Oito anos, 100 jogos, dois títulos. Esta quinta-feira, contra a República Checa, Fernando Santos chegava à centena de partidas enquanto selecionador nacional e com o currículo de ter sido o primeiro e único treinador a conquistar troféus ao serviço de Portugal. Uma bagagem que, ainda assim, não tem comparação com o nervosismo que sentiu na primeira vez que ouviu o hino nacional enquanto líder da Seleção.

“O momento mais marcante destes 100 jogos foi mesmo o meu primeiro jogo pela Seleção. Nunca haveria 100 se não houvesse o primeiro. Foi realmente o mais marcante de todos. Estar à frente da Seleção do meu país… Esse primeiro dia é sempre emocionante. Lembro-me mal do primeiro jogo, na realidade. Fez-me uma certa confusão, deve ser dos poucos de que não tenho uma ideia clara do jogo. E eu que normalmente tenho memória de elefante, como dizem os meus jogadores, dizem que me lembro de quase tudo. Só me lembro de não ter conseguido cantar o hino, disso lembro-me bem. Foi o jogo mais marcante”, disse Fernando Santos na antevisão da receção à República Checa, recordando o tal particular contra França, em setembro de 2014 e em Paris.

Ficha de jogo

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Portugal-República Checa, 2-0

Fase de grupos da Liga das Nações

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Matej Jug (Eslovénia)

Portugal: Diogo Costa, João Cancelo, Pepe, Danilo, Raphael Guerreiro, Bernardo Silva (Vitinha, 68′), William Carvalho (Bruno Fernandes, 68′), Rúben Neves (João Palhinha, 88′), Gonçalo Guedes (João Moutinho, 88′), Cristiano Ronaldo, Diogo Jota (Rafael Leão, 80′)

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, Rui Silva, Diogo Dalot, David Carmo, André Silva, Otávio, Nuno Mendes

República Checa: Jindřich Staněk, David Zima, Jakub Brabec, Aleš Matějů (Alex Král, 80′), Vladimír Coufal, Tomáš Souček, Michal Sadílek, Milan Havel (Václav Jemelka, 45′), Ondřej Lingr (Jakub Pešek, 45′), Jan Kuchta (Václav Jurečka, 45′), Adam Hložek (Adam Vlkanova, 73′)

Suplentes não utilizados: Tomáš Vaclík, Aleš Mandous, Ondřej Kúdela, Lukáš Kalvach, Stanislav Tecl, Václav Černý, Jaroslav Zelený

Treinador: Jaroslav Šilhavý

Golos: João Cancelo (33′), Gonçalo Guedes (38′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a William Carvalho (3′), a Tomáš Souček (24′), a Matějů (35′), a Cristiano Ronaldo (51′), a João Cancelo (89′)

Na altura, em Saint-Denis, os golos de Benzema e Pogba foram o suficiente para suplantar o penálti convertido por Quaresma e ditaram a vitória francesa. Menos de dois anos depois, novamente em Saint-Denis, um golo de Éder foi o suficiente para suplantar França e dar a Portugal o Euro 2016 e o primeiro título da história. Agora, em 2022, à beira de mais um Mundial e depois de algumas semanas em que sofreu uma contestação inédita desde que é selecionador nacional, Fernando Santos já não tem problemas em cantar o hino. E a Seleção já não tem problemas em assumir que é candidata à vitória na Liga das Nações.

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Esta quinta-feira, em Alvalade, Portugal recebia a República Checa e disputava a liderança isolada do Grupo 2 da Liga A da Liga das Nações depois do empate com Espanha e da goleada à Suíça. Contra os checos, que também tinham vencido os suíços e também tinham empatado com os espanhóis, Fernando Santos deixou Domingos Duarte, Matheus Nunes e Ricardo Horta de fora da convocatória e voltou a apostar em Cristiano Ronaldo, suplente contra Espanha mas já titular contra a Suíça. Diogo Costa voltava à baliza depois de Rui Patrício ter sido o escolhido na última partida, William Carvalho e Rúben Neves mantinham a titularidade no meio-campo e Bruno Fernandes e Otávio começavam no banco, com Gonçalo Guedes a surgir no ataque em conjunto com Ronaldo e Diogo Jota. Na esquerda da defesa, Raphael Guerreiro era novamente a opção em detrimento de Nuno Mendes.

