O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje que a obra de José Saramago (1922-2010) será sempre uma fonte de inspiração para a luta do partido.
“A sua obra será sempre uma fonte de inspiração para a nossa luta que continua norteada pelos valores da liberdade, da democracia, emancipação social, desenvolvimento e independência nacional e pelo porvir de uma nova sociedade mais justa, mais solidária, mais fraterna, por um mundo melhor”, afirmou Jerónimo de Sousa.
O líder do PCP discursava numa sessão evocativa do centenário do nascimento do escritor, na sua terra natal, Azinhaga, no concelho da Golegã (Santarém), na qual recordou o percurso de vida de José Saramago, através de familiares, da sua obra ou da sua militância comunista, até chegar a Nobel da Literatura.
Lembrando a tia Elvira de Saramago que, um dia, “face a uma situação ameaçadora”, lhe disse “tu daqui não arredas pé'” e ele, com coragem, não arredou, Jerónimo de Sousa frisou que também o PCP não arreda pé e não abdica do “combate maior por uma terra mais justa e mais humana”.
Segundo o líder do PCP, coragem “nunca faltou, nem vai faltar” ao partido para defrontar “os novos inquisidores do pensamento único” ou na luta “pelo direito à cultura, nestes tempos perigosos”, nos quais “se levantam novas censuras, se hostiliza quem se atreva a ir ao arrepio da cartilha ditada e imposta”.
Jerónimo de Sousa garantiu que coragem também não pode faltar, “para superar os muitos e insultuosos silêncios e as abusivas e pérfidas caricaturas com que pretendem atingir os que se apresentam, como o PCP, com uma alternativa ao seu domínio de poder”.
“Sim, coragem para enfrentar os senhores do mando e da riqueza e o poder político dominante que o serve”, apontou, para citar, como o fez por várias vezes no discurso, o escritor: “Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lhes permitem aquelas que, efetivamente, governam o mundo, as empresas multinacionais, pluricontinentais cujo, poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava de ideal da democracia”.
Ainda segundo o Nobel, “dizer hoje governo socialista, social-democrata, democrata-cristão ou conservador ou liberal e chamar-lhe poder é como uma operação de cosmética, é pretender nomear algo que não se encontra onde se nos quer fazer crer, mas, sim, em outro e inalcançável lugar, o do poder económico”.
“Quem olhar para o nosso país não vê realidade diferente. Não se viu durante décadas de rotativismo e alternância sem alternativa de PSD e PS numa liderança à vez. Não o vê agora na governação que se diz socialista, mas, efetivamente, ao serviço dos mesmos interesses de sempre, os do grande capital”, acrescentou o secretário-geral do PCP.
Destacando a obra de Saramago, Jerónimo de Sousa realçou, além do escritor, o intelectual, “o homem que, em vida, tomou partido ao lado do seu povo na sua luta contra o fascismo e depois pela democracia de Abril e a sua defesa”.
“Esse intelectual e escritor que, com orgulho, patenteava a sua condição de militante comunista”, observou, assinalando os “importantes combates políticos e eleitorais” de Saramago, quando “integrou a lista da Coligação ‘Por Lisboa’, sendo eleito Presidente da Assembleia Municipal, e, como candidato da CDU indicado pelo PCP, participou em todas as eleições para o Parlamento Europeu, entre 1987 e 2009”.
Para o líder comunista, José Saramago “não é apenas o escritor maior da literatura portuguesa, mas o homem que se comprometeu com os explorados, injustiçados e humilhados da terra, que assumiu valores éticos e um ideal político do qual não abdicou até ao fim da sua vida”.