O medicamento antiparasita ivermectina, utilizado como um tratamento alternativo contra a Covid-19, apesar das poucas evidências, não apresentou resultados na redução do risco de hospitalização, de acordo com um ensaio clínico publicado na quarta-feira.

O estudo, que comparou mais de 1.300 pessoas infetadas com o coronavírus SARS-CoV-2 no Brasil que receberam ivermectina ou um placebo, descartou o uso do medicamento como um tratamento Contra a covid-19, revelaram os autores do trabalho, citados pelo jornal New York Times.

A ivermectina é um antiparasita de largo espetro, incluído na lista de medicamentos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para várias doenças parasitárias.

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Em algum momento, será um desperdício de recursos continuar a estudar uma abordagem pouco promissora. Não há realmente nenhum sinal de benefício”, apontou David Boulware, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos.

Os investigadores tinham revelado parte do estudo em agosto, num evento online do National Institutes of Health, mas o conjunto completo dos dados foi agora divulgado pelo The New England Journal of Medicine.

“Agora que as pessoas podem inteirar-se dos detalhes e dos dados, esperamos que isso desvie a maioria dos médicos da ivermectina para outras terapias”, sublinhou Boulware.

Utilizada durante décadas para tratar infeções parasitárias, desde o início da pandemia, quando os investigadores começaram a utilizar milhares de medicamentos antigos contra a Covid-19, experiências em laboratórios sugeriram que a ivermectina podia bloquear o coronavírus.

Alguns médicos começaram a prescrever o medicamento contra a Covid-19, apesar do aviso das entidades responsáveis sobre a não aprovação do seu uso.

Em dezembro de 2020, Andrew Hill, virologista da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, estudou 23 ensaios clínicos com o medicamento e concluiu que este parecia reduzir significativamente o risco de morte por Covid-19.

E durante o segundo ano da pandemia a ivermectina ganhou popularidade.

Nos Estados Unidos, numa única semana de agosto as companhias de seguro gastaram mais de 2,4 milhões de dólares (cerca de 2,1 milhões de euros) em tratamentos com o medicamento.

Num primeiro momento, a investigação de Andrew Hill, divulgada no verão de 2021, continha estudos que revelaram falhas e um foi até acusado de ser fraudulento.

O investigador publicou outro mais tarde, em janeiro, focado em estudos menos propensos a serem tendenciosos e onde o benefício do medicamento tinha desaparecido.

No Brasil, os investigadores montaram um ensaio clínico conhecido como ‘Together”, em junho de 2020, para testar pacientes com Covid-19 com uma série de medicamentos amplamente utilizados, incluindo a ivermectina.

Num dos estudos, os investigadores encontraram evidências promissoras sobre um medicamento antidepressivo, fluvoxamina, que reduziu a necessidade de hospitalização em um terço e cujos resultados foram publicados em outubro no The Lancet Global Health.

No novo estudo divulgado esta quarta-feira a equipa revelou os dados da ivermectina, administrado entre março e agosto de 2021 a 679 pacientes, ao longo de três dias.

Os resultados foram claros: tomar ivermectina não reduziu o risco de um paciente com Covid-19 ser hospitalizado.