O Banco Mundial estima que o crescimento económico registado em 2021 em Cabo Verde permitiu reduzir em 6,5% na pobreza no arquipélago, apesar de reconhecer que a pandemia fez reverter os ganhos dos últimos anos.
De acordo com o relatório “Cabo Verde Economic Update 2022”, apresentado esta terça-feira na Praia pelo Banco Mundial, a taxa nacional de pobreza — segundo a instituição estabelecida num rendimento inferior a 5,4 dólares (5,3 euros) por dia, por pessoa — aumentou no arquipélago de 28% em 2019 para 35% em 2020, “revertendo o progresso feito desde 2015”.
A recuperação económica em 2021 levou a uma ligeira redução da pobreza” em Cabo Verde, que segundo o Banco Mundial rondava no final do ano os 33%, tratando-se por isso de uma “redução da pobreza efetiva de 6,5% em comparação com 2020”.
O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística desde março de 2020 — setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego -, devido às restrições impostas com a pandemia de Covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística, sobretudo no último trimestre. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4%.
O relatório do Banco Mundial, intitulado “Potenciais Dividendos Digitais de Cabo Verde”, centra-se na importância de se retornar à sustentabilidade fiscal e, nesse quadro, no papel que as Tecnologias de Informação e Comunicação podem assumir no fortalecimento das bases para uma recuperação económica inclusiva e sustentável, explica a instituição.
Segundo o documento, nas áreas rurais, “por causa da retoma do crescimento na agricultura e pesca, a pobreza reduziu três pontos percentuais, de 45% em 2020”. Já a pobreza urbana “também diminuiu”, mas dois pontos percentuais, para 28% em 2021, “refletindo a recuperação das atividades de serviços (particularmente comércio), transportes e serviços públicos”.
Para o Banco Mundial, a campanha de vacinação contra covid-19 iniciada em março de 2021 e que se veio a revelar “abrangente”, com praticamente toda a população adulta atualmente com pelo menos uma dose da vacina, operação alargada em dezembro passado aos adolescentes (12 a 17 anos) e apoiada financeiramente por aquela instituição, foi “fundamental para a recuperação durante o segundo semestre” do ano passado.
“Cabo Verde administrou cerca de 700.000 doses de vacinas obtidas pelo mecanismo Covax e doações de países parceiros. Grande parte do progresso foi feito entre junho e outubro e, em meados de abril de 2022, 74% da população adulta elegível havia recebido duas doses, 76,9% dos adolescentes elegíveis pelo menos uma dose e reforços tinham sido aplicados a 15,8% dos adultos elegíveis”, descreve o relatório.
O Banco Mundial sublinha que as doses de vacinas administradas em Cabo Verde “são muito superiores às médias mundiais e da África subsaariana”, ocupando o país o quarto lugar naquela região africana, com 108,85 doses administradas por 100 pessoas.
Ainda sobre a recuperação económica, o relatório do Banco Mundial recorda que o PIB de Cabo Verde cresceu em 2021 (7%) “a partir de um nível excessivamente baixo de 2020, refletindo uma recuperação económica gradual”.
“O consumo público e privado impulsionou o crescimento económico, apoiado pela reabertura gradual da economia e por medidas tomadas pelo Governo para apoiar negócios e setores mais afetados”, reconhece o relatório da instituição.
Acrescenta que o comércio e a construção “impulsionaram o crescimento económico, enquanto a hotelaria e a restauração permanecem em níveis bastante baixos”, e que “globalmente, o desempenho do setor dos serviços melhorou, refletindo a reabertura gradual do setor do turismo, com repercussões noutros setores”.