A última reunião da distrital de Aveiro do PSD foi atípica. O tesoureiro daquele órgão, Almiro Moreira, fez uma longa exposição a explicar o caso dos militantes-fantasma que votaram naquela concelhia, noticiado pelo Observador dias antes. Depois desta intervenção, segundo relataram ao Observador várias fontes presentes, a distrital decidiu mesmo manifestar um voto de confiança ao PSD/Castelo de Paiva. Nessa concelhia, Montenegro teve 100% dos votos mas houve militantes que votaram no candidato, mas não sabiam: não estavam no concelho no dia das eleições ou estavam isoladas com Covid.

PSD. Militantes-fantasma votaram em concelhia onde Montenegro teve 100% dos votos

Os argumentos do influente “Miro” do PSD de Castelo de Paiva — como é conhecido entre os militantes locais — para desvalorizar o caso junto dos dirigentes de Aveiro foram que da ata não constava nenhuma irregularidade, que tinham existido más práticas jornalísticas na denúncia do caso e que havia culpa direta da candidatura de Jorge Moreira da Silva por não ter indicado um delegado para aquela assembleia de secção.

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Na reunião, que se realizou na última segunda-feira, 6, um dirigente local da concelhia do PSD de Vagos (o presidente da concelhia, Silvério Regalado, não estava presente) propôs mesmo esse voto de confiança em Castelo de Paiva, inspirado pelas justificações de Almiro Moreira. Segundo fontes presentes, o presidente da distrital, Emídio Sousa, que foi também apoiante de Luís Montenegro, ficou desconfortável com a situação e, em vez de submeter o assunto a votação, disse: “Se ninguém se opõe ao voto de confiança apresentado, vamos avançar”. Nem sequer foi votado.

O próprio líder distrital, Emídio Sousa, confirmou ao Observador que existiu esse voto de confiança, mas que o mesmo não chegou a ser votado. Apesar disso, foi aceite pela mesa e a reunião prosseguiu. Embora a não-votação tenha retirado alguma formalidade ao voto de confiança, o facto de não haver votação tornou esta numa posição unânime da distrital que não refletia o sentimento geral na sala. Dois dirigentes presentes na reunião lamentaram isso mesmo quando contactados pelo Observador. “Seguiram em frente e nem deram hipótese de votar. Foi aquela coisa do ‘ninguém se opõe…’ e siga. E aquilo estava tudo muito mal explicado”, disse o presidente de uma das concelhias da distrital de Aveiro ao Observador.

Esta não terá sido a única manifestação de apoio à concelhia onde foram registados os casos de votos-fantasma. Mais à frente, quando se marcava a próxima reunião da Assembleia Distrital para Castelo de Paiva, Emídio de Sousa afirmou — segundo relataram várias das fontes presentes — que esta também era uma forma de a distrital manifestar “solidariedade” com essa estrutura.

Votos-fantasma? Houve uma “grande adesão”

Emídio Sousa, quando contactado pelo Observador, negou, no entanto, que a realização da reunião tenha como principal motivo uma manifestação de solidariedade para com a concelhia de Castelo de Paiva. “A decisão já tinha sido tomada no início de maio de fazermos reuniões da Assembleia distrital nos municípios onde ganhámos eleições: Castelo de Paiva, Sever do Vouga e Águeda. Como Castelo de Paiva foi uma grande vitória, começamos por aí”.

Almiro Moreira reitera a mesma versão ao Observador e diz que a localização da reunião “não tem nada a ver com a solidariedade para com a estrutura, mas com o facto de termos ganho as eleições autárquicas no concelho”. Na reunião de dia 6 não foi, no entanto, dada essa justificação aos presentes. A data (15 de junho às 21h30) e o local (o Auditório da Academia de Música de Castelo de Paiva) já foram, entretanto, confirmados no jornal oficial do PSD, o Povo Livre.

A página do Povo Livre onde foi convocada a reunião para Castelo de Paiva

O Observador questionou ainda o presidente da distrital sobre se condenava essas práticas, mas Emídio Sousa disse que tomou como boas as justificações dadas por Almiro Moreira e lembrou que não houve nenhuma queixa sobre o caso. Também Almiro Moreira reiterou ao Observador que acredita que os militantes foram mesmo votar e que houve uma “grande adesão”.

A votação naquela concelhia nas últimas diretas do PSD provocou estranheza junto de membros de ambas as candidaturas. Isto porque o resultado em Castelo de Paiva do vencedor das eleições diretas do PSD foi absoluto: Luís Montenegro obteve 100% dos votos contra zero de Jorge Moreira da Silva. O novo presidente do PSD teve 105 votos, num caderno eleitoral que tinha 108. Se a lei tivesse sido cumprida, só três militantes não teriam votado. No entanto, o Observador contactou dezenas de militantes desta concelhia do distrito de Aveiro e confirmou que pelo menos sete não votaram — e alguns nem sequer estiveram no concelho do dia da votação. Isto significa que houve, no mínimo, quatro votos-fantasma colocados na urna com uma cruz em Luís Montenegro.

O Observador relatou ainda situações de militantes que estavam isolados com Covid no dia da votação, a trabalhar fora do concelho ou que simplesmente não foram foram votar. Perante estes factos, a distrital de Aveiro decidiu manifestar a sua confiança na concelhia do PSD de Castelo de Paiva.