As famílias portuguesas consumiram 2,7 mil milhões de euros em Cultura em 2020, o que representa uma quebra de 20,4% face a 2019, refletindo o impacto da pandemia da covid-19, revelou esta quinta-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
O INE divulgou os dados estatísticos da Conta Satélite da Cultura referentes a 2018-2020, sublinhando que “a contração das atividades culturais em 2020” esteve ligada “à queda do consumo de produtos culturais pelas famílias”, devido às restrições impostas por causa da pandemia.
Segundo o INE, tanto em 2018 como em 2019, a Cultura representou 2,6% do total do consumo das famílias, tendo esse valor descido para 2,2% em 2020, refletindo ainda uma perda de rendimento dos portugueses.
“Pela natureza dos bens e serviços culturais, a procura tende a ser bastante sensível à evolução dos rendimentos das famílias. Em 2020, observou-se uma redução nominal de 1,1% do rendimento disponível bruto das famílias, ampliando-se assim o efeito recessivo do encerramento de estabelecimentos dedicados às atividades culturais por razões de proteção da saúde pública”, sustentou o INE.
A título de exemplo, comparando com 2019, o INE indica que em 2020 o consumo das famílias de “serviços criativos, artísticos e de espetáculo” teve uma quebra de quase 79%, e o consumo de serviços de bibliotecas, arquivos e museus registou uma redução superior a 70%.
A Conta Satélite da Cultura apresenta indicadores sobre consumos das famílias, sobre exportações, importações e o Valor Acrescentado Bruto (VAB) das atividades culturais na economia no triénio 2018-2020, ressalvando que apenas tem informações detalhadas sobre 2018 e “projeções de agregados macroeconómicos” para os restantes anos.
Tendo dados mais detalhados de consumos culturais apenas de 2018, o INE indica que onde as famílias portuguesas mais gastaram foi em livros, designados “serviços de edição” (22,6%), em produtos informáticos, eletrónicos e óticos (22,4%), como televisores e telemóveis, e em serviços de telecomunicações (18%).
Sobre o valor da produção de bens e serviços de Cultura em relação ao total da economia portuguesa (VAB), o INE calcula que, em 2020, por cada 100 euros de VAB gerados na economia, cerca de 2,3 euros corresponderam a atividades culturais.
Ou seja, o VAB da Cultura foi de 3,9 mil milhões de euros em 2020, representando 2,3% dos 174.768 milhões de euros da economia nacional.
Este valor significa uma ligeira quebra face a 2018 e 2019, anos em que o VAB da Cultura foi de 2,4% face ao total da economia.
No entanto, se se comparar apenas o VAB da Cultura entre 2019 e 2020, a quebra é de 10,6%, descendo de 4,4 mil milhões de euros para 3,9 mil milhões de euros. Esta redução deve-se a “um maior impacto” da pandemia da covid-19 nas atividades culturais do que na economia nacional.
Sendo 2018 o ano de referência da Conta Satélite de Cultura, o INE contabilizou 133.636 empregos “em equivalente a tempo completo”, num total de 80.650 unidades de atividade económica, que se divide em áreas como o Património Cultural, as Artes de Espetáculos, as Artes Visuais ou Livros e Publicações.
Aqueles 133.636 empregos representavam, em 2018, 2,8% do total de emprego da economia portuguesa, sendo que a remuneração média nas atividades da Cultura foi de 22.700 euros anuais, ou seja, foi superior em 1,8% à remuneração média do conjunto da economia.
O INE alerta que dos 133.636 empregos contabilizados, 17,4% diziam respeito a trabalhadores por conta própria, com particular incidência nas Artes do Espetáculo, Arquitetura e Artes Visuais.
Sobre as 80.650 unidades de atividade económica na área da Cultura, o INE especifica que predominaram as Artes do Espetáculo (25.076), como a música, a dança e o teatro, seguindo-se as Artes Visuais (10.617) e a área Interdisciplinar (14.874).
As três atividades económicas de menor expressão foram as das Bibliotecas (45 unidades), dos Arquivos (68), e do Património Cultural (1.028).
As áreas metropolitanas de Lisboa (32.352) e do Porto (13.667) concentravam em 2018 mais de metade (57,1%) da atividade económica cultural. As regiões do Alto Tâmega (370 unidades económicas) e do Alentejo Litoral (505) apresentaram a mais baixa representatividade de atividade económica na Cultura em 2018.
Em 2018, as exportações de bens e serviços culturais foram de 414 milhões de euros, representando 0,5% do total das exportações. As importações ascenderam a quase 1.521 milhões de euros, correspondendo a 1,7% do total.
Isto significa que “o saldo do comércio externo de produtos culturais foi negativo em mais de 1.100 milhões de euros, contrariamente ao que se observou na economia, com saldo positivo de quase 950 milhões de euros”, refere o INE.
De entre todos os dados estatísticos na área da Cultura, o INE dá ainda destaque à contribuição para o audiovisual, que é paga pelos portugueses juntamente com fatura de eletricidade e que se destina a financiar o serviço público de radiodifusão e de televisão.
Segundo o INE, aquela contribuição foi de 179,4 milhões de euros em 2018, 180,9 milhões de euros em 2019 e 181,4 milhões de euros em 2020.
As estatísticas anteriores da Conta Satélite da Cultura são de 2010-2012.