Foi quase uma resposta, um salto de raiva, uma necessidade de mostrar que é o melhor do mundo e que não baixava a fasquia nos Europeus. Não teve propriamente a marca mais conseguida sobretudo quando se fala de alguém como Pedro Pablo Pichardo mas deixou um statement para aquilo que esperava fazer na prova decisiva, na noite desta quarta-feira. E, também por isso, partia com um amplo favoritismo.

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“A ver se as coisas se alinham. Vim cá para ganhar a medalha de ouro e fazer um bom salto. Vamos esperar a ver o que acontece”, disse, à agência Lusa, após se qualificar para a final. No primeiro salto fiz um mau apoio, o que deixou o meu treinador [e pai] chateado não gostou. O segundo foi muito bom, consegui ultrapassar a marca de qualificação e cumprir o objetivo”, comentou depois da qualificação com a melhor marca de 17,36. “Durante a competição, eu e o meu treinador quase não falamos. Só nos olhamos e já sei o que tenho de fazer. Falamos pouco. Além de treinador e meu pai, é o meu melhor amigo. Isso ajuda muito nos resultados do Pedro Pichardo. Temos muita confiança, ajuda-me muito”, acrescentou.

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Munique iria funcionar como uma espécie de fim de ciclo mais denso em competitivos do que é normal mas que colocou Pichardo como o melhor na conjugação de vários fatores: momentos certos mediante as provas em causa, queda a pique dos dois norte-americanos que dominavam o triplo (Christian Taylor e Will Claye), irregularidade dos novos talentos que foram aparecendo, escolha certa das competições para cruzar com os picos ao longo da época. Com isso, e ao longo de um ano e meio, o português teve um período de ouro a “vingar” a desilusão do quarto lugar nos Mundiais ao Ar Livre de Doha, em 2019: foi campeão europeu de Pista Coberta em março de 2021 mesmo com uma marca modesta que deixou o próprio chateado (17,30), voou para o ouro olímpico em Tóquio (17,98), foi vice-campeão mundial de Pista Coberta (17,46), sagrou-se campeão mundial ao Ar Livre no último mês em Eugene (17,95). Só faltava mesmo o Europeu.

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Para se ter noção da diferença de patamares entre Pichardo e a concorrência, um exemplo prático: só a diferença entre a melhor marca do ano entre o português, líder do ranking europeu, e o segundo melhor do Velho Continente, o italiano Andrea Dallavalle, era de 67 centímetros. Mais: mesmo não sendo a melhor referência por se tratar somente do apuramento para a final, apenas outro transalpino, Emmanuel Ihemeje, conseguiu passar a fasquia dos 17 metros (17,20). Era também por isso que, em paralelo com a luta pela medalha de ouro nos Europeus, Pichardo teria novamente uma luta contra si mesmo por um objetivo que parecia em Munique mais remoto mas que não sai da cabeça do saltador: passar a fasquia dos 18 metros por Portugal, uma marca que sentia ter nas pernas em Tóquio e em Eugene mas que não atingiu.

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Ao contrário do que aconteceu no ano passado nos EUA, o primeiro salto de Pichardo foi muito modesto a 17,05, ainda assim suficiente para liderar a prova depois de vários nulos de outros atletas incluindo o outro português na final, Tiago Pereira. O nível da final começava muito por baixo, de tal forma que o britânico Ben Williams, que em condições normais estaria a lutar para entrar nos três últimos saltos como um dos oito melhores, ocupava a segunda posição com 16,66. A segunda ronda começou a “normalizar” a situação sobretudo em relação ao saltador português, que marcou 17,50 e ganhou boa margem na liderança. Era altura de arriscar com aquilo que parecia ser uma vantagem confortável, o que levou a um nulo.

Naquela que foi a grande surpresa da parte inicial, o italiano Emmanuel Ihemeje acabou por não passar da nona posição, falhando os últimos três saltos que começaram com Tiago Pereira a fazer 16,60, sem sair do oitavo lugar. O francês Jean-Marc Pontvianne fez mais um nulo e continuou com 16,94, o italiano Andrea Dallavalle teve também um salto nulo e manteve o 16,84. Marcas muito baixas num concurso nivelado por baixo e que levou a que Pichardo prescindisse do quarto e do quinto saltos, apesar de Dallavalle ter sido o primeiro além de si a passar a barreira dos 17 metros (17,04) para posição de medalha de prata por troca com o gaulês. Já Tiago Pereira, com dois nulos consecutivos, acabou na oitava posição antes de Pedro Pablo Pichardo, já campeão europeu, ultrapassar a fasquia dos 17,50 mas numa tentativa nula.