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Rafa, a cara de uma mudança de mentalidade que começou na cabeça de Roger (a crónica do FC Porto-Benfica)

Este artigo tem mais de 2 anos

FC Porto começou melhor, Benfica assumiu o controlo depois da expulsão de Eustáquio e Rafa fez o golo decisivo. No fim, encarnados venceram dragões graças à mudança de mentalidade imposta por Schmidt.

O avançado português fez o único golo da partida já na segunda parte
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O avançado português fez o único golo da partida já na segunda parte

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

O avançado português fez o único golo da partida já na segunda parte

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Um Clássico, um dos jogos mais importantes do futebol português, é sempre importante. Porque é o confronto entre dois pretensos candidatos ao título, porque conjuga as maiores rivalidades da Primeira Liga e porque é dia de casa cheia em Alvalade, na Luz ou no Dragão. Acima disso tudo, um Clássico torna-se particularmente relevante quando implica uma luta pela liderança — e quando a diferença entre as duas equipas não é maior do que três pontos.

Esta sexta-feira, no Dragão, essas condições estavam reunidas. O FC Porto recebia o Benfica com menos três pontos do que os encarnados e a corrida pela liderança do Campeonato disputava-se ao longo de 90 minutos. Com a quebra do Sp. Braga nas últimas jornadas e com o Sporting a nove pontos do primeiro lugar, as equipas de Sérgio Conceição e Roger Schmidt são atualmente as favoritas ao estatuto de campeão nacional. Um estatuto cuja primeira provação era precisamente o Clássico da 10.ª jornada.

Ficha de jogo

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FC Porto-Benfica, 0-1

10.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)

FC Porto: Diogo Costa, Pepê, Fábio Cardoso (Rodrigo Conceição, 89′), David Carmo, Zaidu (Wendell, 78′), Otávio, Stephen Eustáquio, Uribe, Galeno (Toni Martínez, 78′), Evanilson (Gabriel Veron, 67′), Taremi

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Marcano, Grujic, Danny Loader, Bruno Costa

Treinador: Sérgio Conceição

Benfica: Vlachodimos, Alexander Bah (Gilberto, 45′), Otamendi, António Silva, Grimaldo, Florentino, Fredrik Aursnes, Rafa (Ristic, 90+4′), Enzo Fernández (Draxler, 45′, Musa, 63′), João Mário (David Neres, 45′), Gonçalo Ramos

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Diogo Gonçalves, John Brooks, João Victor

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Rafa (72′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a João Mário (6′), a Alexander Bah (11′), a Stephen Eustáquio (24′ e 27′), a Enzo Fernández (37′), a Cláudio Ramos (43′), a Fredrik Aursnes (45′), a David Neres (61′), a Fábio Cardoso (64′), a Taremi (74′), a Grimaldo (80′); cartão vermelho por acumulação a Stephen Eustáquio (27′)

Na antevisão, o treinador do FC Porto elogiou o adversário. “Ainda não perderam em jogos oficiais, têm uma equipa que me parece completa no sentido de interpretar bem todos os momentos do jogo. É uma equipa diferente quando não tem a bola, relativamente ao passado recente, sempre com a mesma capacidade de chegar ao último terço e criar situações. Individualmente, sabem que é uma equipa recheada de bons valores, assim como nós”, atirou Sérgio Conceição.

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Na mesma antevisão, o treinador do Benfica não escondia a posição de conforto dos encarnados. “Claro que é sempre melhor estar três pontos à frente e, com este confronto direto, caso alcancemos a vitória, ficaremos com seis pontos de avanço. É uma oportunidade clara para nós, no sentido de melhorar a nossa posição na Liga, mas estamos na 10.ª jornada e ainda nem chegámos a um terço da temporada. Não é decisivo mas queremos estar concentrados no jogo, mostrar a nossa qualidade, realizar um bom jogo e ganhar”, explicou Roger Schmidt.

O resumo era simples: o FC Porto precisava de ganhar para igualar o Benfica e subscrever a melhor fase da temporada até agora, enquanto que o Benfica precisava de ganhar para se distanciar do FC Porto e ser ainda mais líder isolado, aproveitando a boleia de não vencer os dragões há nove jogos. Assim, neste contexto, Conceição surpreendia e colocava Pepê de início na direita da defesa — uma posição que o brasileiro costuma assumir apenas na segunda parte dos jogos mas que, desta feita, era opção inicial até face à ausência de João Mário. No ataque, Galeno fazia companhia a Taremi e Evanilson. Do outro lado, Roger Schmidt já contava com David Neres no banco de suplentes mas mantinha a titularidade de Aursnes no meio-campo, apostando em Bah no corredor direito defensivo.

