na década de 90, voltou a ser afetada pela violência da guerra. Com o rebentar do conflito na Bósnia, em 1992, Ferušic não quis sair de Sarajevo, que ficou cercada durante anos pelas forças sérvias. “Durante a minha vida já tinha sido forçada a abandonar a minha casa. Nunca mais o vou fazer”, explicou a própria sobre a sua decisão.

O cerco a Sarajevo, que resultou na morte de mais de dez mil pessoas, deixou uma marca nesta mulher: “Durante a II Guerra Mundial, toda a Europa estava em dificuldades e a sofrer, [mas durante a guerra da Bósnia], a apenas 100 quilómetros de distância, as pessoas levavam a sua vida normalmente, não reparando no que se estava a passar aqui”.

Haris Pašović, realizador responsável pelo documentário de 1997 Greta, reagiu à notícia da morte de Ferušić no Facebook: “Ela sobreviveu a tanta coisa boa e horrível”, escreveu o cineasta. “Obrigado Greta pela sua personalidade maravilhosa, sua humanidade mais profunda e sua amizade”.