Se dúvidas ainda existissem, a meia-final da Supertaça de andebol entre FC Porto e Benfica mostrou bem a competitividade que a temporada vai trazer a nível de três “grandes”. É certo que o fosso para os restantes conjuntos vai provavelmente aumentar, apesar de algumas surpresas que possam aparecer em períodos de maior densidade competitiva com as competições europeias, mas a valia dos plantéis dos rivais promete encontros com ainda maior qualidade e incerteza. Foi isso que aconteceu no clássico, que acabou com a vitória dos encarnados por 37-36 após dois prolongamentos. Era isso que se esperava na final da prova frente ao Sporting, que depois do empate a 16 ao intervalo venceu o Belenenses por claros 38-24.

73 golos, dois prolongamentos, muita incerteza e a decisão: Benfica bate FC Porto e está na final da Taça de Portugal de andebol

“Podia ter ganhado qualquer um. As duas equipas fizeram um trabalho extraordinário, ainda para mais na fase da época em que estamos. Desta vez tivemos a sorte e ganhámos nós. Reação à pressão? Creio que já temos vindo a demonstrar noutros anos mas somos cada vez mais consistentes e sólidos. Demonstrámos que quando uma equipa nos ganha, tem que o fazer muito bem e tem que lutar muito. Agora o nosso maior adversário vai ser a fadiga. Jogámos 80 minutos, muitos jogadores já estavam no final bastante cansados e com cãibras, como é normal. O calor que faz aqui [em Serpa] é horrível mas estamos na final e agora é o sonho que temos, é tentar ganhá-la”, comentara Chema Rodríguez, treinador do Benfica.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Queria dar os parabéns ao Belenenses pela primeira parte que fez. O Edvaldo atirou várias vezes de fora e tiveram uma eficácia muito alta de ataque. Tentámos retificar as coisas e do ponto de vista mental houve uma grande resposta da equipa. Final? Os jogos são sempre de tudo ou nada para nós. Para nós é tão importante chegar à final como agora ganhar, mas sabemos que são duas equipas muito equilibradas e diria que há 50/50 de possibilidades para cada lado. Vantagem pela meia-final? Não existe. É verdade que não há jogos fáceis, tanto que não há jogos fáceis que ao intervalo estava empatado e tivemos de colocar toda a nossa competência e foco em campo”, salientara Ricardo Costa, técnico do Sporting.

Quatro anos depois, a Supertaça voltava a ser decidida por um dérbi que abria perspetivas diferentes para ambos os conjuntos, com o Benfica a poder juntar-se a ABC e FC Porto como clube com mais títulos na competição (sete) e o Sporting a procurar a primeira vitória em decisões diante dos encarnados depois das derrotas em 1989 (24-24, 19-19 e 24-17), 2012 (29-26) e 2018 (29-24). No final de um jogo que chegou a parecer resolvido perante a vantagem de nove golos dos encarnados na segunda parte até 20 minutos diabólicos dos leões que levaram tudo para prolongamento, a vitória caiu para o Benfica.

O encontro começou com os dois guarda-redes a brilhar. Sergey Hernández na baliza do Benfica, Leonel Maciel (argentino ex-Barcelona) no Sporting, um golo apenas com quatro minutos de jogo por Djordic. Os encarnados foram depois crescendo perante um conjunto verde e branco demasiado dependente das ações de Francisco Costa, chegando pela primeira vez aos dois golos de vantagem (4-2) e fazendo um parcial de 5-0 que começou com menos um jogador, deixando o ataque contrário em branco durante mais do que sete minutos (10-5). Ricardo Costa ia experimentando diferentes alternativas de primeira linha mas a defesa do Benfica era um autêntico muro, com o intervalo a chegar com a diferença de seis golos (15-9). Adam Juhasz, central húngaro ex-Tatabanya, era o melhor marcador encarnado ao intervalo (quatro).

O Sporting foi experimentando diferentes tipos de defesa, trocou Maciel por Manuel Gaspar na baliza mas o problema estava mesmo no ataque, com a equipa a não conseguir materializar os poucos erros ofensivos que o Benfica ia cometendo e a ver a diferença subir para os oito golos ainda nos minutos iniciais do segundo tempo, resolvendo por completo a questão do vencedor e permitindo até fazer a tal gestão que iria sempre existir perante o desgaste da véspera. Numa fase de risco com duas defesas individuais e linhas mais subidas os leões reduziram a desvantagem de nove para apenas um golo (29-28), conseguindo uma recuperação que já poucos acreditavam e que levou o encontro a novo empate a um minuto e meio do final após mais uma perda de bola do ataque dos encarnados com golo de Martim Costa (32-32). A última posse ainda foi mesmo do Sporting mas Sergey Hernández defendeu e foi tudo para prolongamento.

Voltava tudo a uma espécie de “estaca zero”, com os leões em vantagem no plano anímico e também na parte física, sendo notório o desgaste que algumas unidades dos encarnados iam acusando. E voltou a ser mesmo tudo até à última com várias exclusões à mistura que já se justificavam pelo cansaço acumulado, tanto que os dez minutos do prolongamento esgotaram-se com uma reunião entre árbitros e mesa para perceber se o último golo de Rahmel tinha ou não sido válido quando o Sporting marcara o 38-37 a menos de cinco segundos do final, com o empate a ser mesmo considerado para novo tempo extra que voltou a ter o melhor Sergey Hernández na baliza, com defesas decisivas para o 45-43 final de um jogo que foi mais uma maratona com dois prolongamentos mas que se tornou ainda mais um hino ao andebol.