O jogo começou com alta intensidade, com Otamendi a desviar por cima depois de um canto (2′) e Fábio Cardoso a falhar também o alvo na sequência de uma recarga (4′) ainda dentro dos cinco minutos iniciais. Uribe ficou muito perto de abrir o marcador com um cabeceamento que passou ao lado (9′) após um lance de enorme insistência dos dragões e o FC Porto acabaria por capitalizar essa superioridade ao longo dos primeiros 15 minutos. A equipa de Sérgio Conceição pressionava alto, obrigando o Benfica a tomar decisões repentinas e a perder muitas bolas na fase inicial de construção, deixando o adversário muito integrado no meio-campo contrário e com possibilidade de ficar em superioridade no último terço.

Taremi teve uma das melhores oportunidades da primeira parte neste período, com um cabeceamento após cruzamento de Zaidu que Vlachodimos defendeu de forma brilhante (15′), e só a partir daí é que o Benfica conseguiu soltar-se e aliviar a pressão adversária. Rafa também ficou perto de marcar, cabeceando à figura de Diogo Costa na sequência de um bom movimento de Grimaldo na esquerda (23′), e o jogo foi ficando progressivamente mais intenso e agressivo, com muitas faltas e alguma ansiedade nos bancos de suplentes. Uma aceleração progressiva que, à chegada à meia-hora, acabou por causar estragos.

Stephen Eustáquio fez duas faltas duras no espaço de três minutos, ambas sobre Bah, e viu dois cartões amarelos e o consequente vermelho, deixando o FC Porto reduzido a 10 elementos ainda numa fase muito embrionária da partida. Sérgio Conceição chegou a lançar Bruno Costa para o aquecimento, uma decisão que rapidamente foi revertida, e os dragões passaram a atuar em 4x4x1 com Taremi à direita e Otávio no meio perto de Uribe. O Benfica assumiu um natural ascendente na partida depois de ficar com superioridade numérica, com Aursnes e Rafa a acertarem ambos na trave no mesmo lance (36′), e o FC Porto foi empurrando a partida para o intervalo com um sacrifício e esforço defensivo notáveis.

No fim da primeira parte, o jogo estava totalmente em aberto, até pela ausência de golos no resultado, mas o Benfica tinha o expectável favoritismo por estar a jogar com mais um elemento. O FC Porto teria de se adaptar, algo que não chegou a precisar de fazer nos últimos minutos do primeiro tempo, e na segunda parte antecipava-se um confronto de titãs entre o futebol ofensivo encarnado e os contra-ataques letais dos dragões.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do FC Porto-Benfica:]

Roger Schmidt não esperou e trocou três peças ao intervalo, trocando Enzo, Bah e João Mário por Draxler, Gilberto e Neres — ou seja, retirando de campo três jogadores que tinham cartão amarelo. A partida demorou a acelerar, com o Benfica a demonstrar um ascendente natural que se verificava essencialmente na posse de bola e não tanto nas oportunidades, e o FC Porto ia procurando o acerto defensivo para depois explorar as transições rápidas. Nesta fase, a melhor ocasião de golo foi mesmo um remate de Rafa, na grande área e com a parte de fora do pé, que Diogo Costa desviou para canto (59′).

Draxler saiu com problemas físicos já depois da hora de jogo, tendo sido substituído por Musa, e Sérgio Conceição mexeu pela primeira vez na partida ao trocar um esgotado Evanilson por Gabriel Veron, que esteve em bom plano contra o Anadia na Taça de Portugal. Até que, a menos de 20 minutos do fim, o quase inevitável acabou por acontecer: Rafa acelerou descaído na esquerda, abriu em Neres e o brasileiro devolveu ao português, que numa zona mais recuada da grande área atirou para abrir o marcador (72′). João Pinheiro começou por anular o lance, por alegado fora de jogo de Neres, mas o VAR indicou que o brasileiro estava em posição legal.

Sérgio Conceição reagiu à desvantagem com uma dupla alteração, lançando Toni Martínez e Wendell, e os dragões ainda esboçaram uma reação que nunca chegou a ter consequências práticas. Gabriel Veron ainda teve um remate cruzado que passou ao lado (87′) mas o FC Porto pouco ou nada conseguiu fazer a não ser a natural presença no último terço que deixava o Benfica algo inquieto numa altura em que a equipa de Roger Schmidt só queria segurar a vantagem.

No fim, o Benfica venceu o FC Porto no Dragão pela primeira vez desde 2019, manteve a invencibilidade e ficou com seis pontos de vantagem na liderança da Primeira Liga. Num dia com muitos cartões amarelos e com uma expulsão ainda dentro da primeira meia-hora, Rafa acabou por fazer a diferença ao criar e converter o golo que se tornou decisivo. Mas Rafa, dentro de campo, é apenas a cara de uma mudança de paradigma que é cada vez mais notória no Benfica e que começou na cabeça de Roger Schmidt: uma mudança de mentalidade, um crescimento de confiança e a recordação da dignidade. Este Benfica, ao contrário de tantos outros ao longo do tempo, já não vai derrotado no momento em que cruza o Rio Douro. E regressa vitorioso.

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