Há cerca de ano e meio, Tiago Flores assumiu um novo desafio: ser o country manager da Xiaomi em Portugal. A marca não era uma completa desconhecida dos portugueses – os telefones a preços acessíveis já eram um cartão de visita – mas a criação de uma equipa local foi encarada como um novo capítulo da presença da tecnológica cá.

“Temos tido resultados e um feedback muito positivo de uma marca que, mesmo anteriormente à constituição de uma equipa local, já era muito presente no mercado e já tinha muitos consumidores”, explica Tiago Flores ao Observador.

A estratégia para Portugal passa pelo “compromisso” de lançar tecnologia “a preços justos”, diz este responsável. “Consideramos que a tecnologia tem de ser inclusiva e não exclusiva e para o maior número de situações da nossa vida do quotidiano. Por isso, não nos parece que nos devamos focar apenas numa categoria ou numa área de produto e consideramos que temos, do ponto de vista tecnológico, capacidade para desenvolver desde uma experiência de smartphones até categorias como aspiradores.”

A estratégia de expansão de produtos tem sido uma das abordagens da Xiaomi em Portugal. “Começámos desde logo a expandir o número de categorias e ofertas dentro do retalho tradicional e operadores — ou seja, os nossos retalhistas parceiros e operadores parceiros, e também através de uma rede própria de lojas.” Nessas lojas é possível encontrar “mais de 600 produtos” que, ainda assim, ficam aquém do leque de “dois mil produtos na China”, o mercado doméstico da companhia. Neste momento, além de telefones, é possível encontrar fritadeiras sem óleo (air fryers) da marca e outros produtos de cozinha, aspiradores ou equipamentos de domótica.

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Tiago Flores é o responsável pela operação da Xiaomi em Portugal.

Os smartphones continuam a dar o maior contributo para o negócio da empresa por cá. De acordo com os números da consultora IDC para o segundo trimestre deste ano, a empresa tinha uma quota de mercado de 30,8%. Mas a ambição da companhia passa por fazer com que o domínio dos telefones se reduza no futuro. “Os smartphones continuam a ter obviamente ainda um peso acima de 50%, que vai nos próximos anos esbater-se”, avança Tiago Flores, incluindo se a gama de produtos aumentar no futuro.

“Ainda estamos a um terço daquilo que temos no mercado doméstico como é a China. A Europa tem um terço dos equipamentos que são vendidos na China e existem muitas categorias que ainda não estão [cá] por uma questão logística, de preparação dos equipamentos, certificações, tudo mais. Mas temos muita procura dos consumidores locais e europeus para trazer cada vez mais equipamentos conectados.”

Uma categoria que a empresa já tem no mercado português é a mobilidade elétrica, através de trotinetes. Numa altura em que os combustíveis pesam mais nas contas das famílias, a empresa tem “sentido positivamente um crescendo de vendas das trotinetes em Portugal”, apesar de as principais cidades portuguesas não serem propícias para a trotinete, porque temos muitos declives”. “Não só as cidades têm apostado mais em ciclovias, cada vez mais para este tipo de utilização, como já existe o entendimento dos consumidores de que podem complementar a viagem de forma mais inteligente”, justifica Tiago Flores.

Se durante algum tempo os equipamentos da empresa eram maioritariamente comprados online, a Xiaomi tem apostado também em lojas físicas. Neste momento, há 18 unidades em Portugal, através do parceiro Select Smart, mas a Xiaomi quer “terminar o ano com 19”. Questionado sobre os planos para as lojas, Tiago Flores diz que a expansão é para continuar, mas “que nos próximos anos vai ser muito mais pontual e cirúrgica.” “Até porque já estamos nas ilhas, e temos Portugal continental de norte a sul coberto. Temos já os Açores e vamos abrir em breve na Madeira”, detalha. A incerteza económica não deverá trazer alterações de maior aos planos, que já “estão definidos”, diz Tiago Flores.

Dobráveis da Xiaomi em Portugal? “Estamos a aguardar”

Esta quarta-feira, a empresa revelou novos produtos para o mercado europeu, que deixam à vista esta estratégia de não fazer chegar ao consumidor apenas os telefones. Além de smartphones – apresentou o 12T e o 12T Pro, onde a câmara de 200 megapíxeis no modelo Pro é um ponto de destaque – também revelou aspiradores robóticos, televisores e auriculares sem fios.

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Tiago Flores diz que as expectativas de vendas dos novos topo de gama são “muito positivas”. “Esta gama já nos mostrou no passado que conseguimos diferenciar-nos da concorrência, porque tipicamente estamos a antecipar tecnologia que só chegaria no próximo ano.”

O que tem ficado de fora da lista de produtos no mercado europeu são os equipamentos dobráveis – que na China já vai no segundo modelo, com o Xiaomi Fold 2. “Lançámos o segundo foldable na China [no verão], um equipamento que traz também a parceria que foi anunciada com a Leica”, contextualiza o responsável da operação portuguesa. “Por uma questão de estratégia e de maturidade da própria tecnologia dos foldables, a nível de produção e de capacidade de produção global, foi decidido que neste momento apenas continuava disponível para o mercado doméstico [China]”, explica. “Estamos com expectativas de, no próximo ano, conseguirmos trazer mais categorias, não só de equipamentos que não sejam smartphones, mas também de telefones que são só lançados no mercado doméstico e ainda não vêm para a Europa. Estamos a aguardar.”

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E essa lista de produtos poderá incluir também os computadores? “Sim, claramente”, diz Tiago Flores. “Lançámos este ano um computador híbrido, com plataforma Microsoft, o Book S, uma plataforma de ultramobilidade, que se posiciona nos 799 euros”, recorda. “Lançámos este ano e provavelmente no próximo ano vamos poder apresentar, tal como alguns países na Europa já o fazem, os computadores tradicionais.”