Era quase um caminho inevitável: segunda melhor época de sempre a nível de golos (23, apenas superada pelos 24 de 2019/20 também no Minho), temporada com mais influência ofensiva na equipa (33 golos, 23 marcados e mais dez assistências), um lugar na história do Sp. Braga ao tornar-se o melhor marcador de sempre do clube superando Mário Laranjo (93). “Foi uma temporada especial para mim”, assumiu no final da Liga Ricardo Horta. E não tinha ficado por aí: cerca de oito anos depois, voltou a ser chamado à Seleção Nacional, foi suplente utilizado com a Espanha e não demorou a fazer aquele que seria o empate em Sevilha a oito minutos do final após assistência de João Cancelo. Em paralelo, o “jogo” estava a ser outro.

António Salvador sabia que os convites pelo médio ofensivo/avançado (dependendo das necessidades e da estratégia da equipa) não iriam demorar e sabia também que um deveria chegar da Luz, onde o jogador esteve vários anos na formação após passar pelo Corroios e antes de cumprir o último ano de júnior já no V. Setúbal. Roger Schmidt, novo treinador do Benfica, deu aval ao internacional português, que era sobretudo uma aposta forte do próprio presidente, Rui Costa. No entanto, faltava o mais difícil: convencer o Sp. Braga. E a primeira proposta gerou uma série de capítulos sem que a novela tenha saído do mesmo passo.

Os encarnados fizeram chegar ao Minho uma proposta de dez milhões de euros pelo passe do jogador de 27 anos, repartido entre Sp. Braga e Málaga. Foi recusada. E a partir daqui geraram-se várias reações.

“Tive conhecimento da proposta apenas pela Imprensa. Quem tem de comunicar a proposta ao Málaga é o Sp. Braga, não é o Benfica. O Sp. Braga está obrigado a comunicar-nos e até agora ainda não o fez. O Málaga tem 67% do passe do jogador. Também é verdade que existe um acordo e que o Sp. Braga, se recusar uma proposta acima de cinco milhões, tem de ficar com os 67% do Málaga”, explicou ao jornal A Bola Manolo Gaspar, diretor desportivo do clube espanhol que acabou em 18.º a última Segunda Liga, com apenas dois pontos acima da zona de descida onde caiu o Amorebieta. Ou seja, segundo o responsável, os caminhos possíveis eram dois: aceitar a oferta ou pagar 6,7 milhões para ficar com 100% do passe. Em paralelo, Gaspar recusou que parte do passe do jogador esteja nas mãos de terceiros e que só tenha 15%.

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António Salvador, presidente do Sp. Braga, dava outra versão. “A única entidade que decide sobre os seus ativos é o Sp. Braga e o Sp. Braga já disse e repete que não está interessado em negociar o Ricardo Horta. Se algum clube vai pela via de um terceiro clube pressionar para vender, para que algum negócio, neste caso o Ricardo Horta, possa ser feito, está errado e é preocupante um clube desta grandeza entrar por caminhos menos claros que poderão não ser os corretos. E não são. Recebemos a proposta do Benfica que rejeitámos liminarmente, não discutimos nem queremos analisar, porque não queremos negociar. Foram dez milhões. Renovou até 2026 há pouco tempo, está muito satisfeito, já marcou história no Sp. Braga, tem dado muito ao clube. Tenho a certeza que vai continuar no Sp. Braga”, destacou à SIC Notícias.

“Há condições no contrato quando o jogador veio do Málaga mas não é como vem em alguma comunicação social ou como alguém tentou passar para a comunicação social para tentar fazer pressão sobre o Sp. Braga. A percentagem que o Málaga detém? Não interessa aqui, o Sp. Braga quando contratou ao Málaga e não pagou um euro por ele, houve sim partilhas de passe que não interessam agora e isso é claro e está nos Relatórios e Contas. Somos uma SAD aberta, está na bolsa, está lá tudo bem claro. Não há nada a pagar, nada a decidir pelo terceiro clube, é só o Sp. Braga que decide sobre o ativo Ricardo Horta e todos os ativos do Sp. Braga”, reforçou o líder dos minhotos, colocando o ênfase na permanência do jogador.

O líder arsenalista sabe que não será fácil manter o jogador na Pedreira mas falou publicamente para deixar clara uma posição em relação a possíveis novas propostas, sabendo não só que Ricardo Horta faz parte da lista de prioridades do Benfica mas também que os encarnados esperam um encaixe grande com Darwin Núñez, a provável segunda maior venda do clube (pelo menos a ver pela única oferta formal rejeitada na Luz, segundo soube o Observador). No entanto, e além desta ligação ao Málaga, houve mais um ponto que terá deixado os minhotos desagradados com a condução do processo e que tem a ver com um email.

De acordo com a CMTV, numa informação confirmada por fonte dos bracarenses ao canal, a resposta do Málaga ao email enviado pelo Sp. Braga colocou o diretor desportivo do Benfica, Rui Pedro Braz, em CC e tal facto é entendido pela SAD dos minhotos como uma violação do acordo de confidencialidade que havia entre as partes feito em 2017, o que pode mexer com o entendimento das percentagens que terão de ser pagas caso o internacional deixe mesmo a Pedreira. Com ou sem razão, só o tempo poderá dizer.

“O golo é um sentimento de orgulho. Estou aqui por mérito. Faltou-nos a vitória, era o que queríamos mas não foi possível. Jogámos contra uma grande seleção, estou feliz pelo empate mas queríamos a vitória. Não estávamos a encontrar os espaços certos, ao intervalo retificámos e a segunda parte foi melhor. Faltam muitos jogos, temos mais três em sete dias, e já estamos a pensar no próximo. Futuro? Neste momento estou apenas focado na Seleção, quero mostrar o meu futebol e aproveitar cada minuto”, comentou Ricardo Horta em Sevilha, depois do golo que deu o empate a Portugal com a Espanha na Liga das Nações.