“Eu pago, isso não é um problema. A questão para nós é poder vir jogar. Existem coisas muito piores e muito mais importantes do que falarmos se temos de apanhar um autocarro, um avião ou outra coisa. Eu pago, não há problema”. Kai Havertz, o homem dos grandes momentos recentes do Chelsea que marcou os golos que tornaram os blues campeões europeus e mundiais, podia falar de tudo um pouco antes da partida em França com o Lille. Da vivência em Inglaterra, da campanha da equipa na Premier League, das ambições para uma eventual reconquista da Champions que nos últimos 30 anos aconteceu apenas uma vez com o Real Madrid, do facto de ter subido de rendimento com a chegada do compatriota Thomas Tuchel ao comando técnico. Ao invés, e à semelhança do que tinha acontecido com outros protagonistas, falou das viagens da equipa.

Receitas congeladas, lojas fechadas, contratos proibidos e a venda milionária em suspenso: o futuro do Chelsea pertence ao governo britânico

Desde que Roman Abramovich entrou na lista dos sete oligarcas que têm relações privilegiadas com Vladimir Putin e que foram alvo de medidas duras por parte do governo do Reino Unido que a vida do Chelsea mudou de forma radical. Pode jogar, pode ter os encontros transmitidos ficando com essas receitas congeladas, pode ter os adeptos com lugar de época em Stamford Bridge, pode (ou deve) pagar aos seus funcionários e pouco mais. E esse limbo que pode deixar o clube com os dias contados caso não exista permissão de venda ou uma licença especial para haver injeção de capital para tesouraria marca de forma incontornável a equipa.

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Uma luz ao fundo do túnel: Chelsea pode ter novo dono até ao final do mês (assim o governo britânico emita mais uma licença especial)

“Nós adoramos futebol e o que fazemos. Se tivermos um avião, vamos de avião. Se não tivermos um avião, vamos de comboio ou autocarro. E se não pudermos ir de comboio ou autocarro, eu conduzo uma carrinha de sete lugares. Independentemente do que aconteça, vamos estar lá em França… Claro que estou a brincar, sei que o assunto é importante, mas precisamos de ter esperança e de confiança. Estamos num grande clube e espero que haja uma luz ao fundo do túnel”, comentou o técnico Thomas Tuchel após o complicado triunfo do fim de semana contra o Newcastle carimbado apenas nos minutos finais. Ainda assim, e mesmo viajando de avião para a partida com o Lille, já há novos problemas no horizonte pelas restrições financeiras a que os londrinos estão impostos que vão desde as coisas mais práticas como a viagem para Middlesbrough no sábado para o jogo da Taça até outros casos mais caricatos como o facto de os equipamentos terem na mesma a publicidade da Three apesar do contrato estar suspenso… pelo dinheiro da sua estampagem.

“Não é uma questão de luxo, somos profissionais.” Chelsea não tem dinheiro para ir de avião até jogo da Taça de Inglaterra

Era neste contexto que chegava a segunda mão dos oitavos da Champions, com uma confortável vantagem de dois golos conseguida em Inglaterra frente a um Lille que não poderia desta vez contar com o lesionado Renato Sanches. E era por este contexto que uma passagem aos oito melhores da Europa se revelava tão importante na antecâmara do final do prazo para apresentação de propostas para a aquisição do clube. Foi isso que aconteceu, com 45 minutos falhados antes do empate nos descontos antes do intervalo que mudou por completo o jogo e a eliminatória antes do 2-1 por César Azpilicueta, um dos líderes do balneário que está prestes a tornar-se jogador livre se algo não mudar mas que é exemplo paradigmático de entrega ao clube.

Estando presente e com o equipamento alternativo que faz com que não passe despercebido, o Chelsea teve falta de comparência na primeira parte: um único remate em 45 minutos (Marcos Alonso, não enquadrado), um canto, dez faltas, mais posse mas sem saber o que fazer com a bola como se a cabeça estivesse em todo o lado menos ali. E foi isso também que o Lille soube aproveitar com mérito, chegando à vantagem após uma grande penalidade por mão na bola de Jorginho que foi aproveitada da melhor forma por Burak Yilmaz (38′) que já tinha ameaçado antes de livre (11′). No entanto, e a 30 segundos do final dos três minutos de descontos também explicados pela saída por lesão de Christensen – jogador que termina contrato e que já terá assinado pelo Barcelona –, tudo mudou: Jorginho teve um passe de génio a isolar Pulisic na área descaído sobre a direita e o americano atirou cruzado para o primeiro golo sofrido pelo Lille em casa na Champions.

O segundo tempo começava com esse rude golpe anímico nos franceses mas nem por isso o Lille desistiu de ir à procura pelo menos da vitória no encontro, começando logo cedo com mais um cabeceamento com perigo de Burak Yilmaz que saiu ao lado (52′). Aquilo que mudara era sobretudo a atitude do Chelsea em campo, bem mais fiel à sua identidade de jogo. E depois de uma fase de substituições forçadas na equipa da casa, foram mesmo os ingleses a passarem para a frente do marcador por Azpilicueta, a surgir de rompante na área para desviar de primeira um cruzamento tenso de Mason Mount na esquerda (71′).