Saímos à rua para tentar perceber a importância que os jovens portugueses reconhecem aos livros infantis ilustrados e, a avaliar pelas respostas de todos, sem exceção, essa relevância não só é grande como as memórias se mantêm até aos dias de hoje. Há, até, quem se lembre de preferir os livros “com mais imagens e menos texto”, e outros que garantem que esse contacto precoce “é importante para cativar as crianças para a leitura”. Por saber disto mesmo, o Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce vai já na sua 9.ª edição, estando neste momento a decorrer a fase de ilustração, na qual todos podem participar, sejam ou não profissionais da área.

Quem também não tem dúvidas sobre o papel desempenhado pela ilustração no desenvolvimento dos mais novos é quem se dedica a esta arte. Para o ilustrador Bernardo Carvalho, que integra o júri do referido prémio, “numa primeira fase, a ilustração surge como um aguçar da curiosidade pela história contada, como quando olhamos para uma capa de que gostamos e imediatamente nos apetece ver que livro é aquele”.

Por seu lado, Jorge Margarido, que venceu a edição do ano passado do concurso, com as ilustrações de “Assim como tu”, texto da autoria de Raquel Salgueiro, entende que “a ilustração, a par de outras artes, ajuda-nos a libertar das amarras físicas e transporta-nos para o plano da imaginação e do intangível”, um plano que considera “essencial”. Nas suas palavras, “as ilustrações servem para acrescentar interesse visual ao livro, uma outra camada de informação”.

Mais literacia visual, melhores cidadãos

Sabe-se que estimular a leitura é fundamental no processo de formação de leitores. E quanto ao contacto com a ilustração? Será que é importante para a formação de bons leitores de imagens? Jorge Margarido não hesita na resposta: “Sim, quanto mais contacto as crianças tiverem com as diferentes interpretações da realidade, maior será a sua biblioteca visual, mais amplo o seu universo interior e maior o seu vocabulário criativo”. Na sua perspetiva, “todos temos a ganhar se os nossos pares tiverem uma boa bagagem cultural, capacidade crítica e abertura à diferença”. “Eu vejo a arte como um abre olhos perfeito para, juntamente com a literatura, filosofia, ciência, etc., ajudar a criar cidadãos plenos, conscientes e mais aptos para lidarem com os dragões que se atravessam no nosso caminho”, sintetiza o designer gráfico, que já foi rebuçadeiro de profissão.

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Também Bernardo Carvalho reconhece o contributo da ilustração para o enriquecimento da literacia visual dos mais novos: “Quando temos a sorte de crescer com livros ilustrados, cresce também, dentro de nós, além de um gosto especial pelos desenhos, um sentido crítico em relação aos mesmos mais apurado, e talvez a vontade de também nós tentarmos fazer, desenhar, cortar, colar, fotografar…”. Acima de tudo, “o contacto com várias formas de representação de imagens e ideias estimulam o nosso sentido criativo, abrem caminho para pensarmos e percebermos as coisas de outra maneira; descobrimos que, com poucos traços, dizemos tanto ou mais que alguns parágrafos”, sublinha aquele que é um dos fundadores do Planeta Tangerina, editora nacional especializada em álbuns ilustrados.

Os desafios da ilustração infantil

Em jeito de conselho a quem pretende dedicar-se a esta área, Bernardo Carvalho lembra que “existem várias maneiras de conceber ilustrações para cada livro, mas é sempre importante termos em mente para quem as estamos a fazer”. Entre os maiores desafios que aponta à ilustração infantil, destaca a dificuldade cada vez maior em conseguir “ter uma linguagem ilustrada original”, devido à “enorme oferta de livros ilustrados”. “Felizmente, temos à nossa disposição milhares de formas e técnicas de resolver e fazer ilustração. Sem experimentar, não chegamos a novos resultados, não criamos a nossa própria linguagem. Experimentar é a palavra-chave”, afirma.

Por seu turno, Jorge Margarido realça que “ilustrar um livro é um enorme desafio a vários níveis”, desde logo porque “tens de respeitar o autor do texto, o texto em si, os leitores, tens de manter uma coerência formal, ritmo… enfim, é super aliciante e super assustador ao mesmo tempo [risos], tal como uma boa aventura”. Acima de tudo, o que importa é não ficar de braços cruzados e arriscar, sendo que Jorge Margarido sabe bem do que fala, afinal, o primeiro livro que ilustrou foi precisamente o do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce: “Eu ainda só ilustrei um livro e sinto que falhei em várias frentes. Espero ter mais oportunidades para rever os erros e falhar mais um bocadinho.”

Se gosta de desenhar e os livros infantis chamam por si, saiba que pode concorrer ao Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce até ao dia 1 de julho, bastando apenas solicitar, através do site oficial, a história vencedora e pôr mãos à obra. Com um valor total de 50 mil euros (25 mil euros para o autor do texto e 25 mil euros para o ilustrador da história), este é o maior galardão atribuído na área do livro infantil em Portugal. Recorde-se que, além de Bernardo Carvalho, integram o júri da edição deste ano da fase de ilustração os ilustradores André Carrilho e Marta Madureira, o professor e ilustrador Eduardo Côrte-Real, e Sara Miranda, diretora de comunicação do Grupo Jerónimo Martins.

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