Segundo o próprio, foram coisas que viu. A história recente mostra que as equipas europeias são sempre as favoritas no Mundial de Clubes, Abel Ferreira tinha mesmo falado de um confronto entre o David e o Golias mas Thiago Silva pedia “mais respeito pelo Chelsea”. “Dificilmente conseguem esconder esse tipo de coisas, com as redes sociais. Os vídeos rodam muito. Sabemos a força do Palmeiras com a torcida. Embora tenho escutado muitas coisas no Brasil, que o Palmeiras era o único favorito”, comentou o central. Terá visto uma ou outra exceção, fugiu à regra que todos seguiam. Seria essa uma forma de motivação para a final?

“Sabemos da responsabilidade que é jogar essa competição. Eu, como bom brasileiro, tenho procurado motivar a minha equipa. Mas a motivação tem que vir de dentro de cada um. E o Chelsea tem motivação de sobra para conquistar esse campeonato. Sabemos que vamos enfrentar uma pedreira. O Abel [Ferreira] tem uma equipa do Palmeiras super qualificada e na mão, conhece todos os jogadores. Vamos procurar fazer um jogo de alto nível”, acrescentou o internacional brasileiro do Chelsea, a última equipa a perder o encontro decisivo com um conjunto sul-americano há dez anos, na altura contra o Corinthians.

Esta era uma final especial para Thiago Silva, assim como era uma final especial para Jorginho, internacional italiano nascido no Brasil que na formação terá sido recusado pelo Verdão. E, apesar da opinião do central, era uma final que tinha a formação inglesa como favorita. No entanto, existiam três pontos distintos no que tocava ao Palmeiras em comparação com 2020 e que ficava também bem expresso na autêntica invasão de adeptos a Abu Dhabi: 1) sem grandes reforços, a equipa está bem mais rotinada e confortável na capacidade de perceber os momentos de jogo; 2) em termos físicos, nota-se que não existe tanto desgaste sobretudo nas unidades mais avançadas; 3) foi em encontros como aquele que se esperava diante do Chelsea, dando quase por completo a iniciativa ao adversário, que o Palmeiras se sente melhor (como se viu na final da Taça dos Libertadores). Eram estes pormenores que permitiam a Abel Ferreira sonhar com a surpresa.

“É por isso que o futebol é mágico, pode-se ganhar contra qualquer um. Toda a gente apostava na vitória do Manchester City na final da Liga dos Campeões e quem venceu foi o Chelsea. É claro que o Palmeiras pode ganhar ao Chelsea. Se falamos de questões financeiras, estamos fora. Temos de apostar naquilo que somos bons, na coragem em ter bola, impor o nosso jogo, fintar, driblar, dar mais do que um toque. Quero que os jogadores tenham a tranquilidade necessária para colocar toda a qualidade ao serviço do coletivo, porque assim a vitória vai ficar mais próxima. O nosso objetivo é ganhar e não podemos encarar o jogo de outra forma. Se eu quero ser o melhor, tenho de ganhar aos melhores. Uma coisa tenho a certeza: os jogadores sabem o que têm a fazer, vão dar o melhor, errar, acertar e, acima de tudo, desfrutar”, comentara.

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Nem mesmo um lapso de Pep Guardiola, treinador do Manchester City que considerou que o Chelsea era a melhor equipa do mundo por ter ganho a Champions mas apontou o River Plate e não o Palmeiras como a melhor da América do Sul apesar de os brasileiros serem bicampeões, mudou o discurso de Abel. “Admiro muito o Guardiola e acredito que neste momento não tenha grande tempo porque está focado em ganhar a Liga dos Campeões mas convido-o a ver um jogo e conhecer o Palmeiras. Ele contratou um jogador ao nosso clube [Gabriel Jesus] e se estiver atento vai ver que temos mais de grande qualidade. Como sei que ele gosta de conhecer pessoas novas, tal como eu, também deixo o convite para um almoçou ou um jantar comigo. Vai ser um gosto trocar umas ideias e ver se aprendo alguma coisa”, atirou entre sorrisos.

