O novo cabo submarino Equiano chegará esta semana a Portugal, mais especificamente a Sesimbra, e permite ligar o país à África do Sul, com ligações intermédias no Gana, Nigéria, Namíbia e Rupert’s Bay, em Santa Helena.

Na cerimónia de celebração da chegada do cabo de fibra ótica a Portugal, esta terça-feira, no Museu Marítimo em Sesimbra, António Costa salientou que “esta revolução industrial é a primeira para a qual Portugal não parte em desvantagem”.

O primeiro-ministro afirmou que Portugal é, “por razões geográficas, o ponto de ligação do continente Americano, Africano e Europeu”. Esta localização geográfica define, no entender de António Costa, a “posição global” do país na ligação “às novas autoestradas do século XXI”: a ligação submarina.

Os cabos transmitem som, imagem, mas têm uma mercadoria essencial com elevadíssimo potencial [para Portugal]: a transmissão de dados”, acrescentou desejando que “muitos dados cheguem” a partir da próxima semana.

No entender do primeiro-ministro, esses mesmos dados são o novo petróleo e se há atrativo para esse negócio em Portugal é que o país tem a “energia solar mais barata do mundo”.

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O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, também esteve presente no evento e, tal como António Costa, destacou a “posição geográfica privilegiada” do país. Embora “periféricos no quadro europeu, somos centrais no quadro atlântico”, salientou expressando a “honra muito grande” de partilhar um “marco na História, não apenas da Google, mas também para Portugal” com a chegada do Equiano.

O potencial da União Europeia ser “um hub global de dados” foi referido pelo ministro, que considera que Portugal tem a “oportunidade” de ser a “porta de entrada” para este negócio. Pedro Nuno Santos disse ainda que a “amarração” de cabos submarinos “é uma grande oportunidade para a digitalização”.

Google e a viagem “quase tão demorada como a de Bartolomeu Dias”

Uma “excelente ocasião para juntar pessoas” e um “sentimento de dever cumprido”. Foi desta forma que Bernardo Correia começou por falar da missão da Google relativamente à chegada do Equiano a Portugal.

O country manager da Google em Portugal brincou ao dizer que “esta viagem” da África do Sul até Sesimbra que demorou cerca de dois anos — e que termina esta semana — “foi quase tão desafiante e demorada como a de Bartolomeu Dias”. Uma viagem que teve “imprevistos”, uma vez que o cabo teve que ser “desenrolado com muito cuidado e muito carinho ao longo do caminho”.

A nova centralidade que o Equiano e que outros cabos trazem para Portugal são investimentos estruturantes”, disse destacando que a Google aposta também na criação de empregos, apoio à transição digital, às artes e cultura e ao empreendedorismo do país.

Olhando para Portugal como um “elo de ligação entre o continente americano e o continente europeu”, Bernardo Correia destacou também a “localização estratégica e absolutamente única” do país. O Equiano, que tem vinte vezes mais rapidez do que qualquer infraestrutura que anteriormente ligava Portugal e a África do Sul, é “essencial para melhorar o teletrabalho”.

Hoje, cabos como o Equiano entram pela janela e ligam Portugal a África com uma velocidade que nem Bartolomeu Dias conseguia imaginar”, acrescentou.

A infraestrutura da rede da Google abrange 19 cabos [20, a contar com o Equiano], liga 32 regiões e 97 zonas”. Portugal junta-se a este conjunto e passa a ser “um elo de ligação desta malha de rede e cabos submarinos”. Questionado pelo Observador sobre a segurança destas infraestruturas que considera “críticas para o futuro da sociedade para a qual a internet contribui”, Bernardo Correia disse que “cabe aos Estados, incluindo aos Estados atlânticos contribuir para a segurança dos cabos através das suas forças de Defesa”.

Por sua vez, também no Museu Marítimo de Sesimbra e em representação da Google, Dana Eaton disse que a chegada do cabo submarino ao país representa “anos de trabalho e dedicação” da empresa. A tecnológica está “comprometida com Portugal” ao apoiar empresas, organizações e parceiros para ajudar a transformar os negócios, garantiu a vice-presidente da Google Cloud. “O [cabo] Equiano permite aumentar a capacidade para garantir estabilidade de serviço”, acrescentou.

O Equiano chegou a Portugal. Vamos manter Portugal para sempre conectado ao mundo”, acrescentou agradecendo às parceiras Altice Portugal e Alcatel.

O papel da Altice e a diáspora que vai “comunicar” mais facilmente “com a pátria”

A Altice Portugal afirma ser o único operador que investiu em cabos submarinos em Portugal, sabendo que esta tecnologia tem vantagem de ter 2o vezes mais capacidade de rede (face à transmissão por satélite).

A CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, revelou que a estação de cabos submarinos da empresa em Sesimbra foi escolhida como o local para a amarração do Equiano em Portugal. A escolha, acredita, é uma forma de “reconhecimento dos engenheiros portugueses”, com o cabo a ser depositado no oceano com a colaboração destes trabalhadores.

Com aproximadamente 15 mil quilómetros, o cabo de fibra ótica correrá ao longo da costa Ocidental de África. O contrato de concessão para o mesmo já tinha sido assinado pelo Estado português e a Google em setembro de 2021 e tem uma vigência de 25 anos.

Os títulos de concessão foram assinados pela Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), em representação do Estado Português, e a Blue Path Technology Unlimited Company, mandatada pela Google.

Presente no fundo do mar, o cabo pretende alavancar o crescimento de internet global, ligando digitalmente ilhas, países e continentes. António Costa disse que com o Equiano “a diáspora passará a comunicar com mais facilidade com a pátria e os estrangeiros em Portugal vão comunicar mais facilmente e rapidamente com os países de origem”.

A conectividade dos cabos submarinos pode contribuir para um reforço de 500 milhões anuais ao PIB português nos próximos anos. O cabo Equiano que, chegará esta semana a Portugal, foi assim batizado em homenagem ao escritor nigeriano Olaudah Equiano, que foi escravizado em criança.

Portugal e Google assinam contrato de concessão do novo cabo submarino