Foi a notícia que marcou a atualidade desportiva de terça-feira, será uma das notícias a marcar a atualidade desportiva da semana e, com toda a certeza, vai permanecer enquanto uma das notícias a marcar a temporada de Fórmula 1. Nelson Piquet, tricampeão mundial, utilizou um termo racista para se referir a Lewis Hamilton — e as reações foram imediatas. 

A Mercedes, a Fórmula 1 e a FIA pouco demoraram a responder às palavras do antigo piloto brasileiro, emitindo comunicados oficiais a condenar o episódio. Hamilton, por sua vez, optou por reagir em português, utilizando a língua que o próprio Piquet utilizou, deixando depois a ideia de que “já houve muito tempo para aprender” e agora “chegou o tempo de agir”. Mas as ondas de choque, tal como acontece sempre, não ficaram restritas aos diretamente envolvidos.

Nelson Piquet usou termo racista para falar de Lewis Hamilton. Piloto britânico respondeu em… Português

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Dentro da própria Fórmula 1, foram vários os pilotos que se colocaram ao lado de Lewis Hamilton. Charles Leclerc, da Ferrari, foi um dos primeiros, recordando que é necessário “banir os comportamentos discriminatórios e a linguagem racista de qualquer forma não só do desporto mas também da sociedade”. Já George Russell, colega de Hamilton na Mercedes, referiu ter um “enorme respeito” pelo britânico. “Ele fez mais por este desporto do que qualquer outro piloto na história, não só na pista mas também fora dela. O facto de ele e de tantos outros ainda terem de lidar com esse tipo de comportamento é inaceitável. Todos nós precisamos de nos unir contra qualquer tipo de discriminação”, defende o jovem piloto.

Fora da modalidade, Gary Lineker, antigo internacional inglês, também comentou a situação, referindo-se a Nelson Piquet como “tipo terrível”. Longe do desporto, também Paulo Coelho decidiu reagir ao episódio — recordando que, muito recentemente, Lewis Hamilton recebeu o estatuto de cidadão honorário do Brasil e aproveitando para criticar Jair Bolsonaro, que Piquet apoia. “Caro Lewis Hamilton, Piquet é atualmente o piloto do pior Presidente da nossa história. Os seus comentários racistas demonstram a necessidade desesperada de voltar aos holofotes. Peço desculpa em nome do povo brasileiro que te respeita e te ama”, vincou o escritor.

F1 Grand Prix of Azerbaijan

George Russell, colega de Hamilton na Mercedes, foi um dos primeiros pilotos a sair em defesa do britânico

Este caso com Lewis Hamilton, contudo, está longe de ser a primeira polémica protagonizada por Nelson Piquet. Quando ainda era piloto, o brasileiro foi criticado por questionar a orientação sexual de Ayrton Senna e chegou a referir-se à mulher de Nigel Mansell como “feia”. Mais recentemente, encabeçou notícias devido ao apoio declarado a Jair Bolsonaro, chegando mesmo a conduzir o Presidente brasileiro nas comemorações oficiais do Dia da Independência do Brasil no passado mês de setembro.

“Fiquei fã dele. Eu conheci-o, ele convidou-me para almoçar e demo-nos bem. Nunca me envolvi em política na minha vida mas hoje sou Bolsonaro até à morte. Acho que ele é a salvação do Brasil”, disse Piquet, que é pai de Kelly Piquet, namorada de Max Verstappen, numa entrevista recente à RedeTV. Entretanto, de acordo com o The Guardian, a Fórmula 1 decidiu só permitir que o antigo tricampeão assistisse às corridas quando pedisse desculpa publicamente a Lewis Hamilton — algo que aconteceu ao início da tarde desta quarta-feira.

“Peço desculpa a todos os que se sentiram afetados. Incluindo o Lewis, que é um grande piloto. Mas a tradução em alguns meios de comunicação social, que agora circula nas redes sociais, não é a correta. A discriminação não tem espaço na Fórmula 1 ou na sociedade e estou feliz em deixar claros os meus pensamentos sobre isso”, escreveu o brasileiro num comunicado.

(artigo atualizado às 14h10 com o pedido de desculpa de Nelson Piquet a Lewis Hamilton)