Os sinos das igrejas serão o principal meio de alerta para avisar os habitantes da ilha de São Jorge, nos Açores, de que será necessário evacuar a ilha parcialmente ou na totalidade, devido à crise sísmica atualmente em curso, anunciou esta quarta-feira o presidente da câmara municipal das Velas, Luís Silveira, em conferência de imprensa.
“Está definido como é que as pessoas vão ser avisadas e informadas em termos de evacuação”, disse Luís Silveira. “Passa por fazê-lo através das redes sociais dos dois serviços municipais de Proteção Civil. Passa também por fazê-lo através da própria rádio local. Mas, havendo falhas de comunicação, e não havendo redes sociais a funcionar, nem a própria rádio, será feito — e não será feito só em alternativa, será feito em simultâneo — o repicar dos sinos nas freguesias.”
“Já está articulado com os presidentes de junta, com os párocos e com os responsáveis de tocar os sinos”, acrescentou o autarca.
De acordo com Luís Silveira, “os sinos serão, basicamente, a base mais sólida que nós temos para dar o sinal de saída da freguesia, ou no caso em apreço, das freguesias todas do concelho, se for caso de ser uma evacuação conjunta das seis freguesias”.
O presidente da câmara das Velas recomendou também a todos os cidadãos que “não se dirijam para as fajãs” — formações vulcânicas que consistem em pequenas zonas de terreno plano junto ao mar, no fundo das arribas, em que se situam muitas localidades de São Jorge e pelas quais a ilha é mundialmente conhecida.
“Sugerimos, neste momento, que todos aqueles que vivem na fajã, mas que têm, e são muitos, casa fora da fajã, que se desloquem para a sua casa fora da fajã”, afirmou Luís Silveira. Ainda assim, o autarca acrescentou: “Aqueles que não têm alternativa, e que a sua residência única é na fajã, não estamos ainda em fase de fazer evacuação.”
O que é certo, para já, é que todos os residentes de São Jorge devem estar preparados para uma evacuação iminente. “Que as pessoas possam ter a sua mochila preparada com os mínimos, nomeadamente com uma muda de roupa, com os seus medicamentos, com algum alimento base“, apelou Luís Silveira.
Meios aéreos reforçados na ilha de São Jorge
Luís Silveira revelou também que foram mobilizados mais meios aéreos para a eventualidade de serem necessários devido à crise sísmica na ilha, além de um navio. O autarca referiu que, caso serem necessários, estão “mais um helicóptero e um avião estacionados na Base das Lajes“, além do “navio que está a chegar à ilha de São Jorge”.
Está também a ser preparado um campo militar, que ficará localizado no concelho da Calheta, para o caso de ser necessário.
“Já está a ser preparado o espaço onde vão estacionar as forças militares”, disse o autarca, adiantando que o espaço ficará “dotado das condições necessárias, tais como água e energia, numa coordenação dos serviços municipais da Câmara Municipal da Calheta“.
“O plano que está definido é que as pessoas sejam colocadas todas na zona da Relvinha, Ribeira Seca, sendo que o centro de Saúde da Calheta será o de referência”, declarou Luís Silveira.
O presidente da Câmara Municipal das Velas adiantou também que será na Calheta que “vai ser feita a triagem das pessoas a alojar, a realojar e, eventualmente, a levar para fora da ilha, se chegar-se a esta dimensão“.
O autarca identificou como a “área mais crítica a zona entre as Velas e os Terreiros, onde residem três mil pessoas”, sendo que o concelho tem cinco mil habitantes.
“A parte norte será menos ou não será afetada, sendo o corredor privilegiado para as pessoas serem deslocadas para o concelho da Calheta”, referiu o autarca.
Na ilha de São Jorge, que se divide em dois concelhos (Velas e Calheta), vivem atualmente 8.381 pessoas, de acordo com os Censos de 2021.
A ilha está desde o último sábado a viver uma grave crise sismovulcânica, já tendo sido registadas centenas de pequenos sismos de magnitude baixa ao longo dos últimos dias. Cerca de uma centena destes sismos foram sentidos pelas populações da ilha, mas não houve danos, nem sequer “objetos tombados nas prateleiras”, como explicava na terça-feira ao Observador o presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores, Rui Marques.
O grande problema associado a esta crise não são propriamente os pequenos sismos que se têm multiplicado, mas a possibilidade de esta enorme desestabilização das placas tectónicas conduzir a uma erupção de grandes dimensões, comparável à crise que se viveu na ilha espanhola de La Palma no final do ano passado. Por esse motivo, as autoridades regionais e locais têm vindo a preparar-se para a eventualidade de um grande sismo ou erupção vulcânica, incluindo com planos de evacuação de toda a ilha.