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“Operação Maré Negra”. Um submarino e quatro episódios bem navegados entre Portugal e Espanha

Este artigo tem mais de 2 anos

“Operação Maré Negra” baseia-se na história verídica de um carregamento de droga que atravessou o Atlântico. Com Nuno Lopes e Lúcia Moniz, é para ver na Prime Video a partir de 25 de fevereiro.

Álex González, Nerea Barros e Nuno Lopes fazem parte do elenco de "Operação Maré Negra"
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Álex González, Nerea Barros e Nuno Lopes fazem parte do elenco de "Operação Maré Negra"

Álex González, Nerea Barros e Nuno Lopes fazem parte do elenco de "Operação Maré Negra"

Era uma vez um submarino de brincar que atravessou o Atlântico carregado de droga. Podia ser uma história contada às crianças na hora de dormir (se calhar trocando a cocaína por ursinhos de peluche), mas geralmente os relatos mais disparatados não são inventados, são mesmo reais. Este aconteceu em novembro de 2019 quando, no porto de Aldán, na Galiza, foi detetado pela primeira vez a tentar entrar na Europa um semi-submergível com mais de três toneladas de estupefacientes. Foi construído de forma artesanal, viajou durante mais de 20 dias, provavelmente desde a Colômbia, e fez qualquer coisa como sete mil quilómetros. Tudo aqui tinha potencial para ser transformado em ficção e foi isso mesmo que a Amazon Prime Video fez. “Operação Maré Negra” é a primeira série luso-espanhola do serviço de streaming, tem muitas caras conhecidas e florestas portuguesas que passam perfeitamente pela selva amazónica.

Os quatro episódios ficam disponíveis na sexta-feira, 25 de fevereiro, e provam que já não precisamos de usar constantemente frases como “o que se faz lá fora” e “o que se faz em Portugal”. Produzida pela espanhola Ficción Producciones e pela portuguesa Ukbar Filmes (além de ter coprodução da FORTA e da RTP), a série teve direito a meios de escala internacional, ponto.

Da realidade para o guião, assinado por Patxi Amezcua e Natxo López, mudou muita coisa — surgiram investigadores portugueses e narcotraficantes brasileiros, por exemplo — para que a narrativa se tornasse mais empolgante. Não é que o facto de alguém se enfiar numa embarcaçãozita feita por uns curiosos e se lançar a atravessar um oceano não seja loucura suficiente mas os produtores acharam que era preciso personagens que apelassem a várias realidades. E acharam muito bem. Como também fizeram muito bem em dividir a história em quatro partes:

  1. Quem é Nando (Álex González) e como é que entra no mundo do narcotráfico.
  2. Piscas os olhos e estás no meio da selva, rodeado de criminosos e de pacotes de droga.
  3. Ahoy, marujos, bem-vindos à travessia dos infernos.
  4. Milagre número um, o submarino chega ao destino sem se desintegrar; milagre número dois: Nando esconde-se da polícia e só é capturado ao fim de cinco dias.

(Esta parte, que corresponde de facto à realidade, podia ter tido só mais um bocadinho de suspense — o jogo do gato e do rato merecia mais uns minutos — mas, olhando para o painel geral, quatro episódios é o equilíbrio suficiente para dar factos e ter ação sem se arrastar demasiado.)

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[o trailer de “Operação Maré Negra”:]

A personagem principal é, como já se percebeu, Nando, um galego campeão de boxe amador que acaba seduzido pelo universo do dinheiro fácil. Baseia-se em Agustín Álvarez, o espanhol que protagonizou a verdadeira história e que no início de fevereiro foi condenado a 11 anos de prisão. Em todos os capítulos está explícito que “esta série é inspirada em factos reais”, tendo assim liberdade criativa. Por isso é que os dois equatorianos que fizeram parte da tripulação se transformaram num colombiano, Angelito (David Trejos), e um brasileiro, Walder (Leandro Firmino).

