Camila, Duquesa de Cornualha, é hoje a rainha consorte do Reino Unido e de mais catorze estados independentes que formam os Reinos da Comunidade de Nações, devido ao seu casamento, em 2005, com o rei Carlos III do Reino Unido.
Mas qual é, afinal, a diferença entre o título de ‘rainha’ e o de ‘rainha consorte’? Rainha consorte é um título tradicional destinado à esposa do monarca reinante. O título de ‘rainha’ serve apenas as figuras femininas que se tornam monarcas através da linha de sucessão — como foi o caso de Isabel II (1952-2022) quando o seu pai, o rei Jorge VI (1936-1952), morreu.
Acontece que nem todas as esposas de monarcas se tornaram consortes: umas morreram, outras divorciaram-se e algumas viram os seus casamentos serem anulados ou considerados inválidos — tudo isto antes dos seus maridos ascenderem ao trono. Tais casos incluem:
Sofia Doroteia de Brunsvique-Luneburgo: divorciada antes do cônjuge se tornar monarca
Foi a esposa repudiada daquele que viria a ser o rei Jorge I da Grã-Bretanha (1714-1727). O casamento entre os dois primos, em 1682, uma união arranjada e instigada pelas maquinações dos pais de Jorge, não avistava um final feliz. O divórcio tardou, mas chegou 12 anos depois, antes ainda de Jorge se tornar monarca. Sofia, que ficou mais conhecida pelo seu “affair” com o conde Philip Christoph von Königsmarck, passou os últimos 30 anos da sua vida aprisionada no Castelo de Ahlden.
Maria Fitzherbert: casamento considerado inválido antes do cônjuge se tornar monarca
Pouco depois de completar 21 anos, Jorge, Príncipe de Gales e futuro rei Jorge IV do Reino Unido (1820-1830), apaixonou-se por Maria Fitzherbert, aquela que viria a ser o grande amor da sua vida. Fitzherbert, uma plebeia seis anos mais velha do que ele, duas vezes divorciada e católica, era, de acordo com os cânones da época, completamente inadequada para Jorge. Ainda assim o príncipe estava determinado em casar com ela. A união chocava com o Decreto de Estabelecimento de 1701, que tirava da linha de sucessão qualquer um que se casasse com um católico; e havia ainda o Decreto de Casamentos Reais de 1772, que proibia casamentos sem o consentimento do rei — algo que nunca lhe seria concedido. O casal casou mesmo assim, a 15 de dezembro de 1785, na casa de Fitzherbert, em Mayfair. Legalmente a união era inválida, já que o rei nunca deu o seu consentimento.
Wallis Warfield: casada após o cônjuge abdicar do trono
Também conhecida como Wallis Simpson, a socialite norte-americana tornou-se amante de Eduardo, Príncipe de Gales, em 1934. Dois anos depois, Eduardo ascende ao trono tornando-se no rei Eduardo VIII do Reino Unido (20 janeiro 1936-11 de dezembro 1936). O seu desejo em casar-se com uma mulher com dois ex-maridos (para piorar, ainda vivos), ameaçou o surgimento de uma crise constitucional no Reino Unido e nos seus domínios. Inevitavelmente, tal levou à sua abdicação, em dezembro de 1936, e só assim pôde casar com “a mulher que amo”. Eduardo recebeu o título de Duque de Windsor e Wallis acabou por se tornar, formalmente, na Duquesa de Windsor — sem o título de “Sua Alteza Real” e recebendo o tratamento de “Sua Graça”.
Lady Diana Spencer: divorciou-se e morreu antes do cônjuge se tornar monarca
Lady Di casa-se com Carlos, Príncipe de Gales (atual monarca Carlos III), a 29 de julho de 1981, naquele que viria a ser um dos mais atribulados — e dramáticos — casamentos reais britânicos. Em 1996, e após diversas tentativas de permanecer com Carlos apesar das copiosas adversidades — onde se incluem as traições do Príncipe de Gales com Camila Parker Bowles — divorcia-se. Diana morre um ano depois num trágico acidente de automóvel, em Paris.
Carolina de Brunswick: um caso atípico
Nascida na Alemanha, Carolina casa com Jorge, Príncipe de Gales, futuro rei Jorge IV do Reino Unido (1820-1830), em 1795. Reza a história que, durante a cerimónia, Jorge estava bêbedo (“ele continuou a beber brandy nos três dias que se seguiram ao casamento”) e considerava Carolina “gorda, pouco atraente e pouco higiénica”. O príncipe já tinha sido casado, em segredo, com Maria Fitzherbert, contudo a união não tinha validade legal. Nove meses após o casamento, Carolina dá à luz a princesa Carlota, única filha legítima do rei. À data da sua ascensão, a relação entre ambos encontrava-se nas ruas da amargura. O casal vivia separado desde 1796 e os dois mantinham casos fora do casamento. Carolina, que entretanto havia deixado o Reino Unido, decide voltar para a coroação do marido e reivindicar publicamente os seus direitos como rainha consorte. Jorge, porém, recusa-se a reconhecê-la como a sua rainha. Procurou divorciar-se, mas os seus conselheiros sugeriram que não o fizesse. Após outras tentativas (falhadas) de anulação do casamento, decide excluir a esposa da sua coroação, na Abadia de Westminster, em 1821. Carolina adoece nesse dia e morre a sete de agosto do mesmo ano.