O jogo inaugural trouxe más notícias, boas notícias e um amargo de boca. Por um lado, a Seleção Nacional feminina sofreu dois golos nos cinco minutos iniciais da partida contra a Suíça, demonstrando debilidades defensivas que não são compatíveis com um Europeu. Por outro lado, a Seleção Nacional feminina orquestrou uma segunda parte brilhante em que conseguiu igualar o resultado e ser claramente superior. Por fim, o empate final foi uma desilusão numa partida em que Portugal poderia naturalmente ter vencido.

Era neste contexto que, esta quarta-feira, a seleção portuguesa defrontava os Países Baixos, a equipa campeã europeia em título que na primeira jornada da fase de grupos do Europeu que está a decorrer em Inglaterra também empatou com a Suécia. Com o Grupo C totalmente empatado, com as quatro equipas com um ponto conquistado, Portugal defrontava aquele que era teoricamente o adversário mais complexo — mas estava longe de entrar em campo já derrotado.

Uma segunda parte de luxo para esquecer cinco minutos de pesadelo: Portugal empata com a Suíça na estreia no Europeu

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“Temos de ser muito fortes na nossa forma de jogar, porque isso é a única coisa que controlamos assim que a bola começar a rolar. No dia em que dependermos da qualidade individual das jogadoras, esse é também o dia em que vamos deixar de ser competitivos. Não por falta dessa qualidade, mas por não podermos depender hoje de alguém que amanhã pode não estar. O segredo, com os Países Baixos, vai ser ter mais bola, para assim lhes retirarmos as oportunidades de golo. Não vai ser fácil mas foi esse o desafio que lançámos à equipa: ter a bola, valorizar essa posse e sermos nós a gerir o jogo”, disse Francisco Neto, o selecionador nacional, na antevisão da partida.

Assim, novamente em Leigh, a Seleção Nacional entrava em campo com o mesmo onze que empatou com a Suíça: Diana Gomes e Carole Costa no eixo defensivo, Catarina Amado e Joana Marchão nas laterais, Tatiana Pinto, Dolores e Andreia Norton no meio-campo e Ana Borges e Jéssica Silva no apoio a Diana Silva no ataque. Ou seja, depois de ter falhado os primeiros treinos em Inglaterra devido a uma amigdalite, Kika Nazareth voltava a começar no banco. Do outro lado, Mark Parsons lançava um trio ofensivo poderoso formado por Van de Donk, Beerensteyn e Martens. Nas bancadas, a apoiar a seleção portuguesa, estavam João Cancelo, Rúben Dias e Bernardo Silva, o trio internacional do Manchester City.

Na hora do apito inicial, Portugal e Países Baixos já sabiam que a Suécia tinha vencido a Suíça no outro jogo do grupo — ou seja, que as suecas estavam no virtual primeiro lugar isolado e que as suíças dificilmente conseguiriam apurar-se para os quartos de final. A Seleção entrou muito bem, apresentando-se com as linhas subidas e a procurar surpreender com incursões rápidas pelos corredores e trocas constantes de posicionamento entre Ana Borges, Jéssica Silva e Diana Silva. Ainda nos minutos iniciais — e no dia em que fez história ao tornar-se a jogadora portuguesa com mais internacionalizações, 146, ultrapassando Carla Couto –, Borges colocou a bola no fundo da baliza, ao desviar após cruzamento de Jéssica Silva na esquerda, mas o lance foi anulado por fora de jogo da avançada do Benfica na altura do passe de Joana Marchão (5′).

Instantes depois, apareceu o praticamente inevitável. Na sequência de um canto cobrado na esquerda, Egurrola fez-se valer da superioridade no que toca aos centímetros e cabeceou à vontade e praticamente sozinha para abrir o marcador (7′). Os Países Baixos aproveitaram o embalo da vantagem para assumir o controlo do jogo e Inês Pereira teve de se aplicar, com uma enorme defesa, para evitar o golo de Beerensteyn logo depois (9′). Ainda assim, o segundo golo neerlandês não tardou: após outro canto na esquerda e depois de vários alívios deficientes da defensiva portuguesa, Van der Gragt sobrou na área e cabeceou para aumentar a vantagem (16′).

Martens ainda teve uma boa oportunidade para fazer o terceiro golo, ao atirar ao lado na sequência de um grande cruzamento de Van de Donk (24′), mas Portugal conseguiu começar a reagir a partir da meia-hora, soltando a pressão adversária e regressando ao meio-campo oposto. Já perto do intervalo, Diana Silva foi carregada em falta na grande área por Janssen e a árbitra da partida assinalou grande penalidade após analisar as imagens do VAR. Na conversão, Carole Costa não deu hipótese e reduziu à desvantagem numa altura crucial, mesmo na ponta final da primeira parte (38′).

Nenhum dos treinadores fez substituições ao intervalo e a Seleção Nacional voltou a entrar a todo o gás, com Tatiana Pinto a ficar perto do empate com um cabeceamento que Van Domselaar defendeu após cruzamento de Jéssica Silva na direita (46′). Adivinhava-se o golo português e, logo no lance consequente, a igualdade não escapou: Carole Costa cruzou na direita e Diana Silva, muito oportuna, escapou às torres neerlandesas para cabecear para dentro da baliza (47′). Os Países Baixos procuraram reagir de imediato, com Roord a bater Inês Pereira com um pontapé forte na grande área, mas o golo foi anulado por fora de jogo de Beerensteyn e o empate manteve-se (53′).

Portugal manteve-se a bom nível, com Jéssica Silva a espalhar magia no corredor direito e Catarina Amado a assinar mais uma exibição quase brilhante, mas a qualidade individual acabou por fazer a diferença: Van de Donk, com um pontapé perfeito de fora de área que entrou diretamente no ângulo da baliza de Inês Pereira, voltou a colocar os Países Baixos em vantagem (62′). Mark Parsons foi o primeiro a mexer, trocando Olislagers por Casparij, e Francisco Neto respondeu com as entradas de Fátima Pinto e Kika Nazareth para os lugares de Dolores e Joana Marchão, passando Ana Borges para a esquerda da defesa.

Até ao fim, Vanessa Marques e Carolina Mendes ainda entraram, os Países Baixos geriram a vantagem e Portugal já não conseguiu recuperar o empate, acabando por perder com a seleção que é campeã europeia em título. Ainda assim e apesar da derrota, a Seleção Nacional voltou a mostrar que não foi ao Europeu apenas para sonhar — e que o futebol feminino português é real e recomenda-se. A seleção de Francisco Neto mantém um ponto no Grupo C, menos três do que os quatro da Suécia e dos Países Baixos, e a verdade é que depende apenas de si e do resultado que fizer no domingo contra as suecas (17h) para ainda discutir o apuramento para os quartos de final.