Se eu disser “Dadinho é o caralho” (desculpem o meu português), vocês respondem? Exatamente: “Meu nome agora é Zé Pequeno, porra.” Toda a gente sabe de cor esta frase de “Cidade de Deus” e eu quero acreditar (porque tem muito mais piada assim) que os guionistas de “Operação Maré Negra” também se lembraram disso quando a primeira coisa que puseram Leandro Firmino a dizer foi a asneira que não vou voltar a escrever. É que podem ter passado 20 anos desde a estreia do filme que o tornou conhecido, mas a voz do ator continua igualzinha. Firmino interpreta um mecânico que se vê empurrado para a travessia do Atlântico no último minuto. É aquele que podemos caracterizar como o pobre coitado. Está ali entre estupores e assassinos como podia estar noutro sítio qualquer, não faz mal a ninguém, só quer despachar o que tem a fazer e voltar para a família — diz muitas asneiras e pede ainda mais ajuda a Deus.

Quem devia estar no lugar ocupado por ele era Sérgio (Nuno Lopes), o português amigo de infância de Nando. Daquilo que conseguimos conhecer destes dois, dá para concluir que não são maus tipos, apenas fazem péssimas escolhas. Acenam-lhes com umas notas, festas, álcool, mulheres e cocaína e, sem darem por isso, estão no meio da floresta amazónica prestes a transportar três mil quilos de droga para a Europa. Nando é uma personagem enigmática e controlada. Já Nuno Lopes tem para nos oferecer um papel pequeno, mas que é uma pequena maravilha, um registo completamente diferente. Sérgio é simplesmente um miúdo em ponto grande. Tão depressa é o tipo mais animado da festa, que se entusiasma com a mínima coisa, como é a criança que acaba de fazer asneira da grossa e, numa última tentativa desesperada de fugir ao castigo, jura à mãe que nunca mais repete. “Peço imensa desculpa, senhor João”, diz de mochila às costas e com a pala do boné virada para trás, enfrentando o génio (talvez visto assim por ele próprio mais do que pelos outros) que projetou o submarino artesanal. “Tivemos medo. vimos o submarino e acagaçámo-nos todos, senhor João. […] esqueça tudo, saímos agora.”

Apesar de sabermos o desfecho — a verdadeira história terá direito a um documentário, “Operação Maré Negra: A Travessia Suicida”, disponível na Amazon Prime Video a 11 de março —, é impossível não darmos por nós a torcer por Nando e Walder

Do lado de lá está o tal João, interpretado pelo brasileiro Bruno Gagliasso. Esta é uma das opções que podia ter corrido mal em “Operação Maré Negra”, mas que acaba por funcionar naturalmente. As personagens portuguesas falam português, as espanholas falam espanhol. Uma frase em portunhol aqui, uma expressão abrasileirada ali e tudo faz sentido.

A série não tem pretensões de comédia, transpira ação e adrenalina mas deixem-me dizer que Gagliasso me fez rir. É que João é o rei do pedaço, que é como quem diz aquele metro quadrado da selva amazónica onde se prepara o carregamento de droga, que é como quem diz Bertiandos, em Ponte de Lima, onde estas cenas foram gravadas. À volta dele os desgraçados trabalham e transpiram para que esteja tudo pronto a tempo. Enquanto isso, João desfila engomadinho e sem um pingo de suor. E até faz um churrasco para os seus mais recentes convidados.

— Carne de jacaré.
— Crocodilo?
— Não, jacaré.

A dúvida é legítima para quem não é “tu cá, tu lá” com esta bicharada, mas o olhar de João é fulminante e, sabe-se lá como, isso acaba por ter muita graça. É que o homem parece o Professor Pardal, de camisa amarela e óculos redondos, mas não está efetivamente para brincadeiras.

Do lado bom da força está Carmo, inspetora do MAOC (Centro de Operações e Análises Marítimas que controla a entrada de estupefacientes na Europa), uma mulher metódica e calma interpretada por Lúcia Moniz. Divide o caso com um polícia espanhol e há aqui um muito discreto interesse amoroso que não chega a dar em nada.

Também não é para isso que aqui estamos. Estamos aqui para ver se aquela que parece uma missão suicida chega à costa e, apesar de sabermos o desfecho — a verdadeira história terá direito a um documentário, “Operação Maré Negra: A Travessia Suicida”, disponível na Amazon Prime Video a 11 de março —, é impossível não darmos por nós a torcer por Nando e Walder. Só para não se transformarem em carne de crocodilo. Quer dizer, jacaré. Desculpe, senhor João.

 
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