Quinze jogadoras renunciaram à equipa nacional, em guerra aberta com o selecionador, Jorge Vilda. Numa série de e-mails, as atletas exigem mesmo a demissão do técnico como condição para voltarem a representar a Roja. Este novo capítulo na guerra entre jogadoras e federação espanhola surge três semanas depois de vir a público o clima de tensão vivido no seio da equipa, em que as jogadoras contestam as escolhas táticas, metodologias de treino e gestão do grupo do seu selecionador.
A informação foi confirmada na quinta-feira pela Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Em comunicado, o organismo assume ter recebido quinze e-mails, todos com o mesmo texto, no qual as jogadoras alegam que a situação lhes tem prejudicado a saúde e causado “transtorno emocional”, e que, enquanto Vildas estiver no cargo, não voltarão a vestir a camisola vermelha da seleção.
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Selección absoluta femenina de fútbol???? https://t.co/TojMlGrRe6 pic.twitter.com/Da3zAtHZ8c
— RFEF (@rfef) September 22, 2022
Os nomes das atletas não foram oficialmente revelados, mas o jornal desportivo Marca avançou com uma lista das jogadoras renunciantes, que inclui nomes como Aitana Bonmatí, campeã europeia pelo Barcelona, Lola Gallardo, guarda-redes do Atlético Madrid, e a defesa Ona Batlle, do Manchester United. De fora da lista estão figuras como Alexia Putellas, a mais recente vencedora da Bola de Ouro, ou a atual capitã da seleção, Irene Paredes.
A Federação Espanhola demonstrou apoio público ao técnico, garantindo que não irá ceder ao ultimato. No comunicado, refere que “não vai permitir que as jogadoras questionem a continuidade do selecionador nacional e da sua equipa técnica, pois essa decisão não é da sua competência”.
Esta deixou de ser uma questão desportiva e passou a ser uma questão de dignidade. A seleção é inegociável. É uma situação sem precedentes na história do futebol, masculino ou feminino, espanhol e mundial” refere o comunicado.
O organismo lembra ainda que, de acordo com a legislação espanhola, recusar-se a representar o país é uma infração grave, punível com até 5 anos de suspensão da atividade profissional. Garante no entanto que, “ao contrário das jogadoras”, não recorrerá a medidas extremas, e irá convocar apenas as atletas que estejam dispostas a jogar pela seleção, “nem que para isso tenha de jogar com juvenis“.
A Federação termina o comunicado garantindo que as jogadoras que renunciaram só voltarão a envergar as cores da seleção espanhola “se assumirem o erro que cometeram e pedirem desculpas”.
O mal-estar começou há cerca de três semanas após a prestação da Espanha no Europeu Feminino, realizado este ano em Inglaterra. Apontada como uma das favoritas à conquista do troféu, a turma de Vilda acabou por ser eliminada aos pés da anfitriã nos quartos-de-final. A Inglaterra viria a sagrar-se campeã europeia, enquanto que as escolhas do selecionador espanhol foram bastante contestadas.
As porta-vozes do grupo — Alexia Putellas, Irene Paredes, Patrícia Guijarro e Jennifer Hermoso — terão então solicitado ao presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales, que demitisse o técnico, bem como o presidente do Comité de Futebol Feminino, Rafael del Amo.
Rubiales colocou-se ao lado de Vilda, que mais tarde, em conferência de imprensa, criticou a atitude das jogadoras, acusando-as de terem “ultrapassado os códigos do futebol”, e garantiu ter “mais forças do que nunca para continuar” no cargo. Ao El País, Paredes, Guijarro e Hermoso confirmaram que existiam divergências com o selecionador, mas negaram alguma vez ter pedido a sua demissão.