Os resultados eleitorais nas presidenciais francesas vão muito além dos 58,55% que valem a reeleição a Emmanuel Macron; e dos 41,45% que garantiram à derrotada Marine Le Pen a maior vitória de sempre da extrema-direita francesa. Uma análise microscópica de Mathieu Gallard, diretor de investigação da Ipsos — uma das maiores empresas de sondagens e estudos de mercado do mundo —, revela os detalhes dos resultados deste domingo.
Macron perdeu votos, Marine Le Pen ganhou
????????????️ Estimation des résultats en voix :
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
???? Macron : ~18,6 millions (-2,1 millions)
⚫️ Le Pen : ~13,3 millions (+2,7 millions)
⚪️ Blancs/Nuls : ~3,2 millions (-0,9 million)
⚪️ Abstention : ~13,7 millions (+1,6 million) pic.twitter.com/991YF3GS6A
Emmanuel Macron perdeu votos em relação às eleições que venceu há cinco anos: teve nesta segunda volta menos 2,1 milhões de votos do que os 20,7 milhões que havia conquistado em 2017. Em sentido contrário, e apesar da derrota, houve em 2022 mais 2,7 milhões de votos depositados para Marine Le Pen do que tinha havido há cinco anos.
Macron reeleito numas eleições com a maior abstenção dos últimos 53 anos
????????????️ Macron est réélu avec ~38% des suffrages des électeurs inscrits, contre 43,6% il y a 5 ans. C'est le plus bas niveau depuis Pompidou en 1969. pic.twitter.com/TyR7hsNJLh
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
As projeções apresentadas pelo diretor de investigação da Ipsos traduzem a percentagem de votos depositados nas urnas que foram confiados ao candidato. Mas, olhando para o universo de eleitores registados (mesmo aqueles que não votaram ou que votaram em branco/nulo), Emmanuel Macron não foi além dos 38,1%. Esta é a percentagem mais baixa desde 1969: examinando todas as eleições presidenciais desde 1965 (já na Quinta República e as primeiras eleições diretas para a presidência desde 1848), só Georges Pompidou teve resultados mais baixos — 37,5%.
Macron foi o que desviou mais votos dos perdedores da primeira volta
????????????️ Les reports de voix entre le premier tour et le second tour : un front républicain qui survit, mais sous une forme de plus en plus dégradée. pic.twitter.com/4s3z3Fy34d
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
A maioria dos eleitores que tinham votado em Yannick Jadot e em Valérie Pécresse desviaram os votos para Emmanuel Macron na segunda volta: 65% no primeiro caso e 53% no segundo. Houve ainda 42% dos eleitores em Jean-Luc Mélenchon que decidiram votar no atual Presidente, que ainda conseguiu roubar votos à extrema-direita: 10% dos eleitores que tinham escolhido Zemmour na primeira volta e 3% dos eleitores de Marine Le Pen preferiram Macron na segunda volta.
Marine Le Pen foi buscar votos sobretudo ao universo de eleitores de Eric Zemmour: 73% das pessoas que tinham escolhido o candidato do Reconquista agora escolheram, sem surpresas, Marine Le Pen. Para ela, este foi o único desvio acima dos 50% de votos entre os candidatos da primeira volta: de resto, só conseguiu convencer 18% dos eleitores de Pécresse, 17% dos eleitores de Mélenchon e 6% dos apoiantes de Jadot. Ainda assim, conseguiu roubar a Emmanuel Macron 1% dos votos que haviam sido depositados no incumbente na primeira volta.
A maior percentagem de abstenção nesta segunda volta verificou-se entre os eleitores que votaram em Jean-Luc Mélenchon na primeira volta. Quase um quarto (24%) dos eleitores que tinham escolhido Mélenchon não votaram e 17% decidiram votar em branco ou depositaram um boletim nulo — a maior percentagem entre todos os candidatos. A menor abstenção esteve entre quem votou em Macron na primeira volta — 1%, cinco vezes menos que no caso de Le Pen.
Le Pen ganha na faixa dos 50 anos, Macron ganha terreno nos jovens e idosos
????????????️ Le vote au second tour en fonction de l'âge, données @IpsosFrance. pic.twitter.com/cIolzfax4M
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
Marine Le Pen venceu as eleições na faixa etária dos 50 aos 59 anos, conquistando 51% dos votos. É o único grupo etário em que vence Emmanuel Macron, que conseguiu assegurar a vitória entre os mais jovens: o Presidente francês conseguiu 61% dos boletins de voto na faixa etária entre os 18 e os 24 anos; e 51% na seguinte, entre os 25 e os 34 anos. Mas a maior vitória do candidato do Em Marcha! está mesmo entre os mais idosos, na população a partir dos 70 anos, onde Macron conquista 71% dos votos. Em suma, Le Pen consegue ganhar terreno na meia idade, mas perde-a entre os mais jovens e depois entre os mais idosos.
Le Pen convence trabalhadores manuais, Macron conquista reformados e função pública
????????????️ Le vote au second tour en fonction de la catégorie socioprofessionnelle, données @IpsosFrance. Large domination de Macron chez les cadres et les retraités, mais Le Pen le devance nettement parmi les ouvriers et les employés. pic.twitter.com/V3lvdQnuiS
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
Marine Le Pen vence Emmanuel Macron em duas categorias profissionais: os chamados ouvriers (os trabalhadores manuais assalariados que exercem funções de produção numa empresa), onde conquista 67% dos votos; e os employés (funcionário que trabalha num escritório, administração, loja ou residência particular), com 57%. Já Emmanuel Macron vence sobretudo entre os reformados (68%) e a função pública (77%), mas conquistou também os profissionais intermédios (que ficam entre os employés e os ouvriers) e os trabalhadores independentes, com 59% cada.
Maioria acha que eleição de Le Pen causaria tensão e violência em França
????????????️Macron réélu avec 58,8% dans la dernière estimation @IpsosFrance. La principale clef de ce score : si l'image personnelle de Le Pen s'est en partie "normalisée", ~6 Français sur 10 pensent toujours que le RN est un parti raciste, nationaliste et dangereux pour la démocratie. pic.twitter.com/ajuNtRTKCo
— mathieu gallard (@mathieugallard) April 24, 2022
A maioria dos franceses (79%) acredita que, se Marine Le Pen fosse eleita, haveria “tensões” e “manifestações violentas” em França — ou pelo menos em algumas regiões. Só 6% discorda totalmente com essa interpretação. A crítica dirigida a Le Pen ou à União Nacional de que mais gente discordou por completo (21%) é a de que o partido representa um “perigo real” para a República. Mas no total de inquiridos que discordaram (parcialmente ou totalmente) de críticas relacionadas com Le Pen ou a União Nacional, há mais gente que julga que, a ser eleita, a candidata não teria de levar em conta as ideias mais extremistas de Zemmour.