Se vai ou não haver um encontro, ninguém sabe. Mas, à semelhança do que tinha acontecido nas últimas finais, a diferença entre campeão europeu e sul-americano voltou a revelar-se grande na teoria e bem mais pequena na prática. O Chelsea foi melhor, teve muito mais bola e criou algumas oportunidades mas apanhou sempre do outro lado com um Palmeiras muito organizado em termos defensivos, a anular as virtudes dos ingleses, a tirar largura ao jogo e a fazer o possível para levar as decisões para as grandes penalidades. E assim seria, se não tivesse quase caído do céu um penálti de VAR que deu a possibilidade a Havertz de voltar a ser decisivo no momento chave que valeu uma derrota cruel aos brasileiros no final.

O encontro começou com todas as características que se previam – o que, para quem esperava muitas oportunidades e emoção era a pior notícia possível. Assim, os minutos iam passando com o Chelsea a ter muito mais posse e a pressionar em zonas adiantadas e o Palmeiras a baixar muito os blocos sem bola para tentar depois sair em transições. Mason Mount, de livre direto, fez o primeiro remate muito por cima (16′) antes de dois lances com Dudu em que os brasileiros conseguiram criar perigo: primeiro o ala conseguiu receber nas contas da defesa contrária, enquadrou-se com a baliza e tentou a meia distância por cima (24′); depois apareceu em velocidade na área na sequência de um raro movimento de Zé Rafael entre os centrais, não quis arriscar o remate de primeira na área e tirou já com muito menos ângulo ao lado (26′).

A entrada de Pulisic para o lugar do lesionado Mason Mount conseguiu mexer um pouco com o jogo, pelos terrenos que o americano pisava e pela maior capacidade de explosão em espaços curtos (além de mais um livre em boa posição que bateu mas por cima aos 37′), Rony teve ainda uma boa bola na profundidade que não conseguiu depois receber de forma enquadrada e o intervalo chegaria mesmo com o nulo apesar de duas ameaças em cabeceamento após canto do Chelsea por Thiago Silva e Rüdiger já nos descontos.

Algo teria de mudar para desfazer a tal “pedreira” do Palmeiras e o segredo estava nos avanços com bola no terreno de Kovacic, que originou o primeiro golo ao criar um desequilíbrio descaído para a esquerda antes de Hudson-Odoi cruzar para o cabeceamento sem hipóteses de Lukaku (54′). Perante as dificuldades que a formação brasileira mostrava nos movimentos ofensivos o encontro entrava numa zona mais cinzenta para Abel Ferreira mas um erro de Thiago Silva, a cortar com o braço na área num lance discutido pelo ar com Gustavo Gómez, abriu a possibilidade para Raphael Veiga empatar de penálti (64′). O mesmo Raphael Veiga ainda teve um remate com perigo e Pulisic atirou também a rasar o poste numa fase um pouco mais partida do encontro mas a final iria mesmo seguir para prolongamento e com a parte física a tornar-se um problema.

Para Chelsea e Palmeiras, o prolongamento foi pouco mais do que um suplício. Os ingleses empurraram de vez o adversário para o seu meio-campo, tiveram ainda mais posse mas o discernimento já não era o mesmo e só em lances pelo ar havia um relativo perigo junto da baliza de Weverton. Os brasileiros tiveram de ir trocando as unidades mais ofensivas mas perderam a pouca capacidade que tinham de esticar o jogo para surpreender o campeão europeu. À exceção de um remate em jeito de Timo Werner que saiu por cima da trave, os minutos iam passando em direção ao desempate por grandes penalidades até que uma mão muito à queima roupa de Luan assinalada pelo VAR valeu a Havertz um penálti para o 2-1 a apenas três minutos do final, já sem tempo para haver uma resposta da equipa de Abel Ferreira ao momento chave.