Na freguesia de Verdelhos, no concelho da Covilhã, é tempo de “lamber as feridas”, depois de uma terça-feira em que os habitantes viveram um “grande susto”, e onde “o fogo pôs Verdelhos de luto”.

Nos locais onde o fogo, que lavra desde sábado, passou na terça-feira, restam algumas fumarolas, uma serra pintada a negro e, o cheiro intenso a fumo ainda não abalou.

A Lusa fez o percurso entre o Teixoso e Verdelhos, uns escassos 13 quilómetros de estrada que separam as duas freguesias do concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco), onde o pano de fundo é uma enorme coluna de fumo que se estende pela serra dentro.

À entrada da freguesia, ainda se encontram alguns carros de bombeiros, estrategicamente colocados para fazer face a algum reacendimento que surja na encosta da serra, onde ainda são visíveis fumarolas que teimam em desaparecer.

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José Luís, de 77 anos, emigrante em França, diz que ainda não sabe se lhe ardeu alguma propriedade.

“Tenho um bocado de terreno e tenho lá uma palheira. Não sei se ardeu”, afirmou à agência Lusa.

Este emigrante em França não tem dúvidas em dizer que “os bombeiros não trabalharam como devia de ser. Quando o vento se levantou já não podiam fazer mais nada. Tanta aviação e no final ardeu tudo“, disse.

Com o olhar pregado no manto preto que está mesmo à sua frente, este pedreiro reformado recorda os momentos de pânico que se viveram na tarde de terça-feira: “Houve muitas pessoas que abalaram daqui. Eu fiquei”.

E, em tom de desabafo, José Luís, que tem vindo todos os anos a passar férias a Verdelhos, diz que houve a hipótese de “o segurar [fogo] lá em cima, mas ele continuou com o vento”.

Pois é! O fogo pôs Verdelhos de luto”, disse.

Já o seu colega, Adelino Luís, de 82 anos, entende que “os bombeiros não são os culpados. É quem os manda”.

Com um misto de revolta e de resignação, este emigrante em França que já não vinha à terra há cerca de três anos, adianta que “havia ervas a arder e eles [bombeiros] diziam que não tinham ordens do chefe [para apagar o fogo]”.

Um pouco mais à frente, junto ao largo da Junta de Freguesia, mesmo no centro de Verdelhos, Aníbal Fazendeiro, de 78 anos, aproveita a sombra, sentado no banco de madeira do pequeno jardim que ali existe.

Este reformado da Carris que voltou para a sua terra natal há cerca de 10 anos, aponta as baterias aos “soldados da paz”.

“O que vejo é que têm o fogo ao pé deles [bombeiros] e não o apagam. Dizem que não estão autorizados”, afirmou.

Aníbal Fazendeiro ainda não entende como é que um fogo que começou na Aldeia do Carvalho não foi logo controlado.

Veio por ali acima [serra] e eles [bombeiros] deixaram andar. Só quem apaga é a aviação. Têm que atacar logo ao princípio”, desabafa.

O ex-funcionário da Carris diz que “há muita gente a mandar”, apesar de concordar que a prioridade seja a defesa dos habitantes.

“Mas, antes do fogo aqui chegar, podiam atuar. Acho que está mal”, conclui.

Já Daniela Correia, a presidente da Junta de Freguesia de Verdelhos, fala de uma terça-feira de “pânico”, onde uma manhã de calmaria deu lugar a uma tarde de “pânico”, onde a situação era “incontrolável”.

As condições meteorológicas não ajudaram e a situação descontrolou-se completamente”, afirma.

A autarca entende que o incêndio devia de ter sido controlado na Vila do Carvalho, onde deflagrou e “não foi”.

“Felizmente aqui, hoje está tudo mais calmo, mas foi um grande susto. A minha casa esteve ameaçada pelas chamas e perdi alguns terrenos com culturas, vinha e pinhal. O prejuízo é avultado”, disse.

A autarca explicou também que há uma associação, “Os Guardiões da Serra” que já disponibilizaram ajuda para os habitantes da freguesia, nomeadamente, “comida para os animais”.

“Estamos a aguardar a sua vinda para depois, juntamente com a Junta de Freguesia, fazermos a distribuição por quem precisa”, sublinhou.

A freguesia de Verdelhos tem cerca de 600 habitantes, número esse que aumentou para os 800 nas férias, período em que os emigrantes regressam à terra natal.

Este incêndio deflagrou às 03h18 de sábado, na localidade de Garrocho, freguesia de Cantar-Galo e Vila do Carvalho, no concelho da Covilhã (Castelo Branco), e alastrou para Manteigas, no distrito da Guarda.

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