Ser um tenista com nove títulos em torneios do Grand Slam não é para qualquer um. Ou, sendo esta história sobre dois britânicos que jogam juntos, não é para qualquer par. Os britânicos Alfie Hewett e Gordon Reid alcançaram na manhã desta quarta-feira (hora portuguesa) no Open da Austrália o nono triunfo seguido em Majors, na vertente de atletas em cadeiras de rodas, derrotando o argentino Gustavo Fernándes e o japonês Shingo Kunieda por 6-2, 4-6 e 10-7 e fazendo história.

Com esta vitória, são três títulos consecutivos em Melbourne numa senda que começou no ano de 2019, em Wimbledon. O triunfo faz com que Hewett, de 24 anos, e Gordon Reid, de 30, desfaçam o empate que tinham com as históricas Martina Navratilova e Pam Shiver, que conseguiram oito títulos consecutivos em pares femininos desde Wimbledon, no ano de 1983, e Roland Garros em 1985.

“É sempre bom ouvir falar nestes recordes mas, ao mesmo tempo, acho que apenas nos focamos no que estamos a fazer e a aproveitar as situações. Tentamos melhor e levar a nossa parceria adiante para sermos melhores no próximo torneio”, afirmou Reid, citado pelo The Guardian.

Quanto a Alfie Hewett, esta vitória dentro do court surge após uma grande conquista fora do mesmo, mas com implicações no ténis. Foi com “muitas lágrimas” que, em novembro, o tenista viu uma pena suspensa de dois anos ser anulada. Ainda não estava completamente decidido mas a mesma pairava sobre o atleta e afastaria o mesmo da modalidade. A possível suspensão acabou por ser adiada, primeiro pela pandemia e depois por recursos, sendo que em novembro ficou confirmado que continuaria a jogar.

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Em causa, no agora 19 vezes vencedor de torneio do Grand Slam, estava o motivo que o levava a jogar na vertente de cadeira de rodas. Ficou até bem patente na altura que iria retirar-se do desporto, depois da Federação Internacional de Ténis (ITF) ter decidido que a doença de Perthes, que afeta as ancas e claro a movimentação do atleta, não era suficiente para que este dependesse de uma cadeira de rodas, explica também o The Guardian. Em novembro, após novos testes, a ITF ajustou os critérios e Hewett, que ganhou 13 torneios do Grand Slam, confirmou que continuaria no court.

“Mal dormi na noite antes, com muitas, muitas lágrimas. A primeira coisa que queria fazer era dormir porque estava exausto. Mentalmente e emocionalmente foi uma experiência muito cansativa mas obviamente que foi a melhor”, afirmou o tenista na altura, acrescentando que apenas na altura da decisão percebeu o “quanto pesou” na sua pessoa. “Todos já sentimos na nossa vida algo a certo ponto que é tão pesado que quando se resolve parece mesmo que sai o peso dos ombros. Senti tanto alívio…“, afirmou.

“O meu agente vai matar-me, mas não quero saber”, afirmou Alfie Hewett enquanto recebia um grau académico honorário do Easton e City College, em Norwich. Frente a um grupo de alunos, afirmou de forma surpreendente: “Posso dizer-vos que haverá mais Alfie Hewett nos Grand Slams e nos Paralímpicos”.

Tinha razão e na Austrália prevaleceu a lógica e a qualidade: mais um troféu para guardar na vitrine.