O número de abortos voluntários dos utentes já não vai ser utilizado como indicador para avaliar os médicos de medicina geral e familiar, apurou o Expresso junto do coordenador do grupo de trabalho que tinha avançado com essa proposta. O mesmo se aplica aos casos de doenças sexualmente transmissíveis: os casos de pacientes com DST também já não vão pesar na avaliação dos clínicos.
João Rodrigues continua a considerar “boa” a proposta do grupo de trabalho, em que a avaliação de um médico (e a sua remuneração-base) seria tanto melhor quanto menor fosse o número de utentes do sexo feminino (mas não masculino) que passasse por uma interrupção voluntária da gravidez ou que testasse positivo a uma infeção sexual. Os indicadores “são bons, mas não para hoje”: “Talvez daqui a dez anos”, anteviu em entrevista ao Expresso.
O Ministério da Saúde soube do recuo desta proposta pelo grupo de trabalho esta quarta-feira, mas a decisão dos seus membros foi tomada ainda na terça-feira. Segundo o coordenador da equipa, “a questão meramente técnica foi extrapolada para a parte social e comportamental” e teve de ser “rapidamente anulada” para não interferir com o exercício da medicina pelos profissionais de saúde, cita o Expresso.
Interrupção voluntária da gravidez poderá prejudicar remuneração dos médicos de família
Ao Público, João Rodrigues repetiu o argumento: “A partir do momento em que há médicos e enfermeiros, nomeadamente representantes sindicais e o bastonário que referiram que o indicador podia influenciar a prática médica ou de enfermagem, podendo limitar a mulher a seguir com a sua vontade de seguir com uma IVG, os indicadores tinham de ser retirados“.