A notícia foi dada na página de Facebook do grupo “Vamos Proteger Protasiv Yar”, a organização ambientalista fundada pelo próprio Roman Ratushnyi, esta terça-feira: “A 9 de junho, Roman Ratushnyi (…), membro da 93.ª Brigada Mecanizada de Kholodnyi Yar, foi morto em combate perto de Izium.”
A publicação, que define Ratushnyi como “o primeiro em qualquer luta” e alguém “que nunca demonstrou medo”, foi destacada pelo jornalista Oliver Carroll, correspondente da Economist em Kiev. E porquê? Porque para além de soldado, Ratushnyi era um destacado ativista ambiental ucraniano, que deu os primeiros passos na sociedade civil ao ser um dos primeiros à aderir às manifestações da Praça Maidan, em 2013, que evoluíram para a revolução que viria a depor o Presidente Viktor Yanukovich, próximo de Moscovo.
News that Roman Ratushnyi, one of the student protesters beaten by police on the first night of Maidan revolution, has been killed fighting in the east. I interviewed him a couple of times, and spoke to him a week ago. Very sharp, bright guy. He was 24. pic.twitter.com/NRchCgeOFp
— Oliver Carroll (@olliecarroll) June 14, 2022
Oliver Carroll aproveitou para recordar o papel do jovem ucraniano — que iria fazer 25 anos a 5 de julho — nesses primeiros dias da EuroMaidan. Num artigo publicado em 2018 no The Independent, Carroll destacava que Ratushnyi começou a participar nas manifestações da Praça Maidan desde o início, quando tinha apenas 17 anos. “Os professores simpatizavam e deixavam-no dormir durante as aulas. À noite, estava invariavelmente com os amigos na Praça da Independência”, lê-se no artigo.
O grupo de amigos de Ratushnyi acabaria por ser dos primeiros a ser alvo da repressão policial, que levou à radicalização do protesto e redundou no afastamento de Yanukovich. “Este foi o momento em que a Maidan deixou de ser um protesto sobre a UE e se tornou numa ação de retaguarda para impedir que a Ucrânia se tornasse numa ditadura como a bielorrussa”, afirmou o ativista ao Independent.
Com a mudança de regime, Ratushnyi passou a dedicar-se ao ativismo ambiental, fundando a associação “Vamos Proteger Protasiv Yar”. O objetivo do grupo era o de impedir que a ravina de Protasiv Yar, uma área natural em Kiev, fosse alvo de uma intervenção imobiliária — algo que o grupo conseguiu impedir através de ações judiciais ganhas em 2020 e 2021, que determinaram que aquele deve ser um local protegido.
Um passado de tensão com o poder político, inclusive na era Zelensky
O caso, porém, trouxe-lhe dissabores e inimizades junto do poder político. De acordo com a delegação holandesa do Comité de Helsínquia, Ratushnyi começou por ser alvo de ameaças de morte por parte do deputado — e dono de uma empresa de construção civil — Gennady Korban e do advogado Andriy Smirnov (atualmente vice-presidente do gabinete do Presidente Volodymyr Zelensky).
Depois, em março de 2021, Ratushnyi foi colocado em prisão domiciliária pela justiça ucraniana, enquanto aguardava a decisão dos tribunais relativamente às acusações de hooliganismo, posse de arma ilegal e destruição de propriedade de que foi alvo depois de participar num protesto de solidariedade com um ativista anti-corrupção — acusações que o Comité de Helsínquia diz não terem base legal por “falta de provas concretas”.
Mas para além do caso judicial, o ativista foi alvo de críticas diretas do à altura vice-ministro da Administração Interna, Anton Gerashchenko, que publicou um vídeo nas redes sociais onde alegadamente Ratushnyi era identificado a cometer os crimes em questão. O ativista não só negava as acusações, dizendo que não era ele a pessoa identificada no vídeo, como pediu publicamente ao governante que retirasse as imagens, que acusou de serem difamatórias, e exigiu um pedido de desculpas. “O vídeo tenta incutir uma atitude negativa contra mim”, afirmou à altura Ratushnyi.
Com o eclodir da guerra de larga escala na Ucrânia a 24 de fevereiro, porém, Roman Ratushnyi passou a estar do lado do Estado ucraniano desde o primeiro dia, combatendo na linha da frente. Participou em batalhas na zona de Kiev, depois em Sumy e, mais recentemente, em Izum, onde viria a morrer durante uma operação.
O grupo ambientalista que fundou lamentou publicamente a sua morte e prometeu continuar o trabalho do ativista. “Temos que construir um parque na ravina Protasiv Yar, onde em honra do Roman vamos plantar um carvalho”, escreveram os colegas da “Vamos Proteger Protasiv Yar”, que deixaram ainda uma promessa: “O parque, certamente, receberá o nome de Roman Ratushny.”