Em campo, não foi preciso esperar muito para perceber que Portugal iria assumir o controlo do jogo. A Seleção Nacional jogava a partir da linha do meio-campo, aproveitando o facto de a República Checa se apresentar bastante recuada, e tinha facilidade para pressionar e recuperar a bola de forma rápida. Contudo, os checos alinhavam-se em bloco no último terço e dificultavam a tarefa portuguesa na hora de encontrar espaços, anulando eventuais combinações entre os laterais e os avançados e levando a equipa de Fernando Santos a procurar muitos cruzamentos que não tinham grandes consequências.

O primeiro remate surgiu à passagem do minuto 10, por intermédio de Rúben Neves e ao lado (10′), e Cristiano Ronaldo atirou à figura de Staněk pouco depois (15′). A partir do quarto de hora inicial, contudo, a República Checa começou a subir as linhas e a procurar a transição ofensiva quando recuperava a bola, obrigando Portugal a jogar de forma mais cautelosa e com maiores preocupações defensivas. Diametralmente, a subida dos checos no terreno também abriu alguns espaços atrás, algo que fez com que a Seleção Nacional tivesse maior liberdade para explorar a criatividade individual e coletiva. Nesta fase, Sadílek teve uma boa oportunidade para abrir o marcador, com um pontapé por cima da trave (17′), e Kuchta obrigou Diogo Costa à melhor defesa do jogo até então ao aparecer na cara do guarda-redes do FC Porto (31′).

Pouco depois, surgiu o golo de Portugal. Numa das primeiras vezes em que a Seleção conseguiu desbloquear a muralha checa, Bernardo temporizou junto à linha e desmarcou Cancelo, que avançou para a grande área e atirou cruzado e em força para abrir o marcador (33′). A combinação entre os dois jogadores do Manchester City estava a ser o melhor da exibição portuguesa até então, até pelo rendimento individual muito acima da média tanto de um como do outro, e acabou por dar frutos pouco depois da meia-hora. Cinco minutos depois, apareceu o segundo golo. Bernardo recebeu descaído na direita e voltou a encontrar espaço onde parecia não existir para desmarcar Gonçalo Guedes, que atirou de primeira para aumentar a vantagem (38′).

Assim, ao intervalo, Portugal estava a vencer a República Checa em Alvalade e ia contando essencialmente com uma exibição extraordinária de Bernardo Silva, que tinha a capacidade para desmontar uma defensiva adversária que tinha como objetivo não dar espaço às ideias dos portugueses mais criativos. Em oposição, porque nem tudo era perfeito, William Carvalho ia realizando uma prestação bem abaixo do demonstrado contra a Suíça, quando foi dos melhores elementos em campo.

A República Checa fez três substituições logo ao intervalo, lançando Jemelka, Jurečka e Pešek, e o jogo foi-se arrastando com poucas características e também com pouca qualidade. Portugal ia dominando com bola e com raras aproximações à baliza, beneficiando em larga escala da total incapacidade dos checos para causar perigo no último terço português. A primeira oportunidade do segundo tempo só apareceu depois da hora de jogo, com Jurečka a atirar ao lado após uma transição rápida (60′), e Diogo Jota respondeu de imediato com um pontapé à figura de Staněk (61′).

A pouco mais de 20 minutos do fim, Fernando Santos mexeu pela primeira vez e trocou William e Bernardo por Bruno Fernandes e Vitinha. Cristiano Ronaldo ainda rematou para Staněk encaixar (71′), os checos ainda fizeram mais uma substituição e Rafael Leão, João Palhinha e João Moutinho também tiveram minutos, entrando para o lugar dos fatigados Diogo Jota, Rúben Neves e Gonçalo Guedes. No resultado, porém, já nada mudou.

Portugal venceu a República Checa em Alvalade e está agora na liderança do Grupo 2 da Liga A da Liga das Nações, com sete pontos contra cinco de Espanha, que venceu a Suíça em Genebra, e quatro dos checos. Num dia em que João Cancelo também esteve absolutamente superlativo e numa semana em que muito se discutiu sobre a diferença entre dizer República Checa ou Chéquia, Bernardo Silva foi o rei que fez Chéquia-mate com as duas assistências para os dois golos portugueses.