O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, disse essta quinta-feira durante uma conferência que Portugal “está mais bem preparado do que nunca” para enfrentar fenómenos como a seca e que nenhuma solução deve ser tabu.
Essa preparação, disse Nuno Lacasta, vem da “experiência” nesta matéria, mas também de um foco na “gestão da procura“, olhando para “a eficiência hídrica, a reutilização de água, o conhecimento das disponibilidades“, vertentes que são “muito recentes no nosso país”.
O presidente da APA falava durante a conferência “Escassez Hídrica em Portugal: Tendências”, organizada pela Ordem dos Engenheiros.
Referindo várias possibilidades, como a reutilização das águas residuais ou a dessalinização, o responsável admitiu que “todas as soluções têm de estar em cima da mesa” e “não pode haver tabu no seu estudo”.
Essas avaliações precisam de conhecimento sólido sobre os recursos hídricos nacionais, razão pela qual a APA encomendou o “Estudo de avaliação das disponibilidades hídricas presentes e futuras e aplicação do índice de escassez WEI+”.
O professor do Instituto Superior Técnico Rodrigo Proença de Oliveira, responsável por esse estudo, que se encontra em consulta pública, falou do impacto da diminuição da precipitação anual e do escoamento anual das bacias internacionais.
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Este projeto olhou também para os recursos hídricos de Espanha, “não com tanto rigor como em Portugal, mas com bastante rigor”, e é o “único estudo com metodologia única aplicada a todo o país”.
No que toca às soluções, António Carmona Rodrigues, professor da Universidade Nova de Lisboa, dividiu-as nas categorias da oferta, procura e gestão.
“As perspetivas do lado da oferta são negras”, começou por vaticinar, e “do lado da procura vão-se manter mais ou menos iguais”, embora haja um uso de água que mereça diferenciação, a produção de eletricidade, que pode ser feita com outras fontes.
Do lado da gestão, apontou o dedo à APA, referindo que é esta instituição quem atribui licenças de utilização e que há uma “necessidade de emergência de rever alguns contratos”.
Já na fase de debate, Nuno Lacasta respondeu que a atribuição de licenças usa agora uma “abordagem combinada” e que o estudo das disponibilidades hídricas vai permitir conhecer melhor os usos “e, em função disso, atribuir licenças”.
O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Aires, reconheceu que se está perante “uma ameaça climática” com “ciclos de anos em que não cai uma única gota de água” e, mesmo quando cai, é em menor quantidade.
No debate que aconteceu esta quinta-feira no auditório da sede da Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, e online, participaram também os especialistas Filipe Duarte Santos e Joaquim Poças Martins, o presidente da Confederação dos Agricultores Portugueses, Eduardo Oliveira e Sousa e Francisco Ferreira, em representação da Zero.