O presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), que termina o mandato este ano, diz, em entrevista à Lusa, que o pipeline de investimento em 2022 é de “10 mil milhões” de euros.
“O meu grande objetivo era fazer este ciclo de investimento importante que começou em 2014 e terminou no ano passado”, afirma Luís Castro Henriques, que está há nove anos na agência e quase há seis na presidência.
Conseguiu-se “trabalhar a notoriedade de Portugal, a competitividade” e agora “teremos próximos desafios muito grandes para a próxima década e que são de outra natureza”, refere.
Questionado sobre qual o pipeline de investimento este ano, Luís Castro Henriques diz serem “10 mil milhões” de euros.
“Só para dar um número: em 2014 este pipeline era de 1.000 milhões de euros”, mas “cuidado — e eu digo sempre isto porque nós anunciamos sempre no final do ano os resultados contratualizados — estamos a falar do universo de oportunidades de investimento e este primeiro dado é muito relevante para perceber que, de repente, ou melhor, fruto deste trabalho ao longo destes anos, Portugal consegue ter acesso a muito mais projetos de investimento, há muito mais procura por Portugal do que existia há uns anos”.
De acordo com o responsável, isto é “fruto de um trabalho muito segmentado em termos de captação de investimento”.
Outro dado “relevante” – o último ano recorde na angariação de novos clientes para Portugal foi em 2021 – e “em outubro de 2022 já batemos esse recorde, já angariámos 42 novos clientes para Portugal”.
Se formos comparar com 2014, “isto é três vezes mais do que se angariava em 2014 e, portanto, não só é fundamental aumentar o universo de oportunidades de investimento em Portugal, que é o que estamos a fazer, tendo um ‘pipeline’ maior, mas também a nossa taxa de conversão é três vezes superior”, prossegue o presidente da AICEP.
Em suma, “conseguimos trazer três vezes mais clientes por ano”, diz.
“Há ainda um dado dentro deste que eu gostaria de destacar, porque acho que é muito interessante que tudo o que aconteceu na angariação dos serviços, porque nós falamos muito sempre da contratualização, que são sobretudo projetos industriais ou projetos de investigação e desenvolvimento”, salienta.
“Em 2014 angariávamos cerca de quatro centros de serviços por ano. Em 2022, em outubro, já vamos em 30”, aponta, referindo que o que “é mais interessante ver” é que a preponderância destes centros de serviços é a de desenvolvimento de ‘software’, centros de competências altamente complexas que são todas desenvolvidas e processadas a partir de Portugal e que depois têm um resultado também na própria balança exportadora de serviços, explica.
Por exemplo, a exportação de serviços TIC (tecnologias) ultrapassou os 2.000 milhões em 2020, e em 2021 foram ultrapassados os 3.000 milhões.
“Este é um setor que está a crescer imenso, hoje em dia já representa mais de 70.000 postos de trabalho, mas só em desenvolvimento de ‘software’ e competências tecnológicas já representa mais de 40.000 postos de trabalho e, portanto, é muito interessante para o desenvolvimento do país, é muito interessante para as oportunidades, para os jovens terem boas oportunidades de crescimento, essencialmente tecnológico”, e que tem “um impacto enorme na economia”, refere.
Questionado sobre quanto espera captar até final do ano, Luís Castro Henriques afirma: “Neste momento estamos satisfeitos já por ter ultrapassado recorde, mas (…) é expectável que até ao final do ano ainda tenhamos mais, vá lá, uma mão cheia, pelo menos”.
A origem dos investimentos tem-se diversificado muito ao longo do tempo, primeiro dentro Europa, sendo que os três principais mercados de captação continuam a ser a Alemanha, França e Espanha.
“O que aconteceu nos últimos cinco anos, mesmo até durante a pandemia, foi que conseguimos claramente aumentar imenso nos Estados Unidos e também começar a diversificar noutros polos da Europa, no Reino Unido, na Bélgica, na Suíça e também na Itália”, uma “tendência a manter”, uma vez que, sobretudo, os resultados dos Estados Unidos “são interessantíssimos” e, juntando os serviços, são “avassaladores”.
Também em termos industriais “conseguimos alguma diversificação relevante no Extremo Oriente, nomeadamente no Japão e na Coreia”, acrescenta.
Questionado sobre qual foi o momento mais complexo na AICEP, o responsável destacou três, sendo que o primeiro foi quando entrou na agência: “A primeira reunião que eu tive fora de Portugal, estava em Inglaterra e a pessoa à minha frente tinha o Financial Times e a segunda notícia era ‘Portugal runs into trouble again’ e, portanto, vender Portugal em 2014 era particularmente complicado”.
Depois foi “mudar o ‘pitch’ que tínhamos em relação a Portugal (…) perceber que o talento é que era o nosso principal fator competitivo diferenciador”, o segundo aspeto foi a forma como se começou a fazer a angariação: é “completamente personalizada, segmentada, trabalhada previamente antes de entrarmos na porta de um novo investidor que não conhece Portugal”, conta.
O segundo grande desafio foi durante a pandemia, em que mesmo durante os primeiros três meses em que “estávamos fechados, mesmo assim fizemos sete angariações de novos clientes para Portugal, portanto percebemos que o nosso negócio não parava”, refere Luís Castro Henriques.
