O príncipe Alberto I do Mónaco elegeu o mar profundo dos Açores como laboratório natural, o que permitiu um conhecimento científico “sem paralelo”, deixando “um lastro de informação científica extremamente relevante e atual”, recordou à Lusa um investigador.
“No fundo os Açores eram um jardim de águas profundas para o príncipe”, explicou Filipe Porteiro, da universidade dos Açores, recordando o avô de Alberto II do Mónaco, que realiza uma visita a Portugal, com passagem por Ponta Delgada, nos Açores, e por Lisboa, na quinta e na sexta-feira, para assinalar o ano do centenário da morte do Príncipe Alberto I do Mónaco.
Entre 1885 e 1915 o príncipe Alberto I do Mónaco comandou 29 campanhas oceanográficas em quatro navios, 13 das quais feitas nos Açores.
Segundo Filipe Porteiro, investigador do Instituto de Investigação em Ciências do Mar – OKEANOS, o mar dos Açores foi a região de eleição para os trabalhos do avô de Alberto II.
As viagens decorreram ao longo de 30 anos, e “o mar das ilhas foi estudado vezes sem conta, por todos os seus navios”, contou Filipe Porteiro.
“O príncipe veio aqui de forma regular e sistemática. E a equipa dele, constituída pelos melhores cientistas da época, investigou tudo, em profundidade, desde os cetáceos, as caravelas portuguesas, até aos corais, esponjas, passando pelos peixes mais exóticos do oceano profundo”, descreveu.
Para o investigador, o príncipe criou “um lastro de informação científica, extremamente relevante e muito atual”.
“Hoje, muita da nossa investigação assenta também no conhecimento produzido por ele e pela sua equipa”, acrescentou o investigador da academia açoriana, destacando que o príncipe fez nos Açores inúmeras “descobertas”, cuja “dimensão” só recentemente se percebeu.
Segundo o investigador, em 1915 Alberto I do Mónaco fez a sua última campanha oceanográfica, uma pequena viagem limitada ao Mediterrâneo.
A I Guerra Mundial impossibilitou-o de prosseguir, referiu Filipe Porteiro, autor de publicações sobre a importância das campanhas oceanográficas do príncipe Alberto I do Mónaco para o conhecimento do Mar dos Açores.
Numa das campanhas oceanográficas realizada aos Açores, o príncipe monegasco descobriu, em 1896, a sudoeste das ilhas do Faial e do Pico, o banco Princesa Alice.
Trata-se, segundo Filipe Porteiro, “o maior banco de pesca dos Açores”, uma descoberta reconhecida de grande importância por oferecer novos recursos pesqueiros à frota açoriana, e reconhecida pelo rei D. Carlos.
Nos mares dos Açores, o príncipe localizou também em 1902, entre as ilhas Terceira e S. Miguel, a fossa do Hirondelle, com a profundidade máxima de 3.200 metros.
“O príncipe teve quatro navios ao seu serviço. Foi sempre melhorando a sua frota, até em termos tecnológicos, o que permitia aceder a fundos de cinco mil metros de profundidade”, explicou Filipe Porteiro.
Além de pioneiro na exploração do oceano profundo, os Açores foram também “o local de eleição” na questão da meteorologia.
Segundo Filipe Porteiro, o coronel Afonso Chaves foi o principal colaborador, além de amigo do príncipe.
Com o apoio científico do príncipe, Afonso Chaves criou um Serviço de Meteorologia na Região.
“Era uma pessoa multifacetada e com uma empatia muito grande”, realçou Filipe Porteiro, salientando que tinha nos Açores “muitos amigos”, tendo incluído na sua equipa açorianos.
Uma ligação aos Açores que “ainda perdura”, já que o professor Ricardo Serrão Santos é, por exemplo, o vice-presidente do comité científico do Instituto Oceanográfico do Mónaco, acrescentou.
O Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores possui uma base de dados com a informação zoológica publicada nos resultados das campanhas do príncipe.
Alberto II em visita a Portugal esta semana
Na quinta-feira, Alberto II vai ser recebido pelo presidente da Câmara de Ponta Delgada na Praça Gonçalo Velho Cabral e, acompanhado do presidente do Governo Regional açoriano, José Manuel Bolieiro, visita, no Museu Carlos Machado, a exposição temporária “Albert I – Príncipe do Atlântico / O Príncipe Albert I de Mónaco e os Açores”, antes de uma reunião com o chefe do executivo.
Na sexta-feira, em Lisboa, no Museu da Marinha, o monarca participa na inauguração de uma exposição de homenagem aos laços entre o príncipe Alberto I do Mónaco (1848-1922) e o rei D. Carlos I de Portugal (1863-1908).
A mostra, intitulada “O amigo oceanógrafo Alberto I do Mónaco e Portugal 1873-1920”, é organizada pelo Comité «Albert Ier – 2022», propondo um percurso inédito dedicado aos laços entre o monarca monegasco e Portugal.