O jovem de 18 anos detido na quinta-feira por se suspeitar que poderia vir a protagonizar um ataque armado contra estudantes na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa esteve para ser presente ao primeiro interrogatório judicial sob a proteção de um defensor oficioso, nomeado pelo tribunal, mas a audiência acabaria por começar com algum atraso porque, entretanto, a família do jovem contratou o advogado Jorge Pracana para o defender.

“Este processo vai fazer história no país”, disse Jorge Pracana à saída da sessão, na qual a juíza de instrução determinou que o jovem deverá permanecer em prisão preventiva durante a investigação do caso. “É o primeiro, espero que seja o último. Estamos todos a inovar e a analisar isto. Será terrorismo? Não sei, há que apreciar“, continuou Pracana, afirmando aos jornalistas que irá recorrer da decisão relativa à imposição da prisão preventiva e recusando acrescentar mais comentários sobre o caso, as condições de saúde mental do jovem ou o contexto da família.

Jorge Pracana foi contactado pelos pais do jovem, naturais do concelho da Batalha, distrito de Leiria, para conduzir a defesa do suspeito — e foi justamente a distância a Lisboa que determinou algum atraso na nomeação de um advogado. “Quando chegou aqui, eu ainda não tinha sido contactado. Os pais não estão propriamente aqui ao lado do meu escritório e, portanto, houve necessidade de agilizar um conjunto de procedimentos“, explicou.

Inscrito na Ordem dos Advogados desde 1978, o advogado contratado pelos pais do jovem é um antigo dirigente do PSD, que tem uma sociedade de advogados com os ex-deputados sociais-democratas Marco António Costa e Francisco José Martins (a PMC — Jorge Pracana, Francisco José Martins, Marco António Costa e Associados — Sociedade de Advogados, com sede nas imediações do Marquês de Pombal, em Lisboa).

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Em abril de 2016, no 36.º Congresso Nacional do PSD, Jorge Pracana foi eleito para o Conselho de Jurisdição Nacional do partido, à época liderado por João Calvão da Silva. Pracana pertenceu àquele organismo dos sociais-democratas entre 2016 e 2018, durante o último mandato de Pedro Passos Coelho à frente do PSD. Nessa qualidade, em 2018, foi a Pracano que coube serenar publicamente os ânimos quando Alberto João Jardim disse que as eleições internas do PSD estavam viciadas em favor de Santana Lopes.

Antes dessa fase, Jorge Pracana tinha tido um outro caso mediático quando, em 2013, defendeu a atriz Sónia Brazão, acusada do crime de libertação de gases asfixiantes e de explosão depois de se ter tentado suicidar através da inalação de gás. Na altura, a atriz abriu deliberadamente os bicos do fogão do seu apartamento em Algés e consumiu álcool e estupefacientes, mas a libertação de gás deu origem a uma grande explosão que a deixou com queimaduras graves e em risco de vida — e causou danos em vários outros apartamentos vizinhos.

Jorge Pracana defendeu Sónia Brazão, contestou os pedidos de indemnização apresentados pelos vizinhos da atriz e conseguiu que a pena aplicada fosse menor à pedida pelo Ministério Público. Sónia Brazão acabaria condenada a três anos de prisão com pena suspensa, porque o tribunal deu como provado que a atriz se queria suicidar, mas não ficou provado que tinha noção de que poderia causar danos a outras pessoas.

Atualmente, Jorge Pracana é também deputado municipal em Oeiras pelo PSD.