2019. O Lyon era tricampeão europeu de futebol feminino, o Barcelona ainda perseguia a primeira Liga dos Campeões. Em Budapeste e com um hat-trick da inevitável Ada Hegerberg, as francesas confirmaram o favoritismo, chegaram ao tetra e golearam as catalãs, prolongando um percurso que ainda chegaria ao penta no ano seguinte. Para o Barcelona, poderia ter sido traumático — mas foi a melhor motivação possível.

“Esse foi o momento em que percebemos a que nível é que teríamos de chegar para ganhar a Liga dos Campeões. A partir daí, foi só uma questão de tempo, compromisso e trabalho. E é por isso que agora estamos aqui a defender o título, porque o merecemos. Não acontece de um dia para o outro, é preciso tempo. E acabou por aparecer, dois anos depois”, explicou Alexia Putellas, capitã e figura maior das catalãs, em entrevista aos órgãos oficiais do clube. O Barcelona reconstruiu-se, conquistou a Liga dos Campeões em 2021 contra o Chelsea e tornou-se a maior potência europeia — e este sábado, na final da Champions, tinha a oportunidade de vingar a goleada sofrida contra o Lyon e revalidar o título europeu.

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Do outro lado, porém, estava então um conjunto francês que foi pentacampeão europeu entre 2016 e 2020 mas que, na época passada, não foi além dos quartos de final. E Ada Hegerberg, recordista de golos na Liga dos Campeões, tinha a oportunidade de voltar aos dias de glória depois da lesão que a afastou dos relvados durante longos 20 meses. “Isto significa tudo para mim, sinto-me uma criança a ir para os treinos todos os dias. Há um ano, nunca teria imaginado estar nesta posição. Claro que sonhei sempre com o dia em que ultrapassava aqueles momentos difíceis mas é uma alegria tão grande. Todo o trabalho, todas as desilusões… Foi um caminho longo. Pessoalmente, estes últimos meses e semanas têm sido de enorme alegria só por poder jogar mais uma final outra vez”, disse a avançada norueguesa.

Ora, no Allianz Arena, em Turim, Putellas era naturalmente titular no Barcelona e Hegerberg era naturalmente titular no Lyon. As francesas abriram o marcador logo nos instantes iniciais, com Henry a bater Paños com um grande pontapé de fora de área (6′), e as catalãs demonstraram desde logo muita dificuldade para travar um ataque do Lyon que era muito móvel, rápido e descomplicado. Hegerberg aumentou a vantagem de forma natural, de cabeça e depois de um cruzamento de Bacha (23′), e a equipa de Sonia Bompastor ia dominando a final apesar de Carpenter até se ter lesionado, sendo substituída por Buchanan.

O pesadelo do Barcelona tornou-se ainda maior já depois da meia-hora, quando Catarina Macario fez o terceiro golo na sequência de uma assistência de Hegerberg (33′). Alexia Putellas ainda reduziu a desvantagem antes do intervalo, com uma finalização perfeita após um cruzamento de Hansen (41′), mas o Lyon acabou mesmo a primeira parte a vencer claramente o Barcelona. As francesas estavam a ser terrivelmente eficazes e, para além de se apresentarem quase perfeitas defensivamente, iam beneficiando de uma exibição brilhante de Selma Bacha na ala esquerda.

No início da segunda parte, Jonatan Giráldez Costas tentou ir rapidamente atrás do resultado e tirou Jenni Hermoso para lançar Oshoala, apostando depois em Crnogorčević e Martens ainda antes da hora de jogo. O Barcelona tinha mais bola, de forma natural, mas o Lyon ia gerindo a vantagem com muito conforto e sem nunca entrar em períodos de menor discernimento.

Até ao fim, já nada mudou: as francesas venceram as catalãs de forma clara e conquistaram a oitava Liga dos Campeões da própria história, a sexta nos últimos sete anos, vincando uma superioridade e uma hegemonia a nível europeu que não tem qualquer paralelo. Este sábado, a experiência do Lyon em finais ganhou ao potencial favoritismo de um Barcelona que chegava com a bagagem de ser a melhor equipa do mundo — e Putellas vai ter de continuar a correr atrás daquilo que Hegerberg vai alcançando.