O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse esta segunda-feira que as crises globais “atiram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para fora de alcance” e pediu unidade aos líderes internacionais para “recolocar o mundo nos eixos”.

O pedido de Guterres foi feito em Nova Iorque, na abertura do “Momento ODS”, um dos eventos mais importantes da 77.ª sessão da Assembleia-Geral da ONU e visto como uma oportunidade para reorientar a atenção para os objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas.

Guterres avaliou que os ODS estão cada vez mais longe de serem atingidos, com o mundo em “grande perigo”, afetado por “conflitos e catástrofes climáticas, “desconfiança e divisão”, “pobreza, desigualdade e discriminação”, “aumento dos custos de alimentos e energia”, “desemprego e rendimentos em declínio”, “deslocamentos em massa”, “efeitos contínuos de uma pandemia global” e “falta de acesso a financiamento para os países em desenvolvimento recuperarem da maior crise numa geração”.

Diante de tais perigos, é tentador deixar de lado as nossas prioridades de desenvolvimento de longo prazo, deixá-los para tempos mais favoráveis. Mas o desenvolvimento não pode esperar”, frisou, apontando para a urgência de avanços na Educação, emprego digno, igualdade total para mulheres e meninas, Saúde, ação climática significativa e proteção da biodiversidade.

De acordo com o ex-primeiro-ministro português, os jovens — e as gerações futuras — exigem ação por parte dos líderes internacionais e “não podem ser dececionados”.

Num momento em que chefes de Estado e de Governo de todo o mundo se encontram reunidos na sede da ONU, em Nova Iorque, Guterres tem nessa reunião “esperança de que possam colocar a mão na roda do progresso e seguir um novo rumo”.

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Numa longa lista de necessidades e objetivos, o líder da ONU advogou ser preciso um maior financiamento e investimento dos setores público e privado; uma arquitetura financeira reformada que beneficie os países em desenvolvimento através de financiamento crítico e alívio da dívida; que Governos invistam fortemente na saúde, educação e bem-estar de todas as pessoas — incluindo refugiados e migrantes; assim como uma proteção social universal expandida para proteger os cidadãos contra choques económicos, ao mesmo tempo em que aumenta a criação de empregos.

Em relação ao clima, uma das maiores prioridades de Guterres, este exortou para que seja travada a “dependência suicida de combustíveis fósseis e iniciada a transição de energia renovável em todos os países”.

Precisamos de salvar o nosso planeta — que está literalmente a arder. Isso significa enfrentar a tripla crise planetária de colapso climático, perda de biodiversidade e poluição”, sublinhou.

Sem referir diretamente a guerra da Rússia na Ucrânia, António Guterres salientou que “acima de tudo, não pode haver futuro sustentável sem paz”.

“A tarefa diante de nós é imensa. (…) Vamos ao trabalho. Vamos colocar o nosso mundo de volta nos eixos”, conclui o chefe das Nações Unidas, apontando a necessidade de unidade perante “os perigos que enfrentamos”.

Também o presidente da 77ª Assembleia-Geral, Csaba Korosi, discursou no “Momento ODS”, avaliando que este não é um evento político comum, mas um alerta anual, um “lembrete para todos nós do que deveríamos ter feito e, mais importante, o que devemos fazer para tornar realidade a visão da Agenda 2030”.

Com um discurso mais duro do que o de Guterres, o diplomata húngaro recordou que quando os ODS foram criados, foi alcançada uma “união entre o sul e o norte do globo para um acordo histórico”, mas advogou que os Estados-Membros estão esta segunda-feira a falhar nos seus objetivos.

Aceito que tivemos a Covid-19 a varrer o mundo, mas isso não pode ser desculpa para a inação nos restantes ODS”, disse.

“Precisamos de iniciativas da sociedade civil, da voz e da paixão da juventude, do apoio do setor privado mas, sobretudo, a vós, Estados-Membros, para cumprir as promessas feitas. Os 17 Objetivos Globais são a nossa ‘Lista de Tarefas’. Eles devem ser a lista de tarefas de todos os líderes nesta sala. Nós somos as pessoas que podem fazer isso”, concluiu Korosi.