O CEO do Grupo Volkswagen, Herbert Diess está apostado em liderar a venda global de veículos eléctricos e toda a estratégia implementada – com novos veículos, plataformas específicas para carros a bateria e fábricas optimizadas para as novas necessidades – suporta essa ambição de domínio do mercado. Mas parece que alguém se “esqueceu” novamente da importância do software, a programação que faz funcionar tudo o resto e que, ao estar aquém das expectativas, continua a atrasar projectos importantes para marcas como a Audi, Volkswagen, Porsche e Bentley.

Os problemas com o software arrancaram em simultâneo com o VW ID. 3, o primeiro eléctrico da nova vaga do grupo alemão. Dada a enorme experiência que possuía na fabricação de veículos, fruto de ser, à época, o maior grupo mundial, a Volkswagen AG sabia que o software era determinante nos veículos eléctricos. Daí que tenha reforçado internamente este departamento, a que juntou prometedoras dezenas de startups especialistas nesta área, que adquiriu. Mesmo assim, os resultados ficaram aquém do previsto.

As dificuldades com software ficaram associadas aos primeiros modelos lançados, sobretudo com o ID. 3, que foi o primeiro a ser comercializado em finais de 2019. Entre outros problemas, foi preciso esperar dois anos para que finalmente fosse anunciada a possibilidade de realizar actualizações de sofware over-the-air (OTA), para manter os modelos já entregues actualizados sem necessidade de visitar a oficina. Em 2022, o grupo alemão volta a falhar nesta matéria, ainda que aparentemente a outro nível.

Depois da plataforma específica para eléctricos de pequena e média dimensão, a MEB, que serviu VW (ID. 3, ID. 4, ID. 5 e ID. Buzz), Audi, Skoda e Cupra, tendo também sido vendida à Ford, a Volkswagen AG começou a desenvolver a nova plataforma PPE para as gamas média e alta, destinada a servir alguns modelos da VW, mas muitos da Audi, Porsche, Bentley e, certamente, a Lamborghini, cujo primeiro eléctrico a ser fabricado será um SUV.

De acordo com a publicação alemã Automobilwoche, o projecto Artemis da Audi, que irá originar modelos eléctricos como os futuros A6, A7 e A8, além dos SUV correspondentes, deveria chegar no mercado em 2024, mas terá sido atrasado para 2027. A VW tem problemas similares com a berlina topo de gama Trinity, prevista para 2026 e que previsivelmente irá derrapar mais um ano. A Porsche também tem modelos apoiados na PPE, a começar pelo Macan eléctrico, também ele ameaçado por atrasos, com a marca alemã a ter já admitido à Automotive News que “o hardware existe, mas ainda falta software”. O mesmo acontecerá com a Bentley e a Lamborborghini, para os SUV e berlinas eléctricos.

O grupo alemão reconhece que o software de um veículo é hoje tão importante quanto um modelo ser atraente ou potente, o que explica o recurso a um maior apoio de empresas germânicas na área da programação. Daí que tenha anunciado em Janeiro a criação da Cariad, em parceria com a Bosch, destinada a desenvolver software para funções avançadas de assistência à condução. E esta associação à Bosch acaba por ser uma admissão de necessidade de ajuda externa, uma vez que até então a Cariad era um projecto interno visando a condução autónoma. É precisamente o software que deveria ser proporcionado pela Cariad que está a atrasar os novos veículos a conceber sobre a PPE.

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