Nuno Melo, líder do CDS-PP, reagiu à pretensão do Chega de ficar com a histórica sede dos democratas-cristãos, no Largo do Caldas, e assegurou que o partido vai continuar no edifício. “Só sairemos um dia se quisermos e não queremos”, esclareceu o líder do CDS. Contactado pelo Observador, o Chega não quis fazer comentários sobre a primeira posição pública do CDS relativamente ao assunto.

“Para o que importa, em relação a uma sede de que gostamos muito, com contrato válido e as rendas pagas, de que só sairemos um dia se quisermos, — e não queremos”, esclareceu o presidente do CDS-PP, afastando a hipótese de o Chega mudar a sede nacional da Rua Miguel Lupi, perto da Assembleia da República, para o Largo do Caldas.

Numa curta nota enviada aos jornalistas, no dia em que se realiza a primeira sessão da iniciativa “Conversas do Caldas”, Nuno Melo nunca referiu o nome do partido liderado por André Ventura, mas respondeu, nas entrelinhas, ao facto de o Chega ter tornado público que estava interessado no edifício e que iria fazer uma proposta diretamente ao Patriarcado de Lisboa.

“Todos conhecemos pessoas que apareceram de repente com maços de notas no bolso, sem que se percebesse sequer bem de onde veio o dinheiro”, ironizou Nuno Melo, numa altura em que o Chega elegeu 12 deputados para a Assembleia da República, o que aumentou exponencialmente a subvenção do partido. O eurodeputado democrata-cristão prosseguiu com um ataque subentendido ao partido de André Ventura: “Sabemos também que, infelizmente, só por si, dinheiro, nunca significou gosto e principalmente, educação e valores.”

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O novo presidente do CDS admitiu ter recebido perguntas sobre a sede do CDS no Largo do Caldas e justificou que a falta de respostas se deve ao facto de o motivo ser “tão abaixo de tudo o que é a decência na política” que “não mereceu nem merece comentários”.

Chega quer ficar com sede do CDS e vai oferecer até sete milhões de euros ao Patriarcado de Lisboa

Chega quer ficar com a sede do CDS

O Chega revelou, no último fim de semana, que está a avaliar a possibilidade de compra ou arrendamento da sede do CDS, no Largo do Caldas, em Lisboa, sendo que o partido de André Ventura está disponível para oferecer sete milhões de euros ao Patriarcado de Lisboa pelo edifício ou cinco mil euros pelo pagamento mensal.

Neste momento, a sede do partido situa-se na Rua Miguel Lupi, em Lisboa, um pequeno apartamento perto da Assembleia da República, mas o Chega — que passou a terceira força política nacional — ambiciona uma das mais históricas sedes partidárias do país.

Depois das eleições, o Chega ficou com a sala que pertencia ao CDS no Parlamento. O partido histórico da democracia portuguesa perdeu toda a representação parlamentar (os cinco deputados eleitos em 2019) e o partido fundado em 2019 por Ventura ficou com a sala para integrar os membros do Chega que passaram a fazer companhia ao líder, até àquela altura deputado único.

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A sede histórica do CDS que depende de um acordo a três

O histórico edifício situado Largo do Caldas, no centro de Lisboa, é um palacete com quatro pisos, anexos e um pátio. O Patriarcado de Lisboa, dono do edifício, já recebeu várias propostas de aquisição. Porém, o prédio tem-se mantido nas mãos do CDS devido a um acordo a três entre o partido, a Igreja Católica e a Câmara Municipal de Lisboa (que tomou posse administrativa do edifício para forçar a execução de obras consideradas necessárias e que os democratas-cristãos não tinham condições para realizar).

Após as obras, o CDS passou a pagar a renda (de cerca de 1.200 euros mensais) à autarquia, até que esta recupere o dinheiro investido no edifício. Com este valor de renda, o pagamento das obras à câmara demoraria cerca de 200 anos.

Depois de ter perdido a representação parlamentar nas últimas eleições legislativas, o CDS ficou numa situação financeira (ainda) mais difícil. Por ter passado a barreira dos 50 mil votos continua a receber uma subvenção, mas consideravelmente inferior ao valor que recebia até agora: cerca de 20 mil euros mensais.

O partido agora liderado por Nuno Melo tem atualmente uma dívida de cerca de 700 mil euros e, com as receitas regulares significativamente reduzidas, o partido poderá ter de se voltar para a venda do património, incluindo algumas das suas sedes espalhadas pelo país, além de um muito provável abandono do Largo do Caldas.

Nuno Melo, numa entrevista ao jornal i, um dia antes de ser eleito presidente do CDS, admitiu que a primeira coisa a fazer seria “conhecer ao pormenor as contas do CDS”, antes de “antecipar quaisquer medidas”. O eurodeputado referiu que o CDS tem “hoje receitas para metade das suas despesas”, o que significa estar numa “situação de pré-falência”.

Agora, na nota enviada por Nuno Melo, o presidente do partido esclareceu que o partido tem as “rendas pagas” e de o CDS apenas saíra quando quiser.