“Eles estão a raptar os autarcas das nossas cidades. Mataram alguns deles.” Esta é uma das denúncias feitas pelo Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na entrevista à revista britânica Economist, publicada este domingo, onde também deixa fortes críticas à comunidade internacional e admite que possam ter de ser alcançados alguns “compromissos” em termos de território para “salvar vidas”. “Há cidades pequenas que foram destruídas, já não há pessoas nem casas, tudo o que resta é apenas um nome”, afirma o Presidente ucraniano. “Há cidades que já só existem como pontos no mapa”.

Zelensky aproveitou a entrevista para denunciar a atuação das forças militares russas, comparando o modus operandi relativamente aos autarcas com atos levados a cabo pelas “mesmas pessoas” e com “a mesma metodologia” que em Donbass em 2014, quando teve início o conflito no leste da Ucrânia.

O Presidente ucraniano quis ainda sublinhar o que considera ser a desumanidade do regime russo nesta guerra contra os seus próprios cidadãos: “Ele está a atirar os soldados russos como troncos para a fornalha de um comboio”, disse, referindo-se a Vladimir Putin — que descreveu como estando a viver num bunker mental “há mais de duas décadas”.

Nem sequer os enterram, os cadáveres são deixados na rua. Em várias cidades os nossos soldados dizem que é impossível respirar por causa do cheiro. É o cheiro de carne a apodrecer. É um pesadelo total.”

Mas nem só da descrição do horror da guerra se fez esta entrevista com uma das revistas mais prestigiadas do Ocidente. Nela, Zelensky aproveitou para deixar críticas a vários países europeus. Ao repetir o seu apelo para que seja fornecido mais equipamento militar à Ucrânia, como aviões e tanques, Zelensky foi confrontado pela jornalista com as declarações do Presidente francês, Emmanuel Macron, de que a França não irá fornecer armamento ofensivo. O líder ucraniano respondeu que essa decisão está a ser tomada porque esses países “têm medo da Rússia”. “Os que dizem isso primeiro são os que têm mais medo”, acrescentou.

Zelensky também distribuiu palavras duras contra a Alemanha, o país “mais pragmático de todos”. “Os alemães estão a cometer um erro atualmente. Acho que cometem erros frequentemente. O legado das relações alemãs com a Rússia demonstra isso”, afirmou o Presidente ucraniano. Concretamente, Zelensky disse que gostaria que algumas das sanções agora aplicadas à Rússia, como o cancelamento do gasoduto Nord Stream 2, tivessem avançado antes de forma preventiva, por considerar que tal poderia ter feito com que o Kremlin não avançasse para a invasão militar. “Teria dado mais tempo ao exército ucraniano para se preparar”, resumiu.

Embora nunca o dizendo abertamente, Zelensky abriu ainda a porta a possíveis cedências por parte da Ucrânia num acordo de paz com a Rússia. Apesar de afirmar que os ucranianos irão combater “até à última cidade” e que nunca aceitará decisões que “levem à desintegração do país”, o Presidente ucraniano admitiu que a vitória que venha a ser alcançada pode ser “temporária” e que é possível que se venham a fazer alguns “compromissos”. “A vitória é salvar o maior número de vidas possível, porque sem isso nada faz sentido. A nossa terra é importante, sim, mas no final de contas é apenas território”, afirmou.

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