A Rússia admitiu esta quarta-feira “alguns progressos” nas negociações com a Ucrânia e reiterou não pretender ocupar o país vizinho ou derrubar o Governo de Kiev e acusou os EUA de terem laboratórios de armamento biológico no país, numa declaração da sua porta-voz diplomática.

Os Estados Unidos da América têm “programas de armamento biológico” na Ucrânia,  frisou Maria Zakharova, exigindo aos norte-americanos que revelassem todos os detalhes sobre o alegado armazenamento junto à fronteira russa.

A presença de laboratórios biológicos na Ucrânia sob a liderança norte-americana “muda completamente o papel de Washington” no conflito e “constitui um instrumento de ameaça direta à Rússia”, avisou Maria Zakharova.

“Isso muda completamente o quadro do envolvimento dos EUA no destino da Ucrânia: não é apenas um instrumento de influência, não é apenas um instrumento de contenção, é um instrumento de ameaça direta ao nosso país”, resumiu a russa em conferência de imprensa.

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Maria Zakhorava acusa mesmo o próprio o Ministério da Defesa dos EUA de orquestrar este programa diretamente. Há dias, um major-general russo, já alegava que os EUA tinham intenção de desencadear uma guerra biológica.
Por outro lado, a porta-voz sublinhou que o Kremlin preferia que a resolução do conflito com a Ucrânia fosse através de meios pacíficos.

“Em paralelo com a operação militar especial, estão também em curso negociações com o lado ucraniano para pôr fim ao derramamento de sangue sem sentido e à resistência das forças armadas ucranianas o mais depressa possível”, disse Maria Zakharova, citada pela agência francesa AFP.

“Foram feitos alguns progressos”, disse Zakharova  sem especificar quais.

Zakharova reiterou também que a “operação militar especial” — como Moscovo designa a invasão da Ucrânia lançada em 24 de fevereiro — não tem como alvo a população civil.

A porta-voz do ministério liderado por Sergei Lavrov repetiu que o ataque visa proteger as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, cuja independência foi reconhecida por Moscovo, e “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia.

Moscovo pretende também “eliminar a ameaça militar para a Rússia que vem do território da Ucrânia devido às atividades dos países da NATO e às tentativas de encher o país com armas”, disse a porta-voz, citada pela agência russa TASS.

Ainda na conferência de imprensa desta manhã, a porta-voz russa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova voltou a alertar os países do ocidente — Portugal incluído — para as consequências que o envio de armas e outros equipamentos militares pode trazer no futuro.

“A Rússia já reagiu. Foi dada a notificação de que os países envolvidos no fornecimento de armas ou no envio dos chamados voluntários para quaisquer esquemas experimentais neste campo seriam responsabilizados”, explicou o diplomata, recordando os alertas deixados por Vladimir Putin, na semana passada. “Esses países devem entender a responsabilidade que assumiram por isso? Os nossos diplomatas, embaixadores e embaixadas transmitiram a nossa posição.”

Citada pela agência Tass, a porta-voz russa diz que o ocidente deve estar ciente que os voluntários e mercenários enviados à Ucrânia “voltarão como combatentes hardcore” à Europa, recordando as centenas que entraram nas fileiras do Daesh, no Médio Oriente.
Delegações de negociadores da Ucrânia e da Rússia reuniram-se três vezes desde o início dos combates, na Bielorrússia, mas o resultado mais visível foi a criação de corredores humanitários para socorrer civis.

Um político bielorrusso ligado à organização das negociações admitiu esta quarta-feira que um quarto encontro poderá realizar-se depois da reunião entre Lavrov e o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, prevista para quinta-feira, na Turquia.

“Tanto quanto sei, as conversações terão lugar após uma reunião entre o ministro dos Negócios Estrangeiros russo e o seu homólogo ucraniano na Turquia”, disse Yury Voskresensky ao canal de televisão Rossiya-24.

Lavrov e Kuleba deverão participar num encontro à margem do fórum diplomático em Antalya, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlüt Çavusoglu. O encontro entre os dois ministros foi anunciado pelo Governo turco na segunda-feira e já foi confirmado pelas autoridades de Kiev e de Moscovo.

Kuleba saudou esta quarta-feira o encontro, mas considerou Lavrov como um dos “arquitetos da invasão russa” da Ucrânia, segundo a agência de notícias ucraniana Ukrinform.

“É necessário preservar a vida ucraniana, cidades ucranianas, mas falar não significa desistir, e, por isso, ninguém planeia desistir. Vamos ouvir o que Lavrov vai dizer e dar-lhe uma resposta decente”, afirmou.

A porta-voz diplomática russa Maria Zakharova disse que Lavrov parte esta quarta-feira para a Turquia, na sua primeira deslocação ao exterior desde a invasão da Ucrânia.

“Dado que a Ucrânia o confirmou, o encontro terá lugar, particularmente porque foi algo iniciado pela Turquia, que está a acolher o evento”, disse Zakharova.