Se não foi perfeito, andou lá perto. Os guarda-redes estiveram fantásticos dos remates de nove metros aos livres de sete metros, a defesa foi uma autêntica muralha a colocar grande pressão nos principais artilheiros contrários, as saídas rápidas quando possível resultaram na perfeição, o ataque organizado entre a aposta na primeira linha e a exploração do jogo com o pivô esteve muito afinado. O encontro era histórico e o Benfica não ficou em nada atrás da sua importância, fazendo a melhor exibição da época e mostrando uma versão internacional que fazia sonhar com a inédita conquista nacional da Liga Europeia da EHF.

Um dia histórico com uma exibição histórica: Benfica goleia Wisla Plock e está na final da Liga Europeia de andebol

Seguiam-se os 60 minutos mais importantes da modalidade no clube da Luz numa Altice Arena a criar um ambiente também ele atípico na dimensão nacional frente aos alemães do Magdeburgo, que na antecâmara do triunfo dos encarnados diante do Wisla Plock (26-19) ganharam aos croatas do Nexe, uma das sensações da prova (34-29). Seguia-se uma partida que tão cedo não seria esquecida, qualquer que fosse o resultado final. E seguia-se um duelo frente a um crónico candidato ao título: além de ser uma das três equipas com mais troféus na prova (quatro) e o campeão em título, o Magdeburgo tentava prolongar a série de seis vitórias seguidas de formações germânicas, num total de 25 conquistas em 39 edições da prova.

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“É incrível poder estar na final da Liga Europeia da EHF, estes rapazes ganharam ao Wisla Plock que é uma equipa brutal. Foi um jogo excecional, uma vitória do grupo e dos benfiquistas. É histórico para nós e agora queremos ganhar a final. Vamos tentar fazer algo ainda mais histórico. É curioso que as equipas que mais golos marcaram na competição, marcaram hoje poucos golos. As defesas estiveram por cima dos ataques. O Sergey Hernández esteve brutal”, destacou no final o técnico espanhol Chema Rodríguez.

“Que amanhã [domingo] o pavilhão esteja cheio de benfiquistas. Que possamos fazer algo histórico. O apoio foi impressionante, parecia que estávamos a jogar no Estádio da Luz, no futebol. Esperemos corresponder com uma vitória. Fizemos uma exibição impressionante. Não temos tanta experiência mas com estes adeptos e a vontade de ganhar desta equipa, por vezes, torna-se muito difícil ganharem-nos. Vamos defrontar o Magdeburgo, que é uma equipa fora do normal. É o líder da Liga alemã, que, a par da francesa, é a mais forte. Tem um grande treinador, jogam muito bem, não podemos dar-lhes nada. Será um jogo muito complicado, mas estamos em casa e com vontade de fazer algo grande. Também será difícil para eles”, acrescentou antes de uma final inédita com um adversário que passou apenas por um golo em casa e já nos instantes finais a equipa do Sporting nos oitavos da Liga Europeia de andebol.

A resposta dos encarnados na primeira parte mostrou que a equipa estava à altura do desafio. Aliás, desde o primeiro ataque, concluído com êxito no final do primeiro minuto, que o Benfica esteve sempre na frente, explorando bem as ações de pivô de Alexis Borges e tendo uma boa capacidade para conseguir recuperar bem no plano defensivo para evitar as saídas rápidas dos alemães. Essa era a principal diferença entre o Magdeburgo e o Wisla Plock, numa constante vertigem atacante típica das formações germânicas. Ainda assim, as águias foram mantendo sempre a vantagem de um/dois golos, beneficiando também de mais uma grande exibição de Sergey Hernández a fechar a baliza quando a equipa não marcava.

Pouco antes dos dez minutos finais da primeira parte, Djördic teve a oportunidade de colocar a diferença nos três golos (10-7) mas falhou um livre de sete metros, naquele que foi o pior momento da fase inicial que levou a um parcial de 3-0 e à primeira vantagem do Magdeburgo no jogo (10-9). Os alemães viam nesse período a possibilidade de colocarem a final a seu jeito mas um desconto de tempo pedido por Chema Rodríguez devolveu a partida ao equilíbrio até essa fase, com o intervalo a chegar com a vantagem de 15-14 para os encarnados. Ole Rahmel, com seis golos, era o melhor marcador da partida (Alexis Borges e Petar Djördic tinham três cada), seguido de Tim Hornke (cinco) e Ómar Magnusson (quatro).

No segundo tempo, o Magdeburgo conseguiu ter outros argumentos no plano defensivo, mesmo quando Chema Rodríguez arriscava jogar com dois pivôs em simultâneo, e conseguiu pela primeira vez estar com três golos na frente do marcador o que levou a uma pausa técnica (20-17). O Benfica ainda reagiu, o jogo com Belone Moreira e Kukic como únicos elementos de primeira linha funcionou e os encarnados voltaram a entrar na partida, com vários ataques para resultados de empate/vantagem de um que foram até aos cinco minutos finais tendo Kukic e Sergey Hernández como principais destaques. Esse equilíbrio arrastou-se até ao último minuto que chegou com empate a 31 e posse de bola para o Magdeburgo, que conseguiu marcar após desconto de tempo a três segundos do apito final da decisão no Altice Arena. Ainda não tinha acabado: Alexis Borges, na zona dos seis metros, foi ainda a tempo de levar tudo para prolongamento.

As dificuldades físicas sobretudo nos jogadores encarnados eram evidentes mas o coração da equipa do Benfica mantinha tudo em aberto, com desvantagem no final da primeira parte do tempo extra mas com posse de bola no recomeço depois de intervenções fantásticas de Sergey Hernández até em situações de 1×0 em contra-ataque. Era impossível fazer apostas sobre o que poderia acontecer entre golos revistos pelo VAR, exclusões e até um vermelho a Grigoras, sendo que os encarnados iriam acabar o prolongamento reduzidos a cinco contra seis dos alemães mas a aproveitar os erros contrários para poderem chegar a uma vitória histórica para o clube e para o andebol português num jogo épico que acabou em 40-39 e que, a três segundos do final do tempo regulamentar, parecia ser mais um triunfo do campeão em título.