O Tribunal da Relação deu razão a um pedido da defesa de Manuel Pinho, antigo ministro da Economia que é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, que requeria a revogação da apreensão da sua pensão de reforma, de cerca de 30 mil euros, decretada no âmbito do processo EDP. A notícia foi avançada pela SIC Notícias, tendo sido entretanto confirmada pelo Observador.

Além de voltar a receber a pensão em questão, os valores da pensão de reforma que Manuel Pinho não recebeu enquanto esta esteve apreendida ser-lhe-ão também pagos.

No acórdão de deliberação do Tribunal da Relação, a que o Observador teve acesso e cujo relator é João Abrunhosa, lê-se que “não consta no despacho recorrido a referência a que a pensão de reforma aqui em causa resulte do pacto corruptivo indiciado, pelo que, neste parte, não pode deixar de proceder o recurso”.

Nestes termos e nos mais de direito aplicáveis, julgamos parcialmente provido o recurso e, consequentemente, revogamos o despacho recorrido, na parte em que decreta a apreensão da pensão de reforma do Recorrente“, lê-se ainda.

Manuel Pinho está atualmente em prisão domiciliária, a aguardar pelo desenrolar da investigação iniciada há perto de uma década.

No recurso, a defesa de Manuel Pinho alegava que “a pensão de reforma que o Arguido recebe não tem qualquer ligação, nem direta, nem indireta, nem próxima, nem remota, com os crimes que lhe são imputados nestes autos, nem com quaisquer outros”.

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Pinho estava “limitado ao salário mínimo vezes três”, lembra advogado

O advogado do antigo ministro da Economia (entre 2005 e 2009), Ricardo Sá Fernandes, explicou em declarações à Rádio Observador o que motivou o recurso apresentado e a decisão agora tomada pela Relação: “Efetivamente esta pensão de reforma corresponde a um direito do dr. Manuel Pinho, garantido ainda antes de ele ir para o Governo. Era um pouco difícil que esta pensão de reforma pudesse decorrer de um pacto corruptivo” alegadamente feito mais tarde, quando Manuel Pinho estava já no Governo.

“Foi esse o ponto de vista que sustentámos e a Relação deu-nos razão”, considerou o advogado, acrescentando que Manuel Pinho “está em prisão domiciliária” e “estava limitado do ponto de vista dos seus rendimentos ao salário mínimo vezes três, salvo erro — o que o limitava, naturalmente, porque tem encargos significativos na sua vida e estava restringido a esse montante”.

Para o advogado, a possibilidade de “poder continuar a receber a pensão de reforma e ser-lhe devolvido o que entretanto foi apreendido é uma medida que naturalmente é muito importante” para o antigo governante.

Mulher de Manuel Pinho com decisão contrária

A defesa de Alexandra Pinho também pediu a revogação das apreensões a que foi sujeita – imóveis e saldos das contas bancárias – mas a reposta do relator Vieira Landim foi diferente da do seu colega do Tribunal da Relação de Lisboa, que deliberou sobre o antigo ministro da Economia.

No acórdão a que o Observador teve acesso, o relator explica que mantém a decisão devido à “facilidade com que a recorrente poderia dissipar o seu património”, um perigo reforçado pelo facto de “os arguidos terem alegado não terem meios para pagar as cauções fixadas, postura que é legítimo esperar que se volte a repetir em relação a indemnizações que vierem”.

*Notícia atualizada às 20h48 de 14 de outubro com informação sobre a ação apresentada pela defesa de Alexandra Pinho