O nome de Eunice Muñoz “ecoa em cada espaço” do Teatro Nacional D. Maria II, escreve a instituição que acolheu a estreia da atriz, há 80 anos, numa longa mensagem publicada na página oficial da rede social Facebook.
“As palavras que não queríamos escrever. O dia que não queríamos que chegasse. Eunice Muñoz partiu. Hoje é o dia zero. Porque há um antes e um depois de Eunice, não só no Teatro Nacional D. Maria II, como também no teatro português”, prossegue a mensagem, acompanhada de várias fotografias da atriz, no papel de diferentes personagens, no palco da instituição — como Zerlina, de Hermann Broch, Fedra, de Racine, Mãe Coragem, de Brecht, e aplaudida no final de “Passa por Mim no Rossio”.
“Eunice Muñoz tinha apenas 13 anos quando pisou, pela primeira vez, o palco do Rossio”, recorda o teatro. “Mas, incrivelmente, a sua carreira já havia começado anos antes quando aos cinco anos começa a encarar o público na pequena companhia teatral ambulante da sua família, Troupe Carmo, da qual faziam também parte os seus avós e as suas tias. Na sua participação, costumava cantar alguns êxitos dos anos 30”.
“Alguns anos mais tarde, em 1941, acontece o momento que marca a vida profissional de Eunice Muñoz e que dá início à impressionante contagem dos seus 80 anos de carreira: consegue o primeiro papel no teatro profissional e estreia-se a 28 de novembro desse ano, em ‘Vendaval’, de Virgínia Vitorino, com encenação de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, na maior e mais prestigiada companhia daqueles tempos”, destaca o D. Maria.
Segundo o teatro nacional, “começava, a partir desse momento, uma das mais intensas e prolíficas carreiras da história do teatro português. No teatro, no cinema e também na televisão, do drama à comédia, Eunice Muñoz deu vida a dezenas de personagens, foi dirigida e contracenou com todos os grandes nomes, pisou os principais palcos de teatro, foi reconhecida pelos seus pares, aclamada pelo público, premiada com inúmeros galardões e agraciada com as mais altas distinções”.
“Oitenta anos de carreira não cabem em palavras. No Teatro Nacional D. Maria II, o seu nome ecoa em cada espaço. Eunice Muñoz deixa uma miríade de memórias. Hoje, relembramos com especial emoção o dia 28 de novembro passado, em que se assinalaram os 80 anos da sua carreira, e em que se despediu dos palcos, acompanhada da sua neta Lídia Muñoz”, lê-se na mensagem, sobre o seu desempenho em a “A margem do tempo”, do alemão Franz Xaver Kroetz, o derradeiro trabalho da atriz em palco.
Eunice Muñoz, que também deixa o seu legado “através de iniciativas como a Rede Eunice Ageas, projeto de digressão nacional que ‘amadrinhou'”, para que o teatro chegue “a locais onde a sua oferta é escassa ou irregular (…), deixa-nos o seu tempo, o exemplo da sua vida e o seu talento, que é já farol para as futuras gerações de artistas”, prossegue o Nacional.
Hoje é o dia zero. Amanhã, continuamos seguindo inspirados por ela, um dos nomes maiores do nosso teatro, da nossa história. Eunice Muñoz”, conclui a mensagem do Teatro D. Maria, que tem no encenador e dramaturgo Pedro Penim, o seu diretor artístico.
Eunice Muñoz morreu hoje, no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos.
O seu percurso, no teatro, soma mais de 120 peças, em perto de três dezenas de companhias. No cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de 80 produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia. Recebeu mais de uma dezena de prémios, seis condecorações oficiais, que culminaram na Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2021. Em 1990, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural.
O Governo anunciou hoje que vai decretar luto nacional, no dia do funeral da atriz.