Conseguiu aguentar a primeira separação, descolou no segundo ataque, não aguentou o reboque que podia ser Pozzovivo. A paragem em Turim que marcava uma série de chegadas a subir com um dia de descanso pelo meio e uma só etapa para rolar a meio da terceira e última semana do Giro fez mais alguns cortes entre os primeiros classificados. No entanto, e olhando de forma fria para a classificação geral, o impacto a nível de classificação geral a não ser colocar Richard Carapaz na prática como favorito e confirmar Jai Hindley na teoria como adversário não foi tão grande como se chegou a pensar nos últimos quilómetros.

A melhor etapa do Giro trouxe mexidas: Yates vence em Turim, Carapaz fica com a rosa, João Almeida ainda em 3.º

Simon Yates tentou limpar os mais de 11 minutos de atraso no Blockhaus que chegaram mesmo a colocar em equação a continuidade na prova (também pelos problemas num joelho e pelo calor) e conseguiu, com a vitória na etapa que ainda assim deixou o britânico ainda muito longe das decisões. Nibali mostrou que está forte, chegando com Carapaz e Hindley. Pozzovivo conseguiu reduzir e muito a distância para os da frente na parte final. A seguir, chegou João Almeida. Ao seu ritmo, a mostrar que pagou sobretudo pelo tempo que foi perdendo nas descidas, sem descolar muito dos dois primeiros (os que têm de facto as equipas mais coesas para defender líderes, embora a Ineos tenha ficado muito para trás em Turim) e a ganhar ainda mais 12 segundos à dupla da Bahrain que resistiu a males maiores com Mikel Landa e Pello Bilbao.

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“Estou satisfeito, ainda que não tivesse sido fácil ter sido obrigado a perseguir várias vezes mas foi difícil para todos e amanhã [domingo] é outro dia. Apesar de tudo, estou feliz. São apenas 30 segundos, não é uma diferença muito grande e tudo é ainda possível, há que continuar a lutar. Quem está mais forte? É uma boa questão. Vamos ver o que conseguimos nos próximos dias. O [Jai] Hindley está forte, mas o Richard [Carapaz] pareceu mais descontraído. Hoje foi o Yates que venceu a etapa”, comentou depois da sexta posição na chegada a Turim o corredor português, em declarações ao Eurosport. Contas feitas, antes de mais uma chegada a subir numa tirada mais longa entre Rivarolo Canavese e Cogne (178km), o chefe de fila da UAE Team Emirates tinha 30 segundos de atraso em relação a Carapaz, 23 segundos de Hindley e vantagens de 29 segundos ou mais sobre Mikel Landa, Pozzovivo, Pello Bilbao e Emanuel Buchmann.

Seguia-se mais uma etapa dura, com duas descidas muito técnicas como as que na véspera tinham feito diferença pela negativa a João Almeida e montanha que poderia novamente promover cortes. No plano mais tático, e admitindo que Carapaz e Hindley poderiam guardar as grandes decisões para a terceira semana, era da Bahrain que poderiam chegar os principais problemas para o português, até por serem dois corredores nos lugares cimeiros com a influência que se viu na chegada a Turim. Por isso, e mais uma vez, o quarto classificado de 2020 e sexto de 2021 teria de manter o nível que tem sido tão elogiado.

“Ele não teve um dia bom no Blockhaus, até de manhã quando estava a tomar o pequeno almoço comigo no hotel disse-me que não se sentia muito bem. Depois na reunião de equipa no autocarro falámos também da agressividade dessa subida e disse que não se sentia em condições para isso. Mas além de ser alguém tão tenaz, sabíamos como inverter a corrida num dia com tantas dificuldades mais a favor dele. Ele sabe como sofrer. Nessas áreas, a forma como é tenaz e como consegue sofrer, acredito que ele é um dos melhores corredores da atualidade”, referiu ao Cyclingnews Joxean Fernández Matxin, manager da UAE Team Emirates. “É um lutador, nunca desiste. Os outros podem ir e nunca entra em pânico, mantém o seu esforço e o seu ritmo como consegue para chegar ao fim”, acrescentou o companheiro Rui Oliveira.

Ainda assim, a primeira fuga do dia foi quase como um mini pelotão a ir para a frente tentar a sua sorte, num total de 27 corredores onde estavam corredores como Mathieu van der Poel, David de la Cruz, Hugh Carthy, Koen Bouwman, Sam Oomen, Ivan Sosa, Thymen Arensman (o único que poderia ter impacto na geral), Ciccone, Davide Formolo ou o português Rui Costa. Koen Bouwman tentou descolar e foi o primeiro a passar pela contagem de montanha inicial em Pila-Les-Fleurs, onde Rui Costa ficou como oitavo. Mais tarde, van der Poel, Bouwman e Tusveld conseguiram descolar, tendo uma vantagem de mais de um minuto sobre os restantes fugitivos e de seis minutos sobre o pelotão onde seguiam todos os candidatos que foi anulada por mais uma parte do grupo que entretanto se tinha tornado perseguidor.

Buitrago, Pedrero e Ciccone conseguiram na segunda passagem de montanha assumir a corrida, tendo na perseguição Hugh Carthy e Rui Costa, que não conseguiu seguir na roda do corredor da EF Education e ficou a 15 segundos dos primeiros. A corrida mexia na frente e também lá atrás, com Guillaume Martin a estar num outro grupo que partiu do pelotão onde estava João Almeida, Carapaz, Hindley e companhia. Mas as notícias em torno dos corredores nacionais continuavam a ser boas e, na zona de descida, Rui Costa voltou a conseguir colocar aos da frente, aspirando a um triunfo numa grande volta perante os mais de 5.30 minutos de vantagem em relação ao pelotão quando a meta estava só a 20 quilómetros.

Estavam a chegar as decisões e foi aí que Ciccone atacou, levando ainda consigo numa fase inicial Buitrago e Hugh Carthy mas ganhando depois a frente isolada com uma vantagem crescente que superou um minuto num pequeno lapso. Já a mais de 23 minutos da liderança, o italiano da Trek, uma das desilusões na etapa do Blockhaus, vestia um pouco a capa de Simon Yates na véspera e dava uma demonstração sem que com isso mexesse na classificação, o que fez com que o pelotão mantivesse o seu ritmo a mais de sete minutos e meio do transalpino. Ciccone ganhou com 1.31 de avanço de Buitrago, 2.19 de Pedrero e 3.09 de Hugh Carthy, seguindo-se Tusveld, Covili, Tesfatsion, Mollema, Leemreize e Martin, a fechar o top 10.

O pelotão chegou quase oito minutos depois de Ciccone, sem alterações de maior na geral individual a não ser a entrada de Guillaume Martin no top 10 por troca com Alejandro Valverde. Ainda assim, e devido a um sprint que provocou um ligeiro corte entre os primeiros, Carapaz conseguiu ainda ganhar dois segundos à concorrência, tendo agora nove de avanço sobre Hindley e 32 sobre Almeida, terceiro da geral individual antes do último dia de descanso com os mesmos 29 segundos de vantagem sobre Landa e 31 em relação a Pozzovivo. Seguem-se Pello Bilbao, Buchmann, Nibali, Juanpe López e Martin.

Em atualização