Depois, o “terceiro grande desafio” foi em 2021 e que se prolongou até este ano, com grandes eventos e campanhas, desde o “Maed in Portugal naturally”, passando pelo Hannover Messe, “que teve um impacto brutal na Alemanha” em termos de perceção do que é Portugal em 2022, e a Expo Dubai.
“Aumentámos claramente o universo de atividades que a AICEP faz e, sobretudo, aumentámos muito a escala dos eventos e das nossas campanhas”, salienta. Questionado sobre qual foi para si o momento alto, Luís Castro Henriques aponta “2021”.
O ano passado, “em termos de resultados de investimento, estamos a falar de termos contratualizado mais do dobro do recorde anterior, que era dois anos antes, portanto, foi o ano antes da pandemia, é claramente um momento alto”, admite.
“Estamos a falar de assinar mais de 2.700 milhões de euros de investimento e, portanto, isso eu creio que é um grande momento de concretização, porque quando olhamos para isso e vemos, sobretudo quando começamos a ver a comparar o PT 2020 com o QREN e vemos que quase que duplicámos o investimento anual a ser processado pela agência, vemos que mais do que duplicámos o apoio à internacionalização às empresas, criámos dezenas de milhares de postos de trabalho, seja nos serviços, seja na indústria, mantivemos centenas de milhares para este trabalho”, elenca.
“Foi de facto um ano em que fui muito feliz”, assume.
Portugal está “claramente no mapa global do investimento”
O presidente da AICEP afirma que Portugal está “claramente no mapa global do investimento”, numa entrevista à Lusa onde faz um balanço “positivo” dos 15 anos da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal.
“Acho que hoje em dia estamos claramente no mapa global do investimento”, sublinha Luís Castro Henriques, que está de saída da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) no final deste ano, após nove anos na agência e quase seis na presidência.
Dos 15 anos de existência da AICEP, o gestor faz um “balanço positivo”, com “muito impacto […] na economia portuguesa e na sociedade portuguesa, muito impacto nas empresas portuguesas”, sendo que “as empresas portuguesas também deram um contributo enorme, sobretudo ao nível da exportação”.
Em suma, “os resultados estão à vista”, aponta Luís Castro Henriques, referindo ainda o “impacto muito grande em termos de investimento, sobretudo na captação de investimento estrangeiro”.
Nestes 15 anos “a AICEP conseguiu pôr Portugal no mapa do investimento e os resultados estão à vista em termos de angariação de investimento”, enfatiza o presidente da AICEP. E o que é “ainda mais interesse”, prossegue, “é perceber que esses são investimentos de natureza exportadora”.
Portanto, “na prática estamos aqui a trazer um círculo virtuoso”, sublinha o presidente da agência, partilhando alguns números.
Em 15 anos, as exportações de bens passaram de “menos de 40 mil milhões para quase 70 mil milhões” de euros, dos quais “há mais de 13 mil milhões que podem ser relacionados diretamente com contratos de investimento tratados e angariados pela AICEP”, revela.
Neste período, houve “mais de 700 ações de formação que impactaram quase 30.000 empresas e a própria AICEP passou a ter “um perfil de cada vez mais quadros com mais habilitações”. O peso de quadros superiores com habilitações superiores passou de cerca de 60% para mais de 80%.
“Uma evolução com impacto, eu diria, na economia portuguesa, claramente a mexer o ponteiro da economia portuguesa”, salienta, referindo que este aumento das exportações e do investimento tem um “impacto enorme no PIB [Produto Interno Bruto]” e “um impacto muito grande na criação de postos de trabalho”.
Ou seja, “estamos a falar de mais de 50.000 postos de trabalho criados de raiz e centenas de milhares de postos de trabalho mantidos”, diz.
“Creio que o impacto da agência nos últimos 15 anos foi muito relevante e, naturalmente, hoje em dia nós falamos […] da economia portuguesa como uma pequena economia aberta. Agora, é muito interessante ver que esse grau de abertura aumentou imenso nestes últimos 15 anos e está diretamente relacionado com o trabalho que a agência tem feito”, sublinha Luís Castro Henriques.
Atualmente, a AICEP conta com mais de 50 delegações, depois da abertura recente da de Chicago, a terceira nos Estados Unidos. “E ainda vamos ter mais duas delegações abertas até ao final do ano”, nos países nórdicos, uma em Oslo e outra em Helsínquia. Portanto, “estamos a falar de acabar o ano com 53 delegações, mais de 60 mercados cobertos”, o que é “uma boa cobertura mundial”, considera.
“Temos tido uma experiência positiva com as exportações para os países nórdicos, mas acreditamos que de facto conseguimos aumentar quota de mercado muito significativamente e, portanto, temos trabalhado bastante a Suécia e Dinamarca com resultados positivos e acreditamos que conseguimos expandir esses resultados exatamente para a Finlândia e para a Noruega”, explica Luís Castro Henriques.
Para isso, é necessário “apoio local” e sob “a coordenação da delegação de Estocolmo vamos abrir estas novas duas delegações”, diz.