Os manuais escolares em Hong Kong vão passar a afirmar que aquele território nunca foi uma colónia britânica, ficando assim de fora do ensino secundário um relato histórico que as autoridades chinesas consideram contribuir para a agitação social que se viveu nos últimos anos em Hong Kong, designadamente com os protestos pró-democracia que em 2019 levaram um milhão de pessoas às ruas da cidade.
Em causa está a disciplina de Estudos Liberais, um programa de estudos que foi introduzido no currículo escolar de Hong Kong em 2009 com o objetivo de ajudar os alunos a conhecerem a história política do seu país e a adquirirem uma consciência de cidadania — e que agora é totalmente reformulada, recebendo o nome de Cidadania e Desenvolvimento Social e versando sobre temas que incluem a segurança nacional, a identidade, a lei e o patriotismo.
De acordo com o jornal South China Morning Post, o departamento de educação do governo regional de Hong Kong optou por reformular a disciplina depois de a ala pró-Pequim na região ter classificado os conteúdos programáticos escolares (nomeadamente a história do período em que Hong Kong esteve sob jurisdição britânica) como um dos principais fatores para a radicalização da juventude de Hong Kong durante os protestos pró-democracia.
Esta semana foram publicados quatro novos manuais escolares para acompanhamento da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento Social, que ainda terão de ser aprovados pelo departamento de educação. Nesses manuais lê-se que a China nunca reconheceu os tratados realizados no século XIX, no final das guerras do ópio, através dos quais o Império Chinês cedeu ao Reino Unido a região de Hong Kong — pelo que Hong Kong nunca foi, formalmente, uma colónia britânica.
Citado pelo mesmo jornal, o historiador chinês Chan Chi-wa explicou que esta discussão em relação ao estatuto de Hong Kong já não é nova. Em 1972, as Nações Unidas retiraram Hong Kong da lista de colónias devido à exigência chinesa. Por outro lado, desde a década de 1990 que a maioria dos livros e manuais escolares começara a retirar a expressão “colónia britânica”, substituindo-a por uma referência ao facto de o Reino Unido ter exercido sobre Hong Kong o poder colonial até 1997, ano em que a região foi devolvida a Pequim.
Além disto, os novos manuais adotam também a visão do governo de Pequim sobre os protestos recentes em Hong Kong, classificando-os como atos de grupos insurgentes apoiados por forças estrangeiras e em desrespeito pela segurança nacional.