Tinha um serviço letal, apresentava um estilo de jogo que em alguns momentos não era propriamente o mais ortodoxo, ganhou um Masters 1.000 de pares em Indian Wells batendo Roger Federer e Stanislas Wawrinka, foi a uma final da Hopman Cup com Elina Svitolina que perdeu frente aos australianos Nick Kyrgios e Daria Gavrilova, conquistou três torneios de singulares do circuito ATP (um 500, dois 250), atingiu os quartos do Open da Austrália por uma ocasião, chegou a ocupar o 13.º lugar do ranking. Aos 32 anos, reformou-se.

Alexandr Dolgopolov anunciou o fim da carreira como tenista profissional em maio de 2021, depois de uma derrota em Roma frente a Novak Djokovic, e foi muito saudado nesse momento também por ser um lutador. Um lutador que, ano após ano, dava o exemplo a todos depois de ter sido diagnosticado no início do percurso no ténis com síndrome de Gilbert, uma doença hereditária que afeta fígado e sangue e que provocava em muitas ocasiões, sobretudo quando tinha de viajar mais horas de avião, um maior desgaste e fadiga. Agora, essa ideia do lutador vai ganhar uma extensão, com o antigo jogador a juntar-se ao exército ucraniano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://twitter.com/TheDolgo/status/1497641153272983557

“Para não ter de responder a muitas questões, vou escrever aqui tudo de uma vez. Esta guerra apanhou-me na Turquia! Cheguei um dia antes de tudo começar e levei comigo a minha irmã e a minha mãe também. Porquê? Porque depois de ter visto várias informações das melhores agências mundiais de inteligência e informação e de ver também todo o desânimo que se vivia em casa, percebi que havia a hipótese de uma grande guerra, com ataques a Kiev e a todo o país. Perguntei a mim mesmo, o que aconteceria nos primeiros dias ou na primeira semana”, começou por escrever numa longa mensagem no Instagram.

“Percebi que iria haver um pânico generalizado, incluindo eu próprio, e que o melhor a fazer era deixar claro ao mundo a verdade sobre este inferno e recolher dinheiro para o nosso exército em vez de gastar todo o meu tempo a salvar a minha família. Em poucos dias, eu e os meus amados compatriotas mostrámos ao mundo o que se passava e ninguém num país livre teve dúvidas sobre a verdade e sobre quem é o agressor. Nessa altura já tinha começado a praticar tiro e tive a sorte de contar com a ajuda de um ex-soldado profissional durante uns cinco a sete dias. Ficaram contentes por ajudar-me assim que souberam qual era o meu objetivo e por isso agradeço a todos os nossos amigos turcos. Não me tornei um Rambo numa semana mas estou bastante confortável com armas e em cinco tentativas consigo acertar três na cabeça, a uma distância de 25 metros e num ambiente de treino, calmo”, prosseguiu, explicando a formação que recebeu.

“Enquanto treinava, fui também começando a tratar do meu regresso. Assim que soube que alguns rapazes estavam a pensar ir para a Ucrânia a partir dos EUA, começámos a nossa viagem. Levei comigo alguns coletes à prova de bala para nós e para o nosso exército, voei para Zagreb, trouxe tudo o que precisava, acrescentei alguns óculos de visão térmica e mais umas coisas que necessitávamos, e viajei pela Europa até entrar na Ucrânia através da Polónia. Agora, por fim, estou em Kiev. Esta é a minha casa e vou defendê-la! Com as pessoas que cá ficaram! Muito obrigado e o maior respeito por todas as pessoas conhecidas que estão no terreno. Muito respeito e muito orgulhoso pela forma como o país está unido perante tanta pressão de um ditador louco. A verdade está connosco, esta é a nossa terra! Vou ficar em Kiev até à nossa vitória e depois disso”, concluiu, numa longa mensagem com uma imagem de camuflado.

Depois do anúncio na sua conta oficial no Instagram, Alexandr Dolgopolov, de 33 anos, tem continuado bastante ativo nas redes sociais incluindo também no Twitter, não só com a partilha de algumas notícias sobre ataques da Rússia sobre civis em Mariupol mas também a responder a alguns comentários que não tem gostado de ver sobre soldados russos numa fase em que aumentaram os bombardeamentos nas zonas circundantes de Kiev, o que levou mesmo a um recolher obrigatório na capital durante 35 horas. “Antigamente eram cordas e raquetes, agora é isto”, escreveu sobre uma imagem onde mostrava algum do material com que anda entre armas, colete anti-balas, capacete e vários cartuchos de munições.