O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reafirmou, esta segunda-feira, “o pedido de perdão, em nome da Igreja Católica” às vítimas de abuso no seu seio, e o “empenho em ajudar a sarar as feridas”.

“Às pessoas que passaram pela dramática situação do abuso reafirmamos o nosso pedido de perdão, em nome da Igreja Católica, e o nosso empenho em ajudar a sarar as feridas. Queremos deixar também uma palavra de profunda gratidão a quem já se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores, marcadas certamente por feridas profundas”, disse José Ornelas, também bispo de Leiria-Fátima.

Ao falar na abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que começou esta segunda-feira em Fátima, Ornelas deixou ainda uma palavra de encorajamento aos que “ainda procuram o momento mais apropriado para se referirem ao que nunca devia ter acontecido nas suas vidas, para que o façam”.

“Estamos convosco: acompanhamos-vos na vossa dor, queremos ajudar a repará-la e tudo faremos para prevenir situações como as que tiveram de enfrentar”, acrescentou, garantindo que “este tema não está encerrado e terá um lugar de destaque nos trabalhos” da Assembleia Plenária, “exigindo acompanhamento ativo e cuidado para pôr em prática processos e atitudes que defendam a integridade, a dignidade e o futuro de todas as pessoas, particularmente as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade, na Igreja e na sociedade”.

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“Como Igreja, sentimos o imperativo do Evangelho que anunciamos e que implica a promoção de uma cultura de respeito e dignidade que favoreça o são desenvolvimento de cada pessoa e ajude a sarar as feridas que permaneçam abertas”, frisou.

Na ocasião, José Ornelas destacou o trabalho feito pela Igreja Católica em Portugal, desde que em 2019 o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Vos estis lux mundi” (Vós sois a luz do mundo): “entre 2019 e 2020 todas as dioceses criaram as respetivas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e, em fevereiro de 2022, foi constituída uma Coordenação Nacional destas mesmas Comissões, para implementar procedimentos, orientações e esclarecimentos que possibilitem um melhor e mais articulado trabalho de todos”.

“Paralelamente, e por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada uma Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, com o objetivo prioritário de realizar um estudo que vise o apuramento histórico desta questão, assim como o de criar uma estrutura de ‘escuta’ a nível nacional”, acrescentou.

No dia 12 de abril, a comissão independente criada em janeiro para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa revelou que já recebeu 290 testemunhos válidos de vítimas e 16 casos já foram remetidos ao Ministério Público.

Na ocasião, o coordenador da comissão, Pedro Strecht, afirmou que os primeiros meses de trabalho permitiram já confirmar que “houve, no passado, múltiplos casos de abuso sexual” e destacou a posição de fragilidade das vítimas que as levou, na maioria dos casos, a não denunciar atempadamente os crimes.

Quanto aos agressores, a comissão não apontou números concretos, mas admitiu que a maioria dos abusos foi cometida por pessoas diretamente ligadas à Igreja Católica. Por outro lado, Pedro Strecht reconheceu que já foi possível identificar situações de ocultação ou encobrimento, incluindo por parte de bispos que continuam no ativo.

A metodologia de acesso aos arquivos diocesanos pela comissão liderada por Pedro Strecht deverá ficar definida na reunião que se iniciou, esta segunda-feira, em Fátima.