Populares e ativistas contra as minas bloquearam esta terça-feira a porta do escritório da Savannah, em Boticas, num protesto simbólico contra a empresa e que visou alertar para a escassez de água e o consumo “excessivo” pela mineração.

“Fora Savannah das nossas montanhas” foram as palavras de ordem mais repetidas em Boticas, a sede do concelho onde a empresa quer explorar lítio e outros minerais associados.

Junto ao escritório da Savannah, localizado no centro da vila e mesmo e em frente à câmara municipal, os manifestantes colocaram sacos de terra para bloquear a porta, um grande cartaz onde se podia ler “Enterro da mineração, não passarão” e sentaram-se no passeio.

Lá dentro não se encontrava ninguém. No final, deixaram bonecos, encostados à parede, que queriam representar elementos da empresa bem como membros do Governo, nomeadamente o primeiro-ministro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Isto foi uma forma de demonstrar à empresa que, daqui, não passarão. Nós estaremos aqui para impedir que a empresa abra seja que tipo de mina for”, afirmou o presidente da associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, Nelson Gomes.

O responsável disse tratar-se de uma iniciativa simbólica, mas que revela que a “empresa não é bem-vinda” e que “não é este tipo de desenvolvimento que se quer para este território”, classificado como Património Agrícola Mundial.

“Não é com minas que vamos resolver o problema do Interior e este é um bom ano – porque estamos em seca extrema – para alertar para a falta de água e que a extração mineira só vai piorar esse problema”, frisou.

Este é, precisou, um dos focos da manifestação: “Este ano a aldeia já está com falta de água e a mineração só vai agravar esse problema. Se já não temos água suficiente para alimentar os animais e as pessoas que vivem lá, como é que vamos ter água para sustentar uma mina que consome mais água que o próprio concelho durante o ano inteiro?”, questionou.

O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, confirmou as dificuldades de abastecimento de água sentidas este verão, em Covas do Barroso, onde, pela primeira vez nesta aldeia, está a ser necessário proceder a reabastecimentos dos depósitos.

E a questão da água, frisou, foi sempre um dos argumentos apresentados pelo município contra a mina e o ano sem chuva só vem dar “mais razão” à contestação.

Se eventualmente este ano já houvesse mina a laborar, era uma desgraça completa. Este ano a própria zona de Covas do Barroso está com pouca água. Agora, a quantidade de água imensa precisa para a lavaria da empresa é uma coisa assustadora. Não há rios, não há nascentes, furos que consigam sustentar isso”, salientou.

“O povo do Barroso não quer minas”, “Barroso unido jamais será vencido”, “A terra não se vende, se ama e se defende” e “Sai do passeio e vem para o nosso meio”, foram outras das palavras de ordem que se ouviram durante toda a manhã na vila, onde se juntaram moradores do concelho e ainda ativistas, alguns dos quais acamparam entre sexta e segunda-feira, em Covas do Barroso.

Em dia de feira em Boticas, eram também muitos os populares pelas ruas, assim como emigrantes e, por isso, o incentivo dos manifestantes para que se juntassem ao protesto.

A música também se transformou numa arma de protesto no Barroso. Escrita pelo apicultor Carlos Gonçalves, a cantiga “Exploração” tornou-se numa espécie de hino que encabeça os protestos contra a mina que a Savannah quer explorar em Covas do Barroso, aldeia do distrito de Vila Real.

“Barroso, Barroso, Barroso, o povo tem de se ouvir, querem dar cabo das serras Barroso, nós não o vamos permitir” é o refrão da música que o autor diz que resume o sentimento das pessoas que vivem neste território “ameaçado”

Aos 86 anos, António Gonçalves, que reside em Covas do Barroso, fez questão de se juntar ao protesto.

Na sua opinião, se a mina abrir, a aldeia fica “a não valer nada”. “Nem temos gado, nem verdura, a água fica contaminada, a poeira vem tomar conta de tudo. Estou preocupado, estou a ver que temos que arrancar de lá”, lamentou.

Eleanor Winkler veio das Caldas da Rainha para se juntar ao acampamento e defender a “terra e as pessoas” que aqui vivem das “corporativas gigantes” que “querem destruir e poluir de forma terrível”.

A mina do Barroso situa-se em área das freguesias de Dornelas e Covas do Barroso e está prevista uma exploração de lítio e outros minerais a céu aberto. A área de concessão prevista é de 593 hectares.

Um ano depois de ter terminado a consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental da minha do Barros, a Savannah Resources informou, no início de julho, que foi notificada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para reformular o projeto, antes da emissão da Declaração de Impacte Ambiental (DIA).