Não foi uma tentativa falhada, podia ter sido uma tentativa mais conseguida. Ao contrário do que tinha acontecido nas duas primeiras semanas de Vuelta, João Almeida voltou a assumir o protagonismo como elemento ao ataque na etapa. Na chegada ao Mosteiro de Tentudía, arrancou na última parte e ganhou alguns segundos a toda a concorrência; na tirada do Alto del Piornal, fugiu dos líderes ainda a mais de 90 quilómetros, teve a companhia de Ivo Oliveira a descer, contou com a ajuda (talvez um pouco tardia) de Marc Soler a subir mas acabou intercetado pelos primeiros classificados, ganhando ainda assim uma boa vantagem em relação a Carlos Rodríguez, corredor da Ineos que teve uma queda logo no início.

O Bota Lume apareceu no dia em que Remco fez xeque à vitória: João Almeida faz top 10 na etapa e fica mais próximo do 4.º da geral

Contas feitas, a UAE Emirates, que já ganhou uma etapa com Marc Soler, manteve o terceiro lugar de Juan Ayuso alcançado depois da desistência de Primoz Roglic, colocou João Almeida mais próximo da quinta posição (25 segundos de Carlos Rodríguez) e até da quarta (1.18 de Miguel Ángel López). Ainda assim, e pelo que fizera nos dois últimos dias, existia a dúvida sobre a condição do português naquela que seria a tirada de transição para o dia decisivo em Navacerrada. Havendo duas partes de média montanha mas com uma chegada a descer, três cenários estavam em aberto: o triunfo da fuga, uma chegada em bloco ou os habituais ataques surpresa. E isso dependeria sobretudo de quem agarrava na frente do pelotão.

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Logo a abrir, e numa informação que iria marcar os últimos dias, Carlos Rodríguez foi alvo de observação para se perceber até que ponto as lesões que sofrera na véspera poderiam ser limitativas de continuar na Vuelta. Não foram. E foi o próprio corredor espanhol que afirmou isso ao Eurosport, explicando que não teve a melhor noite depois daquela queda mas que “podia ser pior” – tal como aconteceu com Jay Vine.

No início da etapa, marcada pela homenagem de todos os britânicos à Rainha Isabel II, o ataque de 16 corredores ficou reduzido a um grupo só de três elementos: Jonathan Caicedo (EF Education), Brandon McNulty (UAE Emirates) e Ander Okamika (Burgos-BH). Pouco depois Lawson Craddock (BikeExchange) tentou também colar nos fugitivos mas, após ter uma diferença nos 40 segundos, acabou por cair até ao pelotão. Ainda houve mais tentativas mas o trabalho da Bahrain e da Trek no pelotão, sempre a pensar nos possíveis triunfos de Fred Wright e Mads Pedersen, acabou por juntar de novo todo o grupo.

Se até aí a etapa (mais curta do que tem sido hábito, com menos de três horas e meia na estrada) ainda parecia que podia mexer, a partir desse momento não demorou a perceber-se que seria apenas um longo caminho sem grandes alterações com as equipas que tinham ainda os homens mais rápidos para discutir tiradas ao sprint (a Bora já não podia dizer isso depois de Sam Bennett contrair Covid-19) a procurarem a melhor posição possível no grupo até porque antes Richard Carapaz já tinha somado mais pontos para a camisola da montanha. Na decisão, Mads Pedersen conseguiu a terceira vitória nesta edição, batendo Fred Wright que se tinha colocado na sua roda e passando a ser o corredor com mais triunfos.

Assim, tudo continua na mesma em termos de classificação geral antes da decisiva etapa de Navacerrada: o belga Remco Evenepoel (Quick-Step) lidera com 2.07 de vantagem sobre Enric Mas (Movistar) e 5.14 sobre Juan Ayuso (UAE Emirates), seguindo-se Miguel Ángel López (Astana, 5.56), Carlos Rodríguez (Ineos, 6.49), João Almeida (UAE Emirates, 7.14), Thymen Arensman (Team DSM, 8.09), Ben O’Connor (AG2R Citröen), Rigoberto Urán (EF Education, 9.56) e Jai Hindley (Bora, 12.03).