Ministros da Saúde e representantes de nove países africanos concordaram neste dia em Kampala em adotar medidas conjuntas para impedir a possível propagação do surto de Ébola no Uganda para além das suas fronteiras.
O risco de que o vírus no Uganda – da variante Sudão, para o qual não há vacina – se espalhar para os países vizinhos é “alto” devido aos movimentos por motivos comerciais, sociais e culturais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na reunião participaram os ministros da Saúde e representantes de governos do Burundi, Libéria, Quénia, República Democrática do Congo (RDCongo), Ruanda, Serra Leoa, Sudão do Sul, Tanzânia e Uganda.
As medidas adotadas incluem a vigilância de doenças, rastreamento de contactos, notificação de alerta precoce, partilha de informações e formação conjunta de equipas de resposta a emergências, bem como exercícios de simulação para melhorar a preparação e a resposta a um surto.
“O Uganda tem experiência na gestão de epidemias e desde o início deste surto de Ébola, com o apoio dos nossos parceiros, tomamos medidas para limitar a transmissão da doença”, disse a ministra da Saúde de Uganda, Jane Ruth Aceng.
Por seu lado, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que participou por videoconferência, disse que “o foco principal agora é controlar e conter rapidamente o surto de Ébola e proteger as regiões e países vizinhos”.
Tedros disse que “várias vacinas estão em vários estágios de desenvolvimento” para a variante sudanesa e algumas serão testadas em “ensaios clínicos” no Uganda nas próximas semanas, embora estejam “pendentes de aprovação regulatória” das autoridades ugandesas.
Ao contrário da variante zairense, registada em epidemias na vizinha RDCongo, ainda não há vacina aprovada para a variante sudanesa, que é menos transmissível e menos letal.
O diretor interino do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), Ahmed Ogwell, afirmou que África, “como continente, deve trabalhar em conjunto para planear, preparar e responder ao surto de Ébola”.
Oqwell lamentou que “quando uma crise de saúde pública é grande, África está sozinha” e “quando um surto mais pequeno afeta apenas países africanos, como o Ébola, a febre de Lassa ou o vírus dos macacos, África continua sozinha”.
Por isso, o diretor interino valorizou a importância da obtenção de “recursos locais” para combater as crises sanitárias.
De acordo com os mais recentes dados oficiais, o surto no Uganda tem 54 casos confirmados, incluindo 19 mortes, e 20 prováveis de pessoas que morreram antes que os testes pudessem ser realizados para confirmar se estavam contagiadas.
O Uganda declarou um surto de Ébola em 20 de setembro depois de confirmar um caso no distrito de Mubende (centro), onde um homem de 24 anos morreu da doença.
Países como Quénia, RDongo, Tanzânia, Ruanda e Somália estão em alerta para evitar uma possível propagação do vírus.
Descoberto em 1976 na RDCongo – então denominado Zaire -, o Ébola é uma doença grave, muitas vezes fatal, que afeta humanos e outros primatas e é transmitida pelo contacto direto com o sangue e fluidos corporais de pessoas ou animais infetados.
Causa hemorragias intensas e os seus primeiros sintomas são febre alta repentina, fraqueza severa e dores musculares, de cabeça e de garganta, além de vómitos.
O vírus devastou vários países da África Ocidental de 2014 a 2016, quando 11.300 pessoas morreram e houve mais de 28.500 casos.