A certa altura da primeira parte, com o jogo pela margem mínima e posteriormente empatado, ainda chegou a dar ideia de que o Manchester United voltaria a surgir qual Fénix renascida no Etihad Stadium. Era essa também a esperança dos próprios adeptos no domingo, olhando para o histórico de deslocações a casa do rival nos últimos anos com Pep Guardiola do outro lado da barricada: seis jogos, apenas uma derrota, uma série de três vitórias seguidas no período mais recente, os dois últimos a deixar o melhor ataque da Premier League em branco. Afinal não. A equipa voltou a ser uma caricatura do que foi e do que pode fazer. E aquele que foi o resultado, uma goleada de 4-1, até teve números simpáticos para o que se passou no dérbi.

Deixar Kevin sozinho nunca é um bom filme (a crónica do City-United)

Aquilo que poderia ser um momento de redenção ou até um ponto de inflexão na época acabou por adensar todos os fantasmas que pairavam em Old Trafford. E a diminuição dos resultados que divide cada vez mais o balneário tornou-se numa multiplicação de problemas a que se somou a “lesão” de Ronaldo.

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Depois de não ter integrado a convocatória para o encontro com o Manchester City, o avançado português acabou mesmo por ficar de fora do jogo a par de Luke Shaw, Varane (neste caso, ambos com Covid-19) ou Cavani. “O Cristiano teve alguns problemas na anca na sexta-feira e não treinou desde então”, explicou Ralf Rangnick, treinador dos red devils, na flash interview antes do jogo. “Tenho de acreditar no meu departamento médico. O médico veio ter comigo na sexta-feira de manhã, antes do treino, e disse-me que Cristiano Ronaldo não podia treinar por causa de alguns problemas nos músculos da anca”, acrescentou depois, perante uma série de rumores que se foram levantando em torno da ausência do número 7.

A lesão tornou-se um caso. Poucas horas depois da goleada, o The Athletic escrevia que a ausência teria causado mal estar e estranheza no seio do plantel porque Ronaldo preferiu seguir de imediato para Portugal perante a impossibilidade de ir a jogo em vez de estar com os restantes companheiros numa partida que seria importante por tudo aquilo que representava. “Os colegas sentiram-se abandonados por um dos jogadores que consideram ser um dos líderes num jogo especial”, escreveu a publicação. Mais tarde, o As noticiou algo que veio adensar ainda mais a questão: o português não estaria lesionado nem indisponível para o dérbi com o Manchester City, sendo apenas desconvocado por opção da equipa técnica.

“Parece haver alguma outra coisa com a situação do Ronaldo. O treinador apareceu a dizer algo sobre um problema na anca, mas o homem é uma máquina e raramente se lesiona. Ainda assim, de vez quando, tem problemas na anca… Algo não bate certo”, comentou logo na altura o antigo capitão Roy Keane.

Esta terça-feira o capitão da Seleção voltou aos treinos, sendo que o próximo encontro realiza-se apenas no sábado e também com especial importância na luta pelo quarto lugar com uma receção ao Tottenham, mas nem por isso os problemas desapareceram do balneário do Manchester United: alguns parecem não perceber as opções do técnico alemão, muitos assumem que gostariam de sair no final da temporada.

De acordo com a imprensa inglesa, elementos como Rashford, Bailly ou Diogo Dalot não entendem todas as escolhas que têm sido levadas a cabo por Rangnick, ao passo que vários outros jogadores do plantel criticam a metodologia de treino que o alemão adotou desde a chegada (de forma interina) ao comando do United. E entre os visados há um que se destaca, Maguire, que não atravessa uma boa fase da época mas que parece ter lugar cativo na equipa. As divisões são de tal forma que haverá mesmo quem considera que Ralf Rangnick tem uma espécie de “cãozinho de estimação” (expressão utilizada após a goleada sofrida no Etihad Stadium) que depois faz com que outros não tenham também oportunidades de jogar mais minutos.

A BBC faz também um levantamento dos jogadores que poderão estar de saída de Old Trafford e a lista parece não ter fim, independentemente da escolha para o cargo de treinador na próxima época que estará ainda entre Mauricio Pochettino e Erik ten Hag: entre outros, Rashford sente que a sua carreira está a estagnar; Pogba, Lingard, Juan Mata e Cavani terminam contrato e não vão renovar; Mason Greenwood continua suspenso por tempo indeterminado e não deverá voltar; Dean Henderson, Eric Bailly, Anthony Martial e Donny van de Beek também não devem ficar; o Manchester Evening News avança que Diogo Dalot deverá rumar a outras paragens; e há ainda a situação de Cristiano Ronaldo, que apesar de ter contrato por mais dois anos já terá manifestado sinais de que pode sair de forma antecipada do clube.

“A resposta do Manchester United ao 3-1 foi embaraçosa. 92% de posse de bola para o City? Eles desistiram. Estão a andar pelo campo. Isto não chega. O marcador não é o problema, a resposta ao 3-1 é que é. Eles atiraram a toalha ao chão. O City jogou de forma brilhante na segunda parte mas o esforço e a intensidade do United nos últimos 20 minutos simplesmente não existiu. Não há queixas, o City esteve magnífico, principalmente na segunda parte. Mas como adepto do Manchester United, é embaraçoso. Os últimos minutos foram uma desgraça. O treinador será criticado pelas táticas mas os jogadores não correm. É inaceitável e vergonhoso. Os jogadores do United mostraram qualidade ao longo dos anos mas são o reflexo de onde está a equipa e onde está o clube. Estão muito atrás das outras equipas”, comentou na Sky Sports o também antigo capitão Gary Neville, entre as muitas críticas à última exibição da equipa de Old Trafford.

“Eu sinto, olhando de fora, que eles todos só querem ser companheiros. Ninguém quer pôr o seu nariz de fora. É como se estivessem num escritório: estão todos bem, mas não gostam uns dos outros e não vão dizê-lo uns aos outros. É como se um estivesse a fazer algo de errado ali, outro a estragar tudo na fotocopiadora, os emails daquele estão errados, mas para manter o navio firme não vão dizer uma palavra. Não vejo uma resposta, vejo a linguagem corporal deles ser horrível, a andarem de um lado para o outro, como se o mundo estivesse contra eles e eles infelizes. Estás a jogar pelo Manchester United, num dérbi. Quantos adeptos no estádio dariam tudo para estar no campo? É difícil”, referiu também o ex-internacional e capitão do Manchester United Rio Ferdinand no programa Vibe With Five, num canal do